Dagoberto x Kléber

Dagoberto x Kléber.

Quem seria melhor para o Grêmio? Ou para o Inter? Os dois jogam na mesma função, são o tal segundo atacante, aquele que joga mais pelos lados encostando no centroavante. Os dois são mais ou menos como o Jonas.

Sem dúvida, qualquer um deles seria um ótimo reforço para 2012.

O Grêmio está negociando a vinda de Kléber, escanteado no Palmeiras por falar demais e jogar de menos. Kléber gosta de criar caso. Basta uma espiada em seu currículo. O mesmo currículo aponta, porém, que se trata de um grande atacante, goleador, assistente. Ele tem mais a cara do Grêmio, é guerreiro, vibrante.

Dagoberto, que está nos planos do Inter e até onde sei não nos planos do Grêmio, também faz gols (especialmente contra o Grêmio) e dá assistência. Não tem tanta garra, mas me parece mais técnico, mais inteligente.

Ambos estão com 28 anos. Ambos nasceram em… 1983 (vai uma gelada aí?).

Se eu pudesse escolher, ficaria com os dois. Se eu tivesse que escolher um deles… Seria um problema.

Mas acho que ficaria com Dagoberto. Não cria tanto caso nem dentro nem fora de campo. Contratar Dagoberto tem uma vantagem importante: impedir que ele marque gols pelo Inter em grenais. O atacante do SP, cujo contrato termina em abril de 2012, tem sido um carrasco gremista. Prefiro que ele jogue no meu time.

Agora, a informação mais recente é que Dagoberto prefere jogar no exterior. O Sevilla entrou na jogada, o que pode melar o negócio com o Inter.

E aí outro problema: o Inter também gosta do Kléber. Pode entrar na disputa.

O Palmeiras quer em troca o Douglas. Fecho agora. Paulo Pelaipe diz que não abre mão de Douglas. Ele não poderia dizer outra coisa neste momento, com o Brasileiro em andamento. Não vai desmobilizar o jogador. Está certo ele.

Outro aspecto: o custo dos dois é parecido. Dagoberto quer 5 milhões de reais na mão e salário de 500 mil. Kléber custa R$ 4,5 milhões (é o que o Palmeiras pede), mais salário de 400 mil, além das luvas, que eu não sei o valor, mas não deve ser pouca coisa.

O fato é que qualquer um deles seria um grande reforço para a dupla. Mas ainda sou mais o Dagoberto.

BRASILEIRÃO

Jogaço no Beira-Rio neste domingo. Se o Inter vencer o Corinthians pode entrar no G-5, e ainda vai aumentar sua esperança de brigar pelo título, algo muito difícil, mas não impossível.

É um jogo em que tudo pode acontecer. Os colorados seguem engasgados com o Timão.

Não fico em cima do muro: o Corinthians não vai perder. Tite é um grande treinador e saberá explorar os pontos vulneráveis do Inter.

Já o Grêmio pega o lanterna, em Minas. Jogo difícil. O América está morto, mas é um time desesperado, e aí tudo pode acontecer.

Mas acho que o Grêmio vence.

O circo de 180 milhões de palhaços

Numa guerra, a primeira vítima é a verdade. Nessa guerra não declarada entre o Beira-Rio em demolição parcial e a Arena em construção, há um tiroteio de informações, nem sempre confiáveis.

Por isso, é difícil saber com quem está a verdade, se é que existe apenas uma verdade. Ou se tudo não passa de uma grande mentira. É difícil.

O presidente Giovani Luigi, um sujeito afável e sério, que conheço há muitos anos, está sob fogo cruzado. Por isso, se defende como pode, inclusive apelando para inverdades.

Em sua entrevista de hoje, horas depois de confirmada a decisão da Fifa de alijar Porto Alegre da Copa das Confederações, Luigi afirmou que esse torneio nunca foi o objetivo do Inter, e sim a Copa do Mundo, e é para ela que o clube se programou.

Essa afirmação não me soou bem. Eu tinha como certo que o Beira-Rio estava comprometido com as duas competições, mas fiquei em dúvida depois de ouvir o presidente colorado – que, a bem da verdade, virou refém da empreiteira, conforme afirmou o ex-Vitório Piffero – tentando justificar o injustificável.

Fui socorrido pelo twitter do @fabriciocpovo, o repórter que mais sabe das coisas do Inter. Ele postou no final da tarde que o Inter ao assinar o caderno de encargos da Fifa comprometeu-se a ter o Beira-Rio pronto também para a Copa das Confederações.

O Inter, segundo a Fifa, que parece ter mais poderes que a ONU, não honrou o compromisso firmado.

Não tenho dúvida de que o Inter queimou seu filme com os velhinhos sapecas, e espertos, da Fifa. Eles poderiam esperar mais um pouco.

A retirada da Copa das Confederações foi um recado. A Fifa botou pressão no Inter, e quem vai ganhar com isso é a tal empreiteira, que agora vai firmar o contrato que quiser, a não ser que Luigi e seus companheiros de diretoria queiram correr o risco de perder também a Copa do Mundo.

Quem também fez uma pressãozinha foi o astuto presidente da CBF, que, segundo o presidente da FGF, Noveletto, já cogita em defender a Arena gremista como sede dos cinco jogos do mundial que virão para Porto Alegre.

Para mim, é tudo jogada para acelerar uma decisão do Inter, favorecendo a Andrade Gutierrez. Daqui a pouco o Inter estará comprometendo uma série de receitas, assim como o Grêmio já comprometeu.

Agora, se perder a Copa, o clube deixará de receber os mais de 60 milhões de reais de isenção fiscal concedidos generosamente pelo governo federal aos estádios da Copa, comprometendo a reforma do Beira-Rio.

Essa grana toda – assim como as fortunas que estão sendo aplicadas pela União em outras obras – poderia ser destinada à saúde, por exemplo, mas vai para esse imenso circo que está sendo montado e que vai enriquecer muita gente, principalmente os donos de empreiteiras, que vão rir muito de180 milhões de palhaços.

A grama do vizinho

A grama do vizinho é mais verde. É sempre mais verde. É a frase que me ocorre quando leio que o Inter deve fechar contrato nos próximos dias com Dagoberto, o ‘segundo-atacante’ dos sonhos de boa parte de torcedores gremistas e colorados.

Ao que se sabe, o Grêmio não está movendo uma palha por esse talentoso atacante, que não vai continuar no São Paulo.

Há uma espécie de leilão por Dagoberto. O Inter, ao que tudo indica, deu o lance mais alto. Um pré-contrato já estaria alinhavado.

O Inter quer porque quer o Dagoberto. E tem motivos de sobra para isso. O principal é que Dagoberto, independente de ser um jogador rápido, habilidoso e inteligente, parece ter nascido para fazer gols no Grêmio.

É claro que os dirigentes colorados levam isso em consideração. Dagoberto é o complemento ideal para um centroavante como Damião, sem dúvida, mas o fato de ele se dar bem contra o Grêmio está pesando.

Fosse eu dirigente gremista faria o possível e o impossível para melar esse negócio. Eu entraria no leilão. Faria uma bela proposta. Por exemplo, ofereceria o que o Grêmio paga hoje para prestar assistência médica ao Gabriel. Pelo que dizem algo em torno de 400 mil reais. Há informações de que seriam 450 mil, soma semelhante estaria sendo paga para o zagueiro Rodolfo.

Dagoberto ganha hoje a metade desse valor. Sim, Dagoberto, goleador, qualidade na assistência, ganha menos do que muitos medalhões que vicejam na grama do Olímpico.

Ah, com o ‘passe’ na mão, Dagoberto quer luvas, e luvas generosas. Será que os 2,5 milhões de dólares pagos por Miralles seriam suficientes?

Alguém já disse que somos o resultado de nossas escolhas. O Grêmio é o resultado das escolhas, das decisões, tomadas por seus dirigentes nesses anos todos.

É tudo uma questão de dar valor a quem possui valor. Jogador caro é aquele que não dá resposta à altura do que nele é aplicado.

No Olímpico, existem muitos jogadores caros.

PLANEJAMENTO

Ainda dentro do planejamento para 2012, o Inter está acertando a contratação do zagueiro Manuel, aproveitando a penúria do Atlético Paranaense que deve mesmo cair. Manuel, 21 anos, um zagueiraço.

Então, o planejamento que não vejo no Grêmio, é visível no Inter, e isso há vários anos. E os resultados estão aí.

Enquanto o Inter tenta um zagueiro para vestir a camisa e jogar, o Grêmio contrata um zagueiro desconhecido, Douglas Grolli, destaque da Chapecoense. É uma contratação barata, um investimento, uma aposta.

Não duvido que tenha jogador desse mesmo nível no time Junior, não duvido. Quero crer que estão olhando com carinho para a base. Mas não condeno que o clube faça esse tipo de investida eventualmente.

Só não entendo por que num negócio de custo tão pequeno (menos de 1 milhão de reais) seja necessária a presença de um empresário, que vai abocanhar um percentual (que não deve ser pequeno) sobre os direitos federativos.

O fato é que olho para o lado e confirmo: a grama do vizinho é mesmo mais verde. Até quando, até quando?

Importante é vencer

Estou em SP. Trato de assuntos da Winkbieer Corporation junto a Ambev. Mais não posso revelar.

Portanto, não vi os jogos do Brasileirão. Mas como sou analista de resultados, o importante é vencer. O resto é papo de bar, de programas esportivos e de blogs como este.

Grêmio venceu e consolidou seu lugar na faixa do décimo colocado, e é onde vai ficar.

Já o Inter ainda pode sonhar com o título. Mas só sonhar.

Bem, são 9 e meia da manhã aqui na capital paulista.

Vou tratar de outros interesses. Volto amanhã, se Deus quiser.

Ah, tem gente que não entendeu o que escrevi no comentário anterior, então eu reforço:

Não sou contra o planejamento, aliás isso está dito no texto, sou contra a falta de planejamento que vejo no Grêmio. Simples.

Então me poupem de chover no molhado e repetir que sem planejamento não se vai a lugar algum em nada na vida.

Planejamento estratégico e o chopp do Arthur

Paulo Moura, sempre um grande companheiro de cervejada no Arthur

A primeira vez que ouvi a expressão ‘planejamento estratégico’ foi eliminando copos de chopp (Brahma) no Bar Arthur, que ficava na avenida Alberto Bins, perto do túnel da Conceição. Lugar pequeno, chopp cremoso, gelado no ponto, salsicha bock com mostarda forte e pão preto.

Naquela noite, há uns oito anos, o Adalberto Preis abusou de repetir ‘planejamento estratégico’. Eu não conseguia entender o ‘estratégico’ sempre enrabichado no ‘planejamento’. A mim sempre foi muito claro que em tudo é preciso planejamento. E para ter planejamento, é fundamental definir aonde se quer chegar e como chegar.

O ‘estratégico’ me parecia um excesso, uma frescura mesmo. Mas saindo do Preis, um sujeito esclarecido, inteligente, tinha toda uma pompa, ainda mais depois de alguns chopps intercalados de steinhager. Fiquei realmente interessado.

Eu, Possas, Peruzzo e Campelo.

Grandes e longos debates foram ali travados, sempre com a presença de dirigentes e conselheiros do Grêmio e do Inter, principalmente do Grêmio. Invadia-se a madrugada naquele tempo sem lei seca e de fumo liberado, o que deixava o ambiente quase insuportável.

O Arthur, que remonta aos anos 50, fechou, mas quem o freqüentou, mesmo na fase final, não esquece. O Anonymos Gourmet coloca o bar entre os dez melhores de sua vida.

Mas vamos voltar a esse texto cometido sem ‘planejamento’, muito menos ‘estratégico’,  mais ou menos como o Grêmio. E aí começo a chegar ao ponto.

Entrei no site do Grêmio e confesso que fiquei surpreso, estupefato, perplexo e atônito, ao deparar com um tópico intitulado Planejamento Estratégico. Não ri porque ando desanimado até para rir. Li com atenção: o negócio existe desde 2003 no clube. Quer dizer, existe no papel, que aceita tudo, mas não de fato, na prática.

Fabrício Falkowski num flagrante raro, sem o copo na mão, ao lado do Possas

Prestem atenção no segundo parágrafo:

“Qual o nosso negócio? Para onde caminhamos, ou seja, no que vamos nos transformar se nada for modificado? O que gostaríamos de ser e alcançar? E o que é preciso fazer para que possamos alcançar as realizações pretendidas?”

Diante de tantos pontos de interrogação, fico com o segundo. Em que vamos nos transformar se nada for modificado?

Eu realmente não sei a resposta exata, mas posso imaginar e isso me preocupa, angustia, revolta.

Em oito anos do tal ‘planejamento estratégico’ eis aonde chegamos: quase no fundo do poço.

E segue o baile, digo, o texto:

“Atento às rápidas modificações do mercado do futebol mundial e à urgente necessidade de modernização de sua estrutura administrativa e gerencial, o Grêmio buscou responder estas e outras perguntas e passou, já a partir do ano de 2003, a trabalhar gradualmente na implementação de um modelo orientado por uma gestão estratégica que priorizasse tanto a profissionalização como o melhor aproveitamento das potencialidades e diferenciais do clube.”

É de rir, e de chorar.

Para finalizar, com fecho de ouro, essas preciosidades:

“NEGÓCIO:

Entretenimento sócio-esportivo focado no futebol.

MISSÃO:

Satisfazer o universo de torcedores e o público aficionado com vitórias e conquistas de títulos.

VISÃO:

Estar no primeiro nível do futebol mundial.”

Entra ano e passa ano, as direções do Grêmio se sucedem, oposição e situação se alternam no poder, e repetem tudo o que criticavam na gestão anterior, mostrando que, no Olímpico, ‘planejamento’ com ou sem o ‘estratégico’ atrelado não passa de uma expressão que se repete à exaustão à mesa de um bar entre um gole e outro de chopp tirado no capricho.

Sonhos e pesadelos

Quando o Figueira fez o segundo gol eu joguei a toalha. Não via a menor possibilidade de reagir, virar o jogo, com esse ataque que a direção gremista ousou montar para enfrentar duas competições tão difíceis, a Libertadores e o Brasileirão.

O Grêmio vai terminar o campeonato nessa faixa em torno do décimo lugar, conforme escrevi há uns 15 dias quando alguns delirantes sonhavam com Libertadores, e tinham como objetivo ainda passar à frente do Inter.

Não consigo esquecer o discurso que o presidente Paulo Ufanista Odone despejou após a vitória sobre o Santos, que era o verdadeiro Grêmio, um time com a cara de Grêmio, não aquele que vinha cambaleante sob o comando de Renato.

O castigo veio com duas derrotas seguidas. Uma dentro de casa contra o ‘poderoso’ Figueirense. Será que o comandante maior do clube ainda pensa que esse é o time com cara de Grêmio?

Não, esse time tem a cara do sr Odone e dos homens que assumiram o futebol com ele.

O técnico Celso Roth é tão culpado quanto o Renato. Na verdade, são mais vítimas, porque falta qualidade no Olímpico. Falta uma zaga confiável, mas falta acima de tudo atacantes de qualidade.

O Grêmio não tem um ataque titular que imponha respeito e que inspire confiança ao torcedor.

É verdade que o Grêmio estava relativamente bem no começo, mas não conseguiu converter as poucas chances criadas. O goleiro Wilson fez duas ou três belas defesas.

Aí, numa escapada, bola jogada na área, Ed Carlos perde uma disputa dentro da área por falta de agilidade e reflexo, gol do Figueira. Depois, Victor falha e o Figueira amplia. Fim de jogo.

Se o árbitro encerrasse ali pouparia sofrimento, angústia, desespero, raiva.

Roth até pode ter errado nas substituições. Mas o que pode fazer um treinador quando olha para o campo e vê André Lima. Olha para o banco e vê Diego Clementino e Miralles como alternativas para tentar uma virada?

Escudero não estava bem no jogo. Marquinhos estava melhor. Roth tirou o menos ruim naquele momento. Acho que ele deveria ter insistido mais uns 15 minutos com Escudero. Mas ele colocou Miralles, que pouco acrescentou. Depois, Clementino no lugar de Marquinhos, que havia caído de produção. Poderia ter sacado Douglas, mas Douglas ainda tem uns lampejos que podem mudar um jogo.

Gilberto Silva na zaga no lugar de Rafael Marques não alterou grande coisa. O time ganhou uma saída de bola qualificada, mas seguiu vazando. O terceiro gol foi em cima do veterano volante, driblado no mano a mano.

A meu ver, só se salvaram Mário Fernandes, Fernando e Júlio César.

Espero que ninguém mais fale em Libertadores.

Lembro que no ano passado, Renato assumiu com o time colado na zona de rebaixamento. Conseguiu subir até entrar no grupo da Libertadores. Com mais duas ou três rodadas, poderia até ser campeão.

Hoje, a situação é parecida. A diferença é se o campeonato tivesse umas rodadas a mais, haveria o perigo de rebaixamento. É assim que eu vejo: o Grêmio agora tende a descer.

INTER

Enquanto isso, o Inter se distancia. Se distancia do Grêmio e também do título, algo que a maioria dos colorados que conheço ainda acredita. No máximo, uma vaga na Libertadores. No máximo. Aparentemente, uma grande conquista, mas se trata de um prêmio de consolação para quem gasta R$ 6 milhões mensais com a folha de pagamento.

Mas é melhor do que ficar na sul-americana, que é o máximo que o Grêmio ainda pode conquistar.

O Inter ganharia alento se tivesse batido o São Paulo. Fez uma boa partida, mas ficou no empate. O resultado em si é bom se vier acompanhado de vitória no final de semana.

Aos menos os colorados ainda sonham com alguma coisa. Aos gremistas, restam apenas pesadelos.

Eu era feliz e não sabia

Carlos Miguel estava no programa do Reche, o Cadeira Cativa na Ulbra TV. Lá pelas tantas, começamos a falar de centroavante.

– O último centroavante goleador que o Grêmio formou foi Alcindo – disse eu.

O Miguel me olhou parecendo espantado, incrédulo. Lembrou do Jacques, que surgiu no auge de Jardel.

– Aí ficou difícil pra ele -, comentou o Miguel, que passou a elogiar o Jardel. Lembrou de uma brincadeira que eles faziam nos treinos a respeito da dificuldade que o Jardel tinha com os pés no trato com a bola, algo parecido com o que vemos hoje  em Brandão e André Lima. Se bem que o Jardel era melhor que esses dois também com a bola no chão.

– A gente dizia pro Jardel se deitar quando a bola vinha rasteira e mandar de cabeça, porque com os pés era complicado – riu o Miguel, que hoje lida com jogadores de 15 e 16 em parceria com o Dinho.

Viram? Dinho, Carlos Miguel, Jardel… O time multicampeão de parte da década de 90. O Reche ainda lembrou de todos os outros.

– Vamos parar com essa conversa, vamos mudar de assunto, se não eu começo a chorar – disparei, acrescentando:

– Eu era feliz e não sabia.

Naquele tempo eu trabalhava no CP. O gremismo só se manifestava na gozação com os colorados da redação. No mais, seriedade, isenção.

Ser isento ganhando tudo é fácil. Os colorados sofriam, sofriam como a gente agora. Agora, não, já são dez anos sem comemorar um título nacional.

Hoje, toda a mediocridade de um ano de erros é sepultada por uma vaga na Libertadores.

Um dia ainda teremos gremistas ou colorados lotando a Goethe pra comemorar vaga em Libertadores. Folha de pagamento superior a 5 milhões de reais por mês para ganhar vaga na Libertadores. Muitas vezes, como vai acontecer agora com o Grêmio e talvez com o Inter, nem isso. Sul-Americana e lambe os beiços.

Eu gostava mais do Brasileirão com a fase de mata-mata. Fazia renascer as esperanças.

Castigo e Renascimento

Minha intenção era esperar pelo vestiário do Grêmio antes de escrever. Estava curioso para ouvir o presidente Paulo Odone. Estava ansioso por outro discurso ufanista e ao mesmo tempo rançoso que ele despejou após a vitória sobre o Santos. Mas soube agora que ele não viajou com a delegação.

Escapou, portanto, de explicar a derrota para o Coritiba. Depois de três vitórias seguidas, o Grêmio voltou a perder. E assim vai ser até o fim do campeonato, onde o Grêmio já entrou morto, com todo o respeito.

Os 2 a 0 caem como um castigo sobre o arrogante presidente gremista, que cantou vitória antes do tempo e atacou o ex-treinador Renato.

Pois o que se viu em Curitiba foi mais ou menos o time que Renato tinha à sua disposição no primeiro semestre deste ano. Não faltou nem Diego Clementino.

Quando foi convidado a se retirar, Renato esperava pela volta de André Lima, vindo de longa lesão, e pela possibilidade de escalar Miralles. Os dois não são grandes coisas, mas seria alternativas para compor um ataque um pouco melhor naquele momento.

Como um castigo, os dois não puderam enfrentar o Coritiba. Como se não bastasse, Brandão se lesionou e aí o que se viu foi praticamente o mesmo Grêmio que Renato teve, um Grêmio sem atacantes.

O sr. Odone se precipitou ao cantar marra e a dizer que agora sim, com Roth e com Pelaipe, o Grêmio tinha a cara de Grêmio, reduzindo a pó o trabalho dos dirigentes de futebol que foram afastados e também o de Renato.

E, castigo supremo para o presidente, Roth entrou em campo não com três volantes como faria nos velhos tempos. Não, Roth imitou Renato ao começar a partida com Clementino, sinalizando que iria para cima, como realmente foi. E o time até que estava bem, chegando na área do Coritiba, mas aí perdeu Brandão.

Por falta de alternativas no banco, colocou Adilson, deixando Clementino e Escudero. Lógico que com esses dois na frente, municiados por Adilson, FR e Fernando, o gol seria quase impossível. Depois, entrou o jovem Mamute, que sumiu perdido entre os zagueiros, entre eles, o ótimo Émerson.

Pois é, o Grêmio que perdeu é o Grêmio que Renato tinha para escalar, com a desvantagem não ter o excelente Júlio César.

Parece castigo aos fanfarrões e vendedores de ilusão.

Roth já fez a sua parte, evitou o rebaixamento. Agora é só cumprir a tabela.

Por falar em treinador, Marcelo Oliveira é um fenômeno. Com esse time fraco de individualidades, foi vice campeão da Copa do Brasil, perdendo para o Vasco na final, e faz boa campanha no Brasileiro.

Sugeri esse treinador ao Grêmio após a saída de Renato. O sr. Odone preferiu Julinho Camargo – fato que ele omitiu em deu desabafo acusatório com delírios de grandeza.

INTER

Ao golear o Vasco por 3 a 0, o Inter contrariou a todos (eu inclusive) que prognosticaram que o time sem Leandro Damião cairia muito e se afastaria do G-5. O Inter renasceu campeonato.

Não há dúvida de que Damião faz falta, mas o técnico colorado manteve o time equilibrado e tratou de encontrar alternativas para chegar ao gol. É preciso salientar, porém, que a sorte ajudou dessa vez. A começar com o gol de D’Alessandro, um chute com o pé direito que o goleiro saltava para defender. Aí, apareceu uma chuteira no meio do caminho e a bola foi parar no ângulo. Os outros gols foram consequência da vantagem e do desespero do Vasco em buscar o empate.

Teve um pênalti do João Paulo (este guri promete, é muito talentoso) ali pelos 20 minutos do segundo tempo que o juiz ignorou.

A vitória fez justiça ao Inter, que conseguiu conter o Vasco, que faz excelente campanha no Brasileiro. O time está na briga por vaga na Libertadores.

E agora vê o Grêmio mais distante pelo retrovisor.

Cautela e caldo de galinha…

Percebo um clima de ufanismo no Olímpico para esse jogo contra o Coritiba. Mais ou menos como o que antecedeu aos 4 a 0 diante do Vasco.

O presidente Odone deu um discurso completamente desnecessário e inoportuno, a exemplo do que havia feito Roth após vencer o São Paulo.

Quer dizer, basta vencer dois ou três jogos, subir um pouco na tabela, para que uns e outros comecem a calçar salto alto, rir à toa como se estivesse na iminência de uma grande conquista.

Por trás do discurso de ataque ao Renato e louvação de Roth, está a seguinte mensagem: viram como eu sou bom, mudei na hora certa, mesmo contrariando a vontade da maior parte da torcida? Eu sou o cara!

É o que o presidente tentou transmitir. Ele só esqueceu de mencionar que ao demitir Renato ele trouxe um técnico noviço, o Julinho Camargo, com bom trabalho nas categorias de base, mas sem experiência que o credenciasse a assumir num grande clube, ainda mais em meio a uma crise técnica.

Quando Julinho foi contratado eu fui um dos poucos que criticou a iniciativa da direção. Hoje, todos que na época defenderam a opção por Julinho, criticam o sr Odone pela contratação.  Celso Roth estava desempregado.

Quer dizer, a convicção de que Roth seria a solução não era tão sólida como se tenta passar agora em meio ao crescimento do time no campeonato.

Se for para comparar, Renato pegou o time em pior situação na tabela e o levou a disputar a Libertadores, e não tenho dúvida de que com mais 3 ou 4 rodadas o Grêmio assumiria a liderança. Com a vaga conquistada, o que fez a direção comandada pelo sr Odone? Armou um time mambembe. E isso não pode ser esquecido. Nunca.

O que me preocupa é, portanto, esse clima de que algo foi conquistado. Não, o Grêmio apenas subiu na tabela e se aproximou do G-5.

Até pode entrar nesse grupo da Libertadores, porque tudo é possível no futebol. Mas a lógica indica que o Grêmio vai ficar mais ou menos onde está.

Até poderia subir mais não fosse esse entusiasmo juvenil que acomete o comando do clube e que ameaça contaminar o grupo de jogadores.

Contra o Coritiba, jogo de alto risco, seria prudente uma postura mais humilde, mais modesta e mais respeitosa. O Coritiba tem um time muito entrosado e organizado. Em seu estádio, é quase imbatível.

Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.

Ah, leio que Roth estaria indeciso entre Gilberto Silva e Adilson para o lugar de Douglas. É óbvio que Roth vai começar com G. Costa, adiantando um pouco Fernando.

Entre um medalhão e um prata da casa, sempre o medalhão, esta é a lógica dos treinadores.

Sir Celso Roth e o Bafo na nuca

Brandão devolveu as vaias que lhe foram despejadas como estrume num treino da semana com três pontos. Graças ao gol de Brandão, o Grêmio venceu o Santos em jogo atrasado e encostou no grupo de cima. Bafo na nuca do Inter, que, se continuar facilitando, vai ficar para trás. É apenas um ponto a diferença.

Continuo sem acreditar em vaga na Libertadores de 2012. O importante é que de um time desesperado, à beira do rebaixamento, o Grêmio sob o comando de Sir Celso Roth (sim, de Professor, passou a Sir) faz neste momento uma campanha digna. Ainda aquém do se espera, mas digna.

Por que promovo Roth a Sir? Pelo seguinte: no primeiro tempo do jogo desta noite no Olímpico, o Grêmio chegou várias vezes com perigo, mas permitiu muitas chances de gol ao Santos. Contabilizo ao menos três em que algum jogador do Santos ficou na cara de Victor. Um deles foi o Pigmeu, que recebeu a bola limpa, rolando mansamente, e, diante da figura imponente de Victor, tremeu como vara de marmelo, resvalou e bateu na ‘orelha’ da bola, que saiu feliz  para fora. Questão de ordem: só faltou alguém dar na orelha do Pigmeu.

Por falar em Pigmeu, fosse ele o atacante do Grêmio e não Brandão no lance do gol, a bola alçada com categoria por Marquinhos teria resvalado no teto da cabeça do pequeno atacante. Por isso, é bom um camisa 9 com tamanho de camisa 9. É claro, não precisa ser um camisa 9 tão limitado tecnicamente, mas é o que a casa oferece para o momento.

As alternativas são André Lima (sem comentário) e Miralles. O argentino continua mostrando apenas que é tão guerreiro quanto Herrera. Vou dar um desconto: ele entra com pouco tempo pra jogar, entra ansioso para mostrar serviço, e aí se afoba, não faz as melhores escolhas. Agora, aquele lance no final do jogo em que ele recebe de cabeça do Douglas pela meia esquerda, só tem um zagueiro pela frente, na risca da grande, foi bisonho. Ele escolheu mal. poderia ter dominado e tentado o drible, mas preferiu arriscar um chute lotérico, mandando a bola na arquibancada. Repito: pode ser ansiedade. Mas pode ser também outra coisa.

Alguém pode imaginar que sou fã de Brandão. É óbvio que não. Sou fã do Jonas, do Nilmar, e mais ainda do Damião. Brandão tem sido mais útil que André Lima.  Mas não esperem dele nada mais do que ele tem mostrado. É um jogador dependente. Tem dificuldades para controlar a bola. Teve um lance em que ele entrou livre, tentou driblar o goleiro, quando poderia ter chutado antes, e perdeu a bola com extrema facilidade. Mas Roth, Sri Roth,  faz a leitura certa: Brandão está dando uma resposta um pouco melhor do que André Lima.

O futebol nos ensina a cada dia que não existe nada definitivo. Tem gente que vai morrer dizendo que Roth é burro, mau técnico. Tem gente que jamais admite que as pessoas podem melhorar, assim como podem piorar. Não sei o que vai acontecer amanhã (quem souber por favor me preencha um jogo da megasena que está acumulada), mas hoje o técnico faz um trabalho excelente.

Sobre os jogadores: Fernando de novo foi excepcional. FR um líder, um guerreiro, um maestro, tudo isso num mesmo jogador, e ainda há quem não goste dele. Escudero. Que partida! Eu critiquei muito esse argentino, mas hoje admito que errei na minha avaliação. Escudero fez uma partida formidável, mesclando garra, com técnica, com criatividade, e tudo isso com velocidade.

Bem, mas voltando ao Sir Celso Juarez Roth: ele viu os problemas do time e os corrigiu para o segundo tempo. O time melhorou a marcação, Ibson ficou sem liberdade para organizar o Santos, e Victor quase não foi ameaçado. Ofensivamente, o Grêmio continuou agredindo, mas por falta de maior qualidade, como sempre, deixou de ampliar a vantagem. Faltou qualidade no último passe e também nas conclusões. O que não faltou foi um time muito bem armado por Sir Roth.