O choro de Souza e a virada do incansável Pará

A vontade, a determinação, a obsessão pela posse de bola e uma indignação poucas vezes vista diante do resultado adverso é que levaram o Grêmio a vencer o Santos.

Mais uma vez o Grêmio foi um marcador implacável, com seus jogadores – todos eles, com exceção de Dida – pareciam cães famintos disputando um pedaço de carne.

No primeiro tempo, o Santos quase não conseguiu respirar. Mesmo assim, deu algumas estocadas perigosas, todas puxadas por Montillo, que costuma jogar o que nunca joga exatamente contra o Grêmio. Sua lesão ainda no primeiro tempo foi muito importante para a vitória. Não tenho dúvida disso.

O Grêmio pouco criou. O goleiro Aranha, a exemplo dos goleiros que enfrentaram o Grêmio, quase não trabalhou. Não lembro de nenhuma defesa difícil dele, sinalizando que o sistema ofensivo do time cria pouco, apesar do volume de jogo, do domínio de meio de campo e da presença constante nas proximidades da área adversária. Agora, é importante frisar a eficiência da defesa santista nesta noite na Arena.

Assim, com um meio campo forte e competitivo, mas nada criativo, foi preciso muita insistência e o elemento surpresa para furar o bloqueio do Santos.

No segundo tempo, com o placar imóvel no 0 a 0 e os minutos voando, nada parecia indicar que o gol sairia.

Foi então que Souza – tão criticado por alguns – descolou-se da grande área defensiva e foi, imbuído de indignação diante do resultado desfavorável, foi ao ataque. Encontrou Barcos e continuou correndo na esperança de uma bola que poderia lhe ser jogada dentro da área.

Barcos avançou sobre seu marcador e rolou para trás, onde encontrou Souza, que, premiado por acreditar, mandou a bola para a rede. O volante gremista chorou ainda antes de ser envolvido pelos companheiros.

– Chorei de alegria. Fiquei um tempo afastado por lesão, estava fora do time e agora estou voltando. O gol veio em boa hora para o time -, contou Souza, que vinha sendo alvo de críticas constantes de uma parcela da torcida.

Depois o do gol, o Santos abriu-se mais. Renato ainda esperou um pouco para sacar um volante, Riveros, e colocar Maxi Lopez. O uruguaio entrou muito mal. No primeiro lance, foi obrigado a interromper um contra-ataque e levou o amarelo. Seguiram-se minutos de um desempenho preocupante. Cheguei a pensar que talvez Biteco fosse a melhor opção, mas é fácil pensar assim depois de ver o uruguaio fracassando. O Santos cresceu. Foram dez minutos tensos.

Aos poucos, o Grêmio reassumiu o controle do jogo. Maxi passou a aparecer bem na frente, mas ainda sem brilho. Até que Pará fez a jogada pela direita, tocou para Maxi, que meteu com perfeição para o lateral cruzar rasteiro e encontrar outro elemento surpresa na área santista. Werley, sem marcação, dominou e chutou com precisão no canto direito de Aranha.

Um pouco antes, eu questionava – e acho que muitos fizeram isso -, porque Renato não saca um zagueiro e coloca outro atacante? Werley foi o atacante na hora certa.

Foi uma grande vitória sobre um adversário aplicado, retrancado, mas sempre muito perigoso nos contra-ataques.

Uma vitória que fez lembrar o Grêmio dos anos 90, um Grêmio que ganhava muitas vezes pela insistência, pela perseverança.

O time inteiro foi bem, mas eu destaco alguém que sempre critiquei duramente e que venho elogiando nos últimos jogos: Pará. Renato, que fez Gabriel – entre outros – jogar em 2010, repete a dose com Pará, hoje um jogador mais confiante, mais seguro de si, que ousa e agora acerta.

Pará o melhor do Grêmio nessa vitória que classifica o Grêmio na Copa do Brasil.

Mais um mérito de São Portaluppi.

A peneira colorada

Quando ouço e leio gente pedindo que o Renato arme um time mais ofensivo, olho para os lados da beira do rio.

Enquanto o Grêmio segue firme no grupo de cima principalmente porque tem um sistema defensivo sólido e confiável, o Inter – e a comparação é inevitável – tem uma defesa que parece uma peneira. Vaza contra time forte, contra time médio e também contra time fraco.

A defesa colorada levou tantos gols quanto o lanterna do campeonato, o mesmo Náutico que aplicou 3 a 0 no Inter, inaugurando uma série de seis jogos sem vitória do time comandado por Dunga, que permanece preservado pela crítica esportiva.

Fosse o Renato com tantos jogos sem vitória, não tenho a menor dúvida de que estariam cantando, debochadamente, ‘Celso Roth vem aí”.

Penso que esse grande sucesso musical precisa voltar as paradas imediatamente.

Dunga, que tem história marcada como jogador de defesa, de marcação, está fracassando na tentativa de armar uma defesa consistente.

Neste empate contra o Goiás, obtido com muita luta, porque o time estava levando 3 a 1 dentro de casa, mais uma vez o ataque salvou a pátria. Uma derrota talvez resultasse em críticas, nada muito importante, claro, porque a paciência que se tem com Dunga não é a mesma dedicada a Renato, nem mesmo por parte de boa parte dos gremistas.

O campo encharcado não explica. O campo estava ruim para os dois. O Goiás também tem jogadores de muito boa técnica, a começar por Walter. Fico imaginando o que ele não teria feito num gramado seco.

Grêmio vence e cala secadores do esquema de Renato

Cheguei a temer que o Grêmio ficasse um pouco abalado pela derrota contra o Santos. Afinal, é um time em formação e ainda não estabilizado técnica e emocionalmente.

Mas o Grêmio do técnico Renato Portaluppi segue surpreendendo os seus críticos, da mídia ou fora dela. Bateu o Flamengo por 1 a 0 e se mantém na ponta de cima.

Depois do advento do esquema com 3 zagueiros e 3 volantes, que tanto irrita e inquieta aqueles que acreditam no que está escrito no papel e desprezam o que acontece em campo – sim, são os teóricos, aqueles que não aceitam que um prático licenciado, como o Renato na visão deles, venha dar lições de estratégia em seus pares mais experientes, como o adorado e festejado ‘salve, salve’, Mano Menezes -, esta foi a vitória com menos gols.

E o gol foi de Pará, algo inimaginável para aqueles que firmam um conceito e não mudam de pensamento nem diante dos fatos. E quais são os fatos?

A verdade, a doce verdade para quem quer o melhor para o Grêmio, é que Pará está crescendo. Como todo o time, Pará está ganhando confiança, acreditando mais em si mesmo. Tenho destacado a evolução de Pará desde o Gre-Nal. Tenho escrito isso. A cada jogo ele mostra que tem qualidades além daquela de ser um guerreiro, um abnegado, participativo.

No jogo anterior, contra o Santos, ele acertou uma bola na trave em bela jogada individual. Hoje, um gol de falta ao melhor estilo Elano. Acho até que o goleiro vacilou, mas o que importa é que foi gol e que Pará está desabrochando. Mais um crédito para Renato.

Sei que aqueles que são mais arrogantes, orgulhosos, que não tem humildade para mudar de opinião mesmo diante de fatos, vão insistir em meter pau no Renato. Ou vão silenciar agora à espera de uma derrota, que, inevitavelmente, irá acontecer, até porque não se vence sempre, ainda mais numa competição em que as equipes são muito parelhas e os jogos se decidem nos detalhes.

Eu também gostaria de ver o Grêmio dando show, mas isso não acontecia nem no tempo de Felipão, ou já esqueceram de vitórias extraídas a fórceps?

Gostei do comentarista da SportTV, nem sei o nome dele, mas ele em poucas palavras disse o que os comentaristas gaudérios não conseguem admitir, nem reconhecer, muito mais por preconceito em relação a Renato e ao time gremista, do que por ignorância futebolística.

Segundo o comentarista, que não é da aldeia, por supuesto, o Grêmio tem 3 volantes, mas todos eles chegam à frente com velocidade e alguma qualidade, e além disso tem dois laterais que se somam rapidamente ao ataque, onde estão Barcos e Kleber, ambos de bela atuação mais uma vez, apesar dos gols perdidos pelo argentino.

Então, resumindo: o Grêmio com esse esquema – realista e pragmático – não deixa de ser ofensivo. Com a vantagem de dificilmente levar gol, assim como o Corinthians, meu favorito ao título agora ao lado do Cruzeiro.

Invasão legalizada de espaço público

O Inter já tomou posse oficial de alguns hectares no entorno do Beira-Rio, além de tudo o que havia ganho; avançou sobre o leito do Guaíba; e agora se lança despudoradamente sobre a via pública com a reforma de seu estádio.

A subserviência do poder público é tanta que no trecho em que a cobertura do estádio avança mais a avenida será desviada em quase dois metros.

Nada ilegal, tudo abençoado e legitimado pelas autoridades.

Um pouco de história.

Em 1997, conquistei o segundo lugar no prêmio ARI – merecia o primeiro pela relevância do tema, já que mexia com o patrimônio da cidade – com uma série de matérias sobre o avanço da dupla Gre-Nal sobre áreas públicas.

Descobri, na época, que a prefeitura de Porto Alegre havia se debruçado sobre o assunto. Quem estava no comando da operação era o vice-prefeito José Fortunati.

No dia 13  de janeiro de 97, o Correio do Povo abriu a contracapa com a reportagem, por mim assinada,  com o título:

Prefeitura investiga dupla Gre-Nal.

Resumo: havia dois pontos irregulares no Olímpico. Um na área onde ficavam as piscinas e outro na rótula do Papa. Coisa de algumas dezenas de metros quadrados. Uma migalha perto do prato abundante servido ao Inter.

Declaração de Fortunati, mostrando documentos:

“O Inter recebeu, em duas doações, um total de 14 hectares. Hoje, ocupa 31 hectares, comprovadamente”.

A prefeitura pretendia negociar com o Inter o aproveitamento de pelo menos 4 hectares dos 17 hectares a mais que o clube havia tomado, segundo Fortunati na época, do espaço público.

A ideia era instalar ali um ‘hotel e um centro de compras’.

O que está sendo feito hoje pelo Inter, que há alguns anos foi agraciado pela prefeitura, com aval dos nobres vereadores, com a doação de toda a área.

Tempos depois da minha reportagem, a prefeitura mandou tratores para derrubar um muro que o Inter havia erguido sobre área considerada pública. Um dirigente, já falecido, foi para o local e impediu a ação dos operários do município.

E ficou por isso mesmo. O assunto morreu e só ressuscitou mais de uma década depois com a posse definitiva de toda a área, um espaço nobre que a cidade cedeu para um clube de futebol, sem protesto, sem choro nem vela.

Quando se imaginava que a invasão de área pública terminaria aí, eis que vem agora esse avanço que irá atingir 200 metros da via pública.

Penso que os shoppings da região, com esse precedente monstruoso – o jornal Zero Hora publicou matéria neste sábado tentando caracterizar o fato como algo positivo porque se trata de “uma integração inédita da cidade com um estádio de futebol” –  poderiam reivindicar o mesmo benefício.

Depois de ler a ZH, quase comemorei essa “conquista” para a cidade e seus cidadãos, que terão o “privilégio” de caminhar sob a magnífica estrutura do estádio.

Bem, vamos aguardar qual será a nova conquista territorial do Inter.

A sorte que andou sobrando agora faltou

Assim como venceu jogos que poderia ter perdido ou empatado nessa série de 9 pontos seguidos no Brasileiro, o Grêmio acabou perdendo um jogo que, se tivesse vencido, não teria nada de injustiça.

A Vila Belmiro, decididamente, não faz muito bem ao Grêmio. Só pode ser uma energia negativa que impediu os gols de Kleber e de Barcos no começo do segundo tempo. Um gol naquele momento perturbaria esse time novo do Santos, que tenta se acostumar sem Neymar. Não é fácil.

O Grêmio, por momentos, chegou a ter o controle do jogo. O único que realmente incomodava era Montillo. O Kleber fazia o mesmo em relação à defesa do Santos.

Gostei da postura do Grêmio. Enfrentar o Santos na Vila, onde não perde há quase 30 anos, não é fácil para ninguém.

A derrota foi uma injustiça. O empate ficaria de bom tamanho.

Com o 1 a 0, gol do jovem Gabriel, que em poucos minutos mostrou que tem muito futuro, o Santos complica a vida gremista na Copa do Brasil.

Depois da eliminação da Libertadores, eu escrevi que os esforços deveriam ser concentrados nesta competição, não no Brasileiro. Força total na Copa do Brasil. A sorte que andou sobrando recentemente, faltou nesta noite.

Agora, pelo que vi do Santos, que não terá Edu Dracena, penso que dá para se classificar. Desde, claro, que chances como as desperdiçadas por Kleber, Barcos e Souza sejam melhor aproveitadas.

ZÉ ROBERTO

Interessante a reportagem pós-derrota. Bastou uma derrota para todos lembrarem que Zé Roberto existe. Zé Roberto, como sabemos, está lesionado. Mas isso não impediu que se perguntasse quem vai sair ou se muda o esquema quando ele voltar.

Quer dizer, bastou uma derrota para que se lembrassem de Zé Roberto, que, só na cabeça de neófitos, é reserva desse time de esforçados que Renato conseguiu organizar.

Em caso de outra derrota (toc-toc-toc), já perguntarão pelo Elano e não faltará alguém para dizer que está tudo errado.

Aliás, já tem gente criticando o esquema de 3 volantes, 3 zagueiros. É evidente que essa foi a maneira que Renato encontrou para dar equilíbrio e consistência ao time, e que com a volta de Zé Roberto e Elano as coisas vão mudar. Ou alguém acredita que Ramiro tem bola para deixar deixar Elano ou Zé Roberto no banco?

Olha, eu até tentaria Ramiro na lateral-direita, embora, ao meu ver, Pará tem melhorado bastante de rendimento. Quem olhar despido de preconceito verá essa é uma realidade.

BITECO

Guilherme tem me decepcionado. Mas é culpa minha. Eu pensei que ele fosse um jogador de drible fácil como o Carlos Eduardo ou o Anderson. Mas não. Guilherme hoje em dois lances ficou de frente para a marcação, tentou o drible e perdeu a bola. Guilherme, que me chamou a atenção há dois anos e até comentei aqui, não é tudo o que parecia ser.

Meu olho clínico precisa urgente de uma avaliação com um oftalmologista.

Já o Matheus me parece estar num nível acima do mano mais velho.

A IVI do RW

O titular da cornetadorw estava eufórico hoje à tarde. São cerca de 2 mil votos para escalar a seleção da dita imprensa colorada.

RW me disse que tem um time completo com vários reservas. Não posso acreditar que haja tantos colorados na midia.

Os torcedores se enganam facilmente. Para uns, tal jornalista é gremista; para outros, o mesmo jornalista, é colorado. E isso mostra o quanto o sujeito é isento. Ou não?

Bem, não importa. A seleção será divulgada em breve.

O RW me revelou em primeira mão quem é o capitão do time. O cara venceu disparado.

Vou manter o mistério.

Vou sortear uma 1983 e um copo entre os que escreverem pra mim e acertarem.

É só uma chance para cada um. Valendo…

Dunga: 'Mais sorvete, menos vagem'

Começo com uma confissão: eu mesmo cheguei a pensar que Renato havia sido um técnico ofensivista em sua primeira passagem pelo Grêmio, e que agora, seria mais um da escola rothiana de futebol, inclusive, segundo alguns, superando o mestre.

Admito que aquele Grêmio vitorioso do segundo semestre de 2010 me fazia sentir numa montanha russa quando Renato jogava o time todo para o ataque e consagrava o glorioso Clementino.

De tanto ver o Clementino levantar a torcida, cometo a ousadia de prever um futuro coruscante – gostaram dessa? – para o lateral Pará. Sim, eu, que nunca cansei de jogar sobre os ombros de Pará a responsabilidade pelas mazelas do time, venho agora afirmar que Pará está melhorando gradativamente sob o comando de Renato.

No programa Cadeira Cativa, na Ulbra TV, segunda-feira, eu cheguei a dizer que Renato é milagreiro. É o São Portaluppi. Vou providenciar um abaixo-assinado pedindo a canonização de Renato se Pará repetir Clementino. Bem, se ele conseguiu dar vigor e vontade para Gabriel…

O time de Renato, em 2010, tinha praticamente três volantes, como agora. Fábio Rochemback, Adilson e Lúcio, um lateral-esquerdo de origem. Magrão entrava seguido, quando não estava lesionado. Mais adiantado Douglas, Na frente, Jonas e André Lima.

A diferença no time atual é que ‘Douglas’ foi substituído por um zagueiro. Em compensação, os dois laterais viraram alas e estão evoluindo tecnicamente no quesito ofensivo.

Quer dizer, Renato não virou defensivista. Ele está apenas utilizando da melhor forma o material humano que possui.

Não duvido que ele acabe sacando um zagueiro para colocar Zé Roberto, ou até Elano, tornando aí o seu time mais parecido com o de três anos atrás.

Enfim, deixando bem claro: Renato sabe das coisas.

DUNGA

Marcius Melhem. Alguém sabe de quem se trata? Eu só descobri ontem à noite quando recebi um vídeo em que esse cidadão passa uma descompostura em Dunga durante um programa de TV.

Concordo com quase tudo o que Marcius falou, motivado pelo lance infeliz do técnico colorado ao abordar de formal hostil, agressiva, qual um pitbull furioso, um jovem gandula – que também agia incorretamente.

Marcius, vocês todos já sabem e creio que somente em função desse episódio, se trata de um humorista da TV Globo.

Ele falou que o esporte é acima de tudo uma coisa que envolve alegria, prazer, satisfação, e que deve ser praticado com gosto. E que Dunga demonstra o oposto, sem carrancudo, até quando comemora um gol. Dunga parece estar sempre com raiva.

Nas entrevistas, essa raiva aparece na maioria das vezes. Pior é quando ele insinua coisas, como aquela de que um repórter estaria ganhando ‘presentinho’ por defender este ou aquele jogador no time.

Agora, fora isso, Dunga me parece um treinador de qualidade. Um pouco ortodoxo e conservador, mas eficiente.

O humorista foi infeliz demais ao pedir o banimento de Dunga do futebol. Fora isso, suas ponderações deveriam ser avaliadas por Dunga com calma. Inclusive quando Marcius comentou que Dunga poderia sofrer um infarto de tão estressado.

Mas Dunga não parece disposto a considerar nada disso. Sua resposta ao crítico foi exagerada, agressiva. ‘Cada palhaço em seu picadeiro’, foi um excesso. Até porque fazer rir é uma arte, um dom quase divino.

Dunga precisa relaxar mais.

Eu, se fosse ele, “… Tomaria mais sorvete e comeria menos vagem. Talvez tivesse mais problemas concretos, mas teria menos problemas imaginários….”, como diz aquele texto atribuído e Jorge Luís Borges.

Já o humorista deveria ficar na área onde ele se dá melhor: fazendo a gente rir.

Deixem o homem trabalhar e os milagres de Victor

Finalmente, uma vitória com o time jogando bem. Os 3 a 2 sobre o Vasco mostraram um Grêmio mais tranquilo, mais confiante e seguro de si.

E como se percebe isso? Simples. Em vários lances os jogadores ousaram mais, tentaram o drible e por vezes conseguiram – como aquele do Kleber que deixou o zagueiro sentado e todo retorcido junto à lateral do campo. Houve quem se sentisse no direito de dar uma enfeitada de leve. Bom sinal.

Nas duas vitórias anteriores – sim, incrível, o treinador Renato, que ‘nada conhece de tática’, segundo alguns neófitos metidos à besta e por certo saudosos de Autuori -, o que vimos foi um time tenso, o que se percebia claramente nos closes da TV no rosto de cada um.

Ontem, em São Januário, onde o Grêmio não vencia há 20 anos, eu percebi que alguns jogadores jogavam mais soltos, até com alegria.

Vejam o Guilherme Biteco. O pai dele  – touro procriados e jogadores nobres – havia cobrado do filho, ‘por que tu não dá umas pedaladas?’.

Porque claramente Guilherme não se sentia confiante. Ontem, na primeira bola que recebeu pela direita, foi pra cima da zaga e arriscou o drible. Perdeu a bola. Mas ele não se encolheu. Minutos depois, pela esquerda, passou fácil pelo marcador com um drible desconcertante.

É evidente há algumas coisas a ajustar. Renato segue privilegiando a marcação, o sistema defensivo, para só depois buscar o gol. Está muito certo o Renato. Ninguém melhor do que ele para avaliar o time que tem em mãos.

Se Renato vai de três zagueiro e três volantes, é porque entende que esse é o esquema ideal para o momento.

O problema é que mesmo com tanto cuidado defensivo, o Grêmio levou dois gols. Ambos com bola alta na área. O primeiro, Alex Telles foi infeliz e mandou para a rede. No segundo, os grandalhões da zaga perderam a disputa pelo e a bola sobrou para André, livre e em posição duvidosa, cabecear e descontar. Então, é preciso entrosar melhor os zagueiros.

Dos três, o melhor foi Werley, que salvou o time em duas ou três situações difíceis. Rodolpho também fez bom jogo. Gabriel, que começou um jogo depois de longo tempo, correspondeu, mandando a bola para o mato sem ter medo de ser feliz.

No meio de campo, destaque para o Pequeno Grande Volante. Ramiro cruzou a bola para o primeiro gol, com Barcos fazendo com muita categoria. Destaque para Cris, que chegou atrasado e deixou a bola passar para o argentino concluir.

Como é bom ver o Cris jogando no outro time!

Depois, o PGV fez um golaço. Se ele erra estaria sendo xingado até agora, porque Pará entrava livre pela direita. Acho que Ramiro arriscou porque viu que era Pará, o que significa que o gol não sairia.

Na frente, destaque para os dois atacantes. Kleber guerreiro como sempre. Levou muito pau. Sofreu mais de 15 faltas em rodízio. Nenhum adversário ganhou amarelo em função disso, salvo engano. Fraco o juiz nesse aspecto.

Já o Barcos está deixando de ser uma tia velha. O terceiro gol, o segundo dele, foi coisa de quem está reencontrando o futebol que jazia em ‘algum lugar do passado’ – nome de um filme que curto muito e que tem uma trilha sonora belíssima. Recomendo.

Ah, importante: o adversário não teve nenhum expulso. Então, foram 11 contra 11 até o fim.

Temos, então, que Renato está arrumando a casa.

Como se dizia de Getúlio Vargas, ‘deixem o homem trabalhar’.

SHOW EM NH

É duro reconhecer, mas o RG deu um show hoje em NH. Vi apenas o segundo tempo. Não fosse ele, o Inter teria vencido sem dúvida. Afinal, desde os 35 do primeiro tempo, estava com um jogador a mais.

RG amarrou o jogo o quanto pode, até ser tirado de campo, no finalzinho, por entrada criminosa com as travas da chuteira de Willians. Nem falta foi marcada no lance.

Então, sem RG para atrapalhar e levar preocupação, o Inter se agigantou nos minutos derradeiros. Muita pressão, mas pouca organização. Chutão e chutão para a área. Coisa de técnico estrategista. Ora, numa hora dessas, tem mais que ir para o abafa mesmo.

Antes dessa pressão, Victor fez uma defesa sensacional num chute à queima- roupa do Damião. Nos acréscimos, outra defesa milagrosa.

No final, como desabafo diante do que deve ter ouvido dos colorados atrás do alambrado – sim, alambrado mesmo – Victor chutou a bola contra o pessoal atrás da goleira.

Foi uma atitude antidesportiva. Levou o amarelo, o segundo, e foi expulso enquanto deixava o campo, com Damião com os lábios levemente cortados corria atrás dele para reclamar de seu gesto.

Ao microfone, jornalistas cogitavam de que Victor pudesse ter agredido Damião.

Senti que alguns ficaram desapontados quando Damião disse que o corte, coisa pouca, tinha ocorrido em outra situação. Mas criticou Victor, merecidamente, por ter chutado a bola contra a torcida.

E foi assim que o Inter, completo, ficou só no empate contra um time com um jogador a menos durante a maior parte do jogo.

De positivo, o fato de a defesa dessa vez não ter levado gol. De negativo, esse foi o quarto empate seguido.

EQUIPE DA GUAÍBA

No texto anterior, o ‘Rafael M.’ propôs um desafio. Vamos lembrar:

“Encontre o Gremista na foto:
.
http://www.casimages.com.br/i/130817063659988300.jpg.html
.
Equipe de Esportes da Rádio Guaíba, 1992″.

Bem, como eu não fujo ‘muito’ de desafios, vou relacionar os gremistas que conheço nessa foto de uma antiga equipe de esportes da Guaíba.

Pela ordem, de cima pra baixo: Paulo Sérgio Pinto, Fernando Siqueira (o Pelotinha), Antônio Augusto, Edgar Schmitt, e Haroldo Santos.  Tem mais dois, que eu me reservo o direito de ficar calado.

O restante é torcedor do Cruzeiro, do Zequinha e do Brasil Pelotas. Curioso, nenhum colorado…

Tensão colorada e os parceiros do ximitão

Cada vez mais estou convencido de que ainda veremos jogos do Brasileirão começando depois da novela das 23 horas, avançando a madrugada.

O Grêmio pega o Vasco às 21h, em São Januário. Em função do horário, pelo que ouvi haverá pouca gente no estádio, o que é bom para o Grêmio.

– Pô, mas nesse horário não vou poder namorar -, lamentou o RW hoje à tarde, quando me telefonou para cornetear – sim, ele faz juz a cada minuto ao nome do seu festejado blog – o Souto Moura, o Dunga, o ximitão e, claro, um certo setor da mídia.

– Bah, o pessoal tá unido para amenizar o que o Souto Mouro falou. O …. mais o …. e ainda … repetem que o doutor não quis dizer bater, assim de bater, dar pontapé, mas no sentido de chegar junto e roubar a bola.  Eles são invencíveis, estou quase me mudando para o Congo.

Esse é o meu amigo RW, 24 horas por dia na corneta. Ele sofre com os da tal IVI, mas o que ele incomoda o pessoal, não é fácil.

Já o Inter vai jogar às 18h30, outro horário ridículo. Mas o que se há de fazer. As cotas de TV é que bancam essa farra toda com dinheiro que entra fácil e sair mais fácil ainda por conta de absurdos como pagar 850 mil mensais para um jogador, no caso Forlán; ou 500 mil para o Kleber.

Sem contar o dinheiro jogado fora com contratações de alto risco e zero de retorno. A farra com o dinheiro que, no fundo, no fundo, é das torcidas, é tão grande que jogador que vem pra cá e não dá certo, prefere ficar por aqui, no come e dorme, do que  jogar em outro clube porque o salário que pagam lá, não é o mesmo que pagam cá.

E aí, cabe aos generosos Grêmio e Inter pagarem parte do salário mensal desses jogadores para atenuar um pouco o peso da folha de pagamento.

É o caso de Cris, que hoje pode estrear contra o seu ex-clube, clube que ele contribuiu com sua experiência e suposta liderança a afundar na Libertadores.

Como lembrou um parceiro aqui do Boteco, o empréstimo de Cris no Vasco é como um cavalo de tróia. Espero que Cris, desta vez, corresponda às expectativas de todos os gremistas e pratique aquele esporte que é um misto de futebol americano com judô e capoeira. De preferência na área do Vasco.

TENSÃO E XIMITÃO

O Inter vinha de quatro vitórias seguidas. Euforia. De repente, uma série da quatro jogos sem vitória. É natural que os nervos fiquem a flor da pele. Souto Moura e Dunga estavam à beira de um ataque de nervos. Moura falou que o Inter tinha que bater, porque considerou que o Botafogo estava batendo mais e por isso vencia.

Já o Dunga, que visivelmente se esforça para aparentar serenidade, teve um chilique quando viu o gandula, um guri assustado, repor a bola rapidamente para o Botafogo.

Todos lembramos de Luxemburgo, tendo algo parecido no Gauchão, quando um gandula tentou ajudar o Inter na cobrança de escanteio para surpreender o Grêmio.

Quero dizer que os dois treinadores estão certos. Os gandulas não podem agir assim.

Agora, que fica chato dois ‘professores’ darem esse tipo de exemplo, fica.

É possível o ximitão apresentar denúncia contra Dunga. Aliás, na ânsia de dar a notícia em primeira mão, repórteres gaúchos, tanto em situações envolvendo Grêmio como o Inter, acabam contribuindo para denúncias, já que o intrépido ximitão fica alertado e acaba influenciado.

– Pô, se esses gaúchos estão me telefonando tanto é porque o caso é sério – deve pensar o audaz ximitão.

Não sei, mas acho que a gente deveria esperar pelo ximitão, não estimular para que tome iniciativas que acabem prejudicando os clubes gaúchos.

Vitória passou pelas mãos de Dida

A vitória do Grêmio sobre o líder do campeonato começou com Dida.

A frase é uma constatação, mas para alguns ecoa como uma provocação. Afinal, quem elogia Dida parece que está criticando Marcelo Grohe, o que é um absurdo em termos racionais. Mas é complicado exigir que o torcedor, acima de tudo paixão, consiga ser racional o tempo todo.

O Cruzeiro estava melhor. Mais uma vez o Grêmio se defendia sem demonstrar um mínimo de capacidade ofensiva. O meia Maxi Rodriguez sentiu na pele o que é ser o único articulador. Mesma situação enfrentada por Elano contra o Bahia.  Pouco fez o meia uruguaio.

O Cruzeiro era quem mais próximo estava do gol. Mostrou por que se mantinha na liderança.

Aos 30 minutos, a história do jogo começou a mudar. O juiz conseguiu ver um pênalti de Bressan num lance em que Dida fez duas defesas fantásticas após a bola bater na trave. A bola bateu na mão de Bressan, que saltou meio atabalhoado. O que importa é que Dida defendeu. Uma grande defesa.

Penso que seus críticos – mais por conta de ser indicação de Luxemburgo e por entrar no lugar de Grohe, que vinha muito bem – talvez agora comecem a perceber que ali está um profissional que merece respeito.

Minutos depois, o volante Souza levou um amarelo por falta dura no campo de defesa do Grêmio. Mais adiante, ele puxou Barcos por trás e levou o segundo amarelo, e o vermelho.

Com um jogador a mais, o Grêmio ficou mais tranquilo e aos poucos foi assumindo o controle do jogo, o que acabou se consolidando no segundo tempo.

Renato esperou para ver os movimentos do Cruzeiro para só então começar as mudanças. A primeira delas, a entrada de Guilherme Biteco no lugar de Bressan, surtiu efeito quase que imediato. Aos 12 minutos, Guilherme cruzou para Rodolpho cabecear. O goleiro defendeu nos pés de Werley, que mandou para a rede.

O gol foi um alívio. Era um jogo difícil, o Cruzeiro marcava bem e tinha qualidade na frente. Qualquer vacilo…

O gol deu um alento ao torcedor que enfrentou com valentia a noite gelada.

Três minutos depois, Barcos recebeu na área um lançamento de Pará, que desviou na zaga. Com categoria, desviou do goleiro Fábio. Os 2 a 0 aqueceram mais que um copo de quentão.

O Cruzeiro deu um susto com o gol de Nilton – bom volante -, cobrando falta. A bola desviou na barreira e enganou Dida.

Kleber, que mais uma vez fazia uma partida com muita aplicação, fez o terceiro, aos 27, pegando rebote do goleiro após cobrança de falta de Alex Telles, o melhor jogador em campo.

O resultado coloca o Grêmio na ponta de cima, na briga pela liderança.

São duas vitórias seguidas, seis gols a favor, e um contra.

E isso que o time está sem Zé Roberto e Vargas.

Méritos do treinador, que aos poucos está colocando ordem na casa.

Falta muito para que se possa considerar o Grêmio um candidato forte ao título, mas o time ao menos começa a recuperar o moral e a elevar a auto-estima. A sua e a da torcida.

Como tem 'sorte' esse Renato!

Mais do que vencer, o Grêmio não podia perder em Salvador. Uma derrota, e a marola contra Renato, Koff e Rui Costa se transformaria numa onda, num tsunami. Por isso, Renato tratou de armar um esquema primeiro para não perder; depois, para especular um golzinho.

Se eu gostei do que vi no primeiro tempo? Claro que não.  Acho que Renato radicalizou. Poderia ter mais um meia para ajudar Elano. O Guilherme Biteco ou, de preferência, o Maxi Rodriguez. Mas exercitei minha tolerância ao nível máximo. Fiquei ali meio deprimido, meio esperançoso, acreditando que o Grêmio voltaria melhor para o segundo tempo, um pouco mais ousado, sacando um volante.

Renato, aquele não conhece nada segundo os ‘bois cornetas’, mudou não mudando. Adiantou a marcação e começou a chegar à área do Bahia, o que não aconteceu no primeiro tempo. Eu me perguntava se até o fim do jogo o Grêmio chutaria uma bola em gol. O fato é que o Grêmio melhorou no intervalo sem trocar jogadores. Se isso não é mérito do treinador, não entendo mais nada.

O que mais leio e ouço, inclusive de gremistas, é que o Grêmio ganhou por sorte.

Então ficamos assim: quando Grêmio ganha é por sorte; quando perde, é por mala suerte. Esse é o Grêmio de Renato para quem não consegue admitir que Renato, apesar do seu jeitão de ‘coroa de Ipanema’ e de sua fala meio desajeitada, é um treinador tão bom quanto aqueles considerados de ponta e que são festejados até nos fracassos.

Ouvi um veterano analista dizer depois da rodada de hoje, para justificar o empate do Inter no ‘caldeirão’ de Camp Nóia, que Dunga tinha como atenuante o fato de não poder repetir o meio de campo.

E Renato que não consegue repetir o time e perde jogadores importantes como Zé Roberto, Kléber e Vargas?

Curioso, Renato dificilmente recebe comentários assim tão compreensivos.

Pois Renato vislumbrou no momento crítico a oportunidade para colocar em campo a gurizada. E não venham me dizer que ele não tinha outra alternativa. Souza ficou no banco, por exemplo. Jogou Ramiro.

Depois de um primeiro tempo deprimente em termos ofensivos, mas eficiente defensivamente, o Grêmio equilibrou o jogo no segundo tempo com as mudanças de posicionamento feitas por Renato, ressalto.

O Grêmio melhorou. Continuou seguro atrás e passou a atacar. Aos 26 minutos, o árbitro não quis marcar um pênalti em Barcos, que, a meu ver continua parecendo uma tia velha, sem arranque, sem força, sem agilidade e lento. Se o jogo fosse em câmara lenta ele se destacaria. Até minha mulher que não entende de futebol constatou isso. “Como é lento esse jogador’, comentou ela quando Barcos recebeu de Elano para marcar e se enrolou todo.

Bem, ao menos Barcos foi um guerreiro e até fez alguns lances aproveitáveis, o que pode ser um sinal de que ele não é uma fraude como centroavante como está me parecendo.

Agora, o que dizer de Riveros? Enfiou a cabeça numa bola mesmo diante de chuteiras sanguinárias. Ramiro cruzou da direita. Elano apareceu como atacante, tomou a frente do zagueiro e cabeceou na trave. No rebote, Riveros mergulhou corajosamente para fazer 1 a 0. Inacreditável. O Grêmio estava vencendo.

Depois, Maxi Rodriguez invadiu a área, chutou meio desajeitado, a bola bateu no zagueiro, bateu na trave, tomou efeito e entrou. Sinal de que as coisas podem estar mudando, porque normalmente uma bola como essa atravessa a área e não entra. Pois entrou. Aí, sim, sorte.

Elano, sistematicamente criticado por uns e sistematicamente defendido por outros, como eu, cavou a expulsão do zagueiro Titi, que o agrediu e vai pegar um gancho interessante.

Depois, Guilherme Biteco e Matheus Biteco entraram para oxigenar o meio de campo e dar um alento aos gremistas.

Matheus roubou uma bola no meio de campo, avançou com elegância, cabeça erguida. Chegou perto da área e não chutou, como poderia. Preferiu rolar a bola na esquerda para o mano mais velho.

– Toma Mano, faz – , deve ter dito mentalmente. E Guilherme aproveitou o presente: 3 a 0.

Como tem ‘sorte’ esse Renato!

CRISTÓVÃO

Quando li na ZH uma reportagem de DUAS páginas com o treinador do Bahia, o Cristóvão, estranhei. Achei demais para um técnico que ainda não provou nada no futebol, embora seja promissor.

Interpretei como um sinal: quando eles enchem a bola de alguém, sempre dá gol contra.

O pé-frio funcionou novamente.

O CALDEIRÃO

O modesto estádio do NH foi apelidado de ‘caldeirão’ pelos mais apressados. Não funcionou. Claro que o gol em menos de um minuto foi um golpe. Mesmo assim, o Inter reagiu e conseguiu o empate a poucos minutos do final. Não vi o jogo, mas li que o argentino Scocco foi bem, mas não empolgou.

Quem deu excelente resposta foi o jovem Otávio, que a 3 minutos do final evitou a derrota colorada.

Otávio, como os irmãos Biteco, promete.