Aflitos: recordar é viver

A Batalha dos Aflitos foi um momento único na história do futebol mundial. Um feito destacado em todo o mundo.

Eu estava sozinho em casa na hora do jogo, ainda bem. Tenso. Muito tenso. O time jogava mal, pessimamente, e eu tentava me conformar em ficar mais um ano na segundona, culpava todo mundo, queria a cabeça de dirigentes, treinador, etc.

Aí, São Patrício arrumou aquele bendita confusão após a marcação de um pênalti inexistente. Se São Patrício não tivesse feito aquilo, criado aquele clima explosivo, talvez São Galatto não tivesse defendido, e a história seria outra.

Mano Menezes, por exemplo, não estaria na Seleção.

O jogo foi num sábado. Domingo à noite escrevi o texto abaixo para um caderno especial que o Correio do Povo publicou encartado na edição do dia seguinte.

Eu havia esquecido completamente disso, mas fui lembrado por um torcedor no twitter, ontem ou sexta-feira.

Ele me elogiou, disse que eu escrevi com o coração, e que havia chorado ao ler o texto. Bem, era essa a intenção.

Curioso, fui atrás do texto e o encontrei. Espero que provoque ao menos uma lagrimazinha.

Recordar é viver:

PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2005

Nada pode ser melhor

Ilgo Wink

Quando Lupicínio Rodrigues compôs o hino do Grêmio, não imaginava que a expressão ‘imortal tricolor’ acabaria por integrar-se à trajetória do clube. Nos anos que se sucederam, não foram poucas as vezes em que o Tricolor, aparentemente exaurido e batido, foi além de suas forças, superou limites e, por acreditar que não era impossível, venceu.

O que aconteceu sábado, dia 26 de novembro de 2005, em Recife, marca um desses momentos, se não o maior de todos, o mais dramático, o que mais contribui para reforçar a lenda da imortalidade. O Náutico tinha um pênalti a seu favor e enfrentava um grupo de sete jogadores acuados em um ambiente adverso e hostil. Nas arquibancadas lotadas, a torcida do time pernambucano lembrava os romanos no Coliseu. Só faltava sinalizar com o polegar para baixo para decretar o fim do sonho gremista de voltar à Primeira Divisão.

Foi a partir desse momento que o Grêmio começou a escrever dez minutos rutilantes, que entram para a história como um dos mais belos momentos do futebol. O jovem Galatto defendeu o pênalti. Era o segundo que os pernambucanos desperdiçavam. O estádio ficou em silêncio. Jogadores do Náutico desabaram no gramado.

De repente, o pequeno grupo cresceu, tornou-se um gigante no gramado. Outro garoto, Anderson, transformou-se em um veterano de espírito travesso e atrevido. Foi para cima do rival atordoado e, por não duvidar que era possível, fez o inimaginável àquela altura: o gol.

O Grêmio realizava um feito homérico, construído por sete ‘ulisses’, que não esmoreceram quando até os mais fanáticos gremistas já haviam desistido. O Grêmio sai das profundezas da Segunda Divisão iluminado pelos deuses do futebol. Volta ao seu lugar, porque nada pode ser melhor do que estar entre os grandes e seguir buscando o impossível.

Correio do Povo

Porto Alegre – RS – Brasil

O torcedor antes de tudo é um forte

Acordei com uma dúvida me atormentando: eu sou um homem ou sou um rato? Passei o dia refletindo. Li e ouvi alguns torcedores do Grêmio e fiquei com a sensação de que estou mais pra rato.

Ainda mais depois que soube que alguns companheiros do blogremio – briosa corporação de blogueiros gremistas – já compraram passagem e ingresso para ir a São Paulo no jogo da volta contra o Palmeiras.

Vergonha. Eu aqui afundado, trabalhando como um louco para afastar a depressão, evitando noticiário e debates esportivos, e os caras prontos pra luta, acreditando ainda na classificação.

Parodiando o Euclides da Cunha, ‘o torcedor antes de tudo é um forte’.

Eu ainda tenho uma desculpa: sou aquele tipo de torcedor chato, forjado nos duros anos 70. Fico apontando defeitos, analisando. Um cara que não consegue disfarçar seu desconforto quando vê que seu time se encaminha rumo ao precipício, e que, na verdade, se esquece de torcer. Confesso, sou um mala.

Mas, decididamente, não sou um rato. Cheguei à essa conclusão no começo da noite, depois de degustar uma Mazembier gelada no ponto.

Por que será que fico com moral elevado, mais animado, mais confiante, mais feliz sempre que bebo a Mazembier? A cerveja desce redonda, espuma cremosa.

O torcedor é mesmo um forte. O torcedor do Inter também. Levou aquela paulada humilhante de um modesto time africano, ficou todo desconjuntado, mas está aí de novo nos escombros do Coliseu gaudério vibrando como um desvairado, como fez contra o Fluminense para desabar mais uma vez.

Não adianta, é assim mesmo. É um perde-ganha sem fim.

No futebol se ganha, se empata e se perde como dizia o filósofo Dino Sani.

No meu caso, mais perdendo do que ganhando.

A Copa do Brasil já foi, é passado, embora respeite quem pense o contrário – a diversidade de opinião também faz parte do universo do futebol, mesmo entre torcedores do mesmo time.

O torcedor também essa característica: a de acreditar sempre, até o último minuto. Afinal, se o Palmeiras fez dois gols aqui, por que o Grêmio não pode fazer o mesmo lá em Barueri?

Eu poderia responder essa pergunta, mas ficaria muito tempo escrevendo. Mas resumo: o Grêmio não tem capacidade de criação ofensiva para reverter os 2 a 0.

Neste domingo, tem o Náutico. O Grêmio vai com força máxima, de acordo com o que eu penso: foco agora é o Brasileirão.

Eu não sei bem o que é força máxima do Grêmio. Em princípio é o time eleito por Luxemburgo como titular.

Mas uma força máxima que tem Marco Antônio como titular realmente é mínima, porque, como tenho escrito há tempo,deixa o time com um jogador a menos.

Luxemburgo poderia começar o jogo contra o Náutico com o Rondinelly, ao menos a gente saberia se pode realmente contar com o guri.

Até o Miralles na meia faria mais que o MA.

Bem, estou pronto pra outra.

Brasileirão passa a ser prioridade

Tem vezes em que eu detesto e lamento acertar nas minhas análises.

Esta é uma delas. O que eu escrevi antes do jogo continua valendo.

É difícil um clube ser campeão tendo três jogadores de nota no máximo 5 ou 6 juntos ao mesmo tempo numa equipe.

Citei os três: Léo Gato – que incrivelmente tem alguns admiradores -, Pará e Marco Antônio. E observei que se eles tivessem uma atuação que ao menos não fosse comprometedora o Grêmio teria mais chances de vencer, e citei o placar de 1 a 0 com equivalente a uma goleada dependendo de como estivesse o jogo.

A vitória por 1 a 0 teria sabor de goleada, porque a produção ofensiva do Grêmio, que jogava em casa com sua torcida, foi pífia, abaixo da crítica. Por isso, 1 a 0 seria mágico.

Acrescente-se aos três jogadores de time de série B o Gabriel e temos aí quatro jogadores comprometendo, sem falar nos atacantes, completamente sem criatividade, sem brilho individual, com exceção de Miralles em alguns lances.

Adicione-se a tudo isso a demora do Luxemburgo em sacar o MA para colocar Rondinelly, que não fez muito, mas fez o suficiente para mostrar que é melhor que MA, o que também não significa grande coisa. O guri ao menos arrisca o drible e sai da mesmice do toque de primeira pro lado e pra trás.

Léo Gago abusou de chutar mirando as estrelas. Na verdade, ele quando chuta de longe é porque não sabe o que fazer com a bola. E há quem o elogie.

Pará tem a seu favor o fato de jogar improvisado na esquerda, mas ele não precisava recuar, recuar e recuar para que Cicinho avançasse e metesse a bola para o primeiro gol do Palmeiras.

Gol marcado por um jogador que Felipão recém havia colocado em campo. Felipão, aliás, foi melhor que Luxemburgo nesse duelo particular. Repetiu, aliás, o que aconteceu na década de 9.

Luxa errou ao sacar Kleber e Miralles ao mesmo tempo. Ao colocar dois grandalhões ele confessou que não tem time para trabalhar a bola e facilitou tudo para o trio de zagueiros.

Enfim, o Grêmio está eliminado. É claro que o jogo só acaba quando termina, como dizem nos botecos da vida depois de uma dúzia de cerveja.

Enquanto há vida há esperança. E a esperança é a última que morre.

É claro que vou torcer até o fim, como fiz até agora, mesmo tendo previsto há muito tempo que o  Grêmio talvez nem chegasse à semifinal, e chegou.

Eu que sugeri time misto para enfrentar o Náutico, agora retifico: força máxima.

O Brasileirão passar a ser o principal objetivo, a prioridade.

A Copa do Brasil terminou, ao menos pra mim.

Para concluir, repito o título do comentário anterior, e pelo qual fui criticado:

Jogo de iguais no Olímpico.

A diferença foi o técnico, porque os dois times são precários tecnicamente.

Jogos de iguais no Olímpico

Confesso que fico preocupado quando começo a ler e a ouvir que o Grêmio tem um time superior ao do Palmeiras e que por isso é favorito.

Parte de quem se manifesta assim é torcedor colorado querendo minimizar uma eventual vitória gremista, diminuindo o valor do adversário.

Outra parcela são de gremistas confiantes demais, quase eufóricos, que já começam a achar jogadores ‘bola 5 ou 6″ como superiores aos dos rivais. Não os critico, porque onze anos de espera não é pouco tempo.

Dá, por exemplo, pra concluir duas faculdades e encaminhar uma terceira. Dá pra fazer meia dúzia de filhos. Dá pra cair de novo pra segundona e voltar. Dá pra ver o Inter ser campeão do mundo após 23 anos de inveja mortal.

Há onze anos eu não tinha tantos cabelos brancos e minhas rugas eram mais suaves. Há onze anos, não existia este blog, eu ainda não pensava em sair do Correio do Povo. Lula ainda não havia assumido a presidência. Quer dizer, 2001 até que foi um bom ano em comparação com 2002 quando a onda petista  se avolumou, tomou o poder e de lá não quer sair de ‘jeito maneira’.

O que eu quero dizer é que Grêmio e Palmeiras são iguais, gêmeos siameses. O Palmeiras vai mal no Brasileirão. E daí? O Palmeiras está em crise, e daí?

Há boatos de que os jogadores querem derrubar Felipão. E daí? Se é verdade, eles farão isso depois da Copa do Brasil, que podem ter problemas de caráter, mas não rasgam dinheiro.

Então, meus amigos, todo o respeito é pouco.

Nesse sentido, gosto do discurso do Luxemburgo. Ele conhece Felipão, nós conhecemos Felipão. E ele, como Luxemburgo, não está superado.

No jogo desta quarta, o Grêmio tem a vantagem de jogar com o peso de sua torcida, e a ausência de Valdívia, principal jogador do Palmeiras. Então, é preciso fazer vantagem. A vitória por 1 a 0 é boa, mas talvez não seja suficiente. Melhor é uns 2 ou 3 a zero.

É claro que dependendo do que acontecer no jogo, o minguado 1 a 0 talvez seja motivo para soltar foguetes.

Sobre o time: acho que Luxemburgo vai com Moreno e Kleber. Este é o tipo de jogo que se decide com um começo avassalador, pressão total, sem deixar o adversário respirar.

André Lima e Miralles que esperem.

No mais, é preciso acreditar que os nota 5 ou 6 do time (Pará, Gabriel, MA e Gago) tenham uma noite de um futebol que, se não for deslumbrante, ao menos não comprometa.

CONTRATAÇÕES

A direção está se mexendo pra reforçar o time. Mas o momento é de silêncio total. É preciso prestigiar os jogadores que aqui estão, não de ficar anunciando interesse para esta ou aquela posição. Pra mim, o que importa agora é apenas uma coisa: a Copa do Brasil.

O resto a gente vê depois. Ah, time misto ou reserva contra o Náutico, por favor.

Agora, os titulares do Palmeiras

O Grêmio fez o dever de casa: venceu o time reserva do Corinthians. Com isso, assumiu o terceiro lugar no Brasileirão, e, de quebra, ultrapassou o Inter, o que aqui na aldeia tem grande significado, mesmo que nada signifique porque o campeonato é longo e o caminho rumo ao título é tortuoso, tão difícil que até hoje um clube gaúcho não chegou lá dentro da fórmula dos pontos corridos.

Mas a vantagem de um ou de outro, no caso gremista, na terra da grenalização sempre apimenta os debates no escritório, nos bares, nas ruas.

Agora, o que interessa mesmo é a Copa do Brasil. É ótimo estar bem posicionado no Brasileiro, mas nada que se comparece a vencer o duelo contra o Palmeiras. Nós já vimos que o Palmeiras está com uma equipe modesta, num nível até inferior ao do Grêmio, até porque não terá Valdivia, seu maior destaque, no primeiro jogo.

O técnico Luxemburgo tem razão ao alertar para o poder de reação e de indignação que Felipão consegue incutir em seus jogadores. Portanto, todo o cuidado é pouco.

Independente disso, mais do que fazer o dever de casa, o Grêmio precisa vencer bem. E isso significa vencer pelo menos com dois gols de diferença, de preferência sem sofrer gol.

Assim, o placar deste domingo contra o Corinthians estará de bom tamanho. O problema é que o Palmeiras vem com tudo e com seus titulares, diferente do Corinthians.

O futebol que o Grêmio jogou hoje será insuficiente para uma vitória com placar tranquilizador na quarta-feira.

O Grêmio teve muita dificuldade para furar o bloqueio armado por Tite, um retrancão de respeito. Felizmente, achou um gol no chute de Marco Antônio, que de vez em quando mostra que existe, contando com a colaboração do goleiro.

Depois, o lance com Souza, que teve outra grande atuação, no gol de André Lima, que bem ou mal está sempre pronto para mandar para a rede, desde que armem situações para isso.

No segundo tempo, o Corinthians se abriu mais, e chegou a ter uma grande chance de gol, que Victor, mantendo a rotina, salvou.

A melhor chance do jogo foi de Kleber, que pegou um rebote na marca do pênalti e chutou desviado. Na hora eu pensei: melhor guardar para quarta-feira.

Sobre MA, que eu tanto critico: escrevi no tópico anterior que não duvidava que diante de um time reserva ele até tivesse uma atuação satisfatória. E teve. MA deu dois ou três passes de qualidade para conclusão e fez o gol. Bom demais pra ele, mas pouco para um clube que almeja grandes títulos e que precisa alguém com maior qualidade para uma função tão importante.

Na comparação com o ex-titular Douglas, que também foi substituído no segundo tempo depois de uma atuação digna de ex-jogador, MA até foi melhor, ou menos mal.

O fato é que Douglas não servia mais, e MA não serve agora.

Que bom que Zé Roberto já está contratado.

O negócio é somar pontos

Se o Corinthians vem mesmo com time reserva o negócio é aproveitar e somar três pontos.

O problema é que talvez na intenção de deixar o jogo mais equilibrado, o que sempre proporciona mais emoção e roer de unhas, o técnico Luxemburgo insista em começar com dez jogadores.

O carimbador, o burocrático Marco Antônio está confirmado para começar. Sei que ele está nos últimos suspiros como titular, porque Rondinelly já começa a partida aquecendo na beira do campo.

Depois, com a estreia de Zé Roberto, MA cairá em esquecimento, ou irá brilhar de volta na Portuguesa, que está precisando do seu talento. Escrevo talento sem aspas porque lá na modesta Lusa, MA está na sua família, junto aos seus iguais ou semelhantes. Agora, talvez contra um time de reservas, MA até dê uma resposta satisfatória, o que poderá fazer alguns leitores apontarem o dedo pra mim. ‘Viu?????”.

Ainda sobre MA, no primeiro tempo do jogo contra o Atlético-GO eu vi um momento raro, talvez único de MA no Grêmio, quando ele avançou pela esquerda e arriscou um drible. Sim, ele driblou. Eu quase não acreditei, duvidei que fosse ele, mas era. Ele passou mas sofreu falta. Depois, voltou à sua rotina apagada e inexpressiva.

Pior que eu perder meu tempo com ele, é o Grêmio perder seu tempo com ele quando poderia estar preparando Rondinelly para ser titular contra o que realmente interessa: o Palmeiras pela Copa do Brasil.

Não quero o mal de ninguém, mas com tanta gente sentindo lesão muscular, um por jogo, por que o MA não pode sofrer um estiramentozinho, coisa leve, só para ficar fora uns 20 dias?

Por outro lado, os caminhos começam a se abrir. Luxemburgo conseguiu armar uma equipe competitiva com a mão de obra que tem.

Edilson está voltando, Werley também. Kleber está a mil e aí está um cara que pode fazer a diferença nesses jogos decisivos da CB. Espero que Marcelo Moreno em condições plenas.

Acompanho com atenção um jogador em especial. Num passado recente eu cheguei a escrever que esse jogador tinha potencial para ser um novo Roberto Carlos, o lateral, não o cantor.

Estou me referindo a Anderson Pico. Ele parece mais interessado, Luxemburgo conversa com ele porque sabe que ali está um diamante em estado bruto.

Até que enfim um técnico que dedica atenção individual aos jogadores. Ele tem feito isso com o Fernando, que está cada vez melhor. A continuar assim, Fernando vira craque. Pena que isso vai significar sua convocação à Seleção.

Voltando ao Anderson Pico: se ele colocar a cabeça no lugar, for persistente, logo será titular do Grêmio.

Sobre técnico conversar com jogador: o Cláudio Winck (craqueza genética na família) no programa Cadeira Cativa comentou sua chance no time titular do Inter, foi contra o Avenida em Santa Cruz. Cláudio, que tem 18 anos, fez um primeiro tempo excelente. No segundo, caiu como todo o time.

Depois disso, ele não foi mais aproveitado. Até hoje ele não sabe por que. Aí, eu perguntei ao guri se o Dorival tinha conversado com ele sobre sua atuação e também por que ele não continuaria no grupo principal. Cláudio respondeu que não.

Quer dizer, o técnico chama o guri para um jogo, o guri vai bem e depois é largado sem uma conversa, uma explicação?

Fiquei surpreso com essa revelação. Imaginava que Dorival fosse diferente.

Eu, se fosse técnico, acompanharia os treinos da base. Telê Santana fazia isso. De vez em quando chamaria um ou outro para treinar e conversaria com ele.

Mas hoje isso é mais complicado, há tantos interesses em jogo.

Mesmo assim, não custa dar atenção aos mais jovens.

Grêmio: crescimento na hora certa

O que é o preconceito, hein? Quando Luxemburgo foi contratado eu escrevi que era uma calamidade. Puro preconceito.

Hoje, depois da convincente atuação contra o Atlético Goianiense, no Serra Dourada, na estreia do Helio dos Anjos – três elementos que sempre foram um tormento para o Grêmio -, e a vitória por 1 a 0, o Grêmio mostrou consistência, personalidade e consolidou um padrão de jogo que se desenhava há alguns jogos.

E tudo isso apesar de algumas individualidades apenas esforçadas, mas que a partir de um esquema bem estruturado, conseguem render o suficiente para ajudarem a vencer adversários desse porte.

Então, não há como negar que aí tem a mão do treinador.

O jogo estava no 0 a 0, e se encaminhava para um empate frustrante, porque o Atlético estava pedindo para perder, mas por falta de qualidade ofensiva o gol não saía, e não aconteceria se Luxemburgo não colocasse em campo Rondinelly e Kleber.

Os dois entraram e deram mais velocidade e movimentação na frente, confundindo a marcação.

Aí, o volante Souza, criticado por alguns afoitos, cruzou na medida para Miralles. O argentino que já havia desperdiçado duas boas chances, limpou a jogada e mandou para a rede.

Saúdo a entrada de Rondinelly, que aos poucos vai ganhar a posição, e, principalmente, de Kleber, que voltou jogando com naturalidade, sem fugir do confronto, do corpo a corpo. Fiquei impressionado com a disposição e a valentia dele, que volta depois de uma contusão muito grave.

Com Kleber, o Grêmio fica melhor, muito melhor.

Marcelo Moreno, por sua vez, terá de jogar muito mais do que vinha jogando para ganhar a posição de Miralles. Acredito que Moreno é melhor, mas terá de mostrar isso em campo. Sem carteiraço.

Não faltarão aqueles que irão desmerecer a vitória, mas o Atlético em sua casa é sempre muito perigoso. O Grêmio mesmo não o vencia no Serra Dourada há mais de duas décadas.

O Grêmio, portanto, cresce na hora certa. Se vai ser campeão da Copa do Brasil é outra história, mas que já mostra mais futebol pra chegar lá, mostra.

INTER

A fábula da raposa e as uvas me veio à mente esta semana. Foi quando li e ouvi alguns cronistas esportivos, colorados, comentando a notícia de que D’Ale estaria indo para o futebol chinês. Diziam que ele não faria falta, que Oscar ou Datolo seriam substitutos à altura. Já se preparavam para a perda.

Contra o SP, D’Alessandro, que voltava de lesão, foi decisivo. Marcou o gol da vitória e provou que será uma perda muito grande para o Inter se realmente decidir ir embora. Oscar e Datolo não são páreo para esse argentino.

Ao final dos jogos desta quarta-feira, tivemos, portanto, dois argentinos decidindo para Grêmio e Inter.

Será um prenúncio do que pode acontecer entre as seleções do Brasil e da Argentina? Ou seja, os argentinos fazendo a festa?

De minha parte, vejo a seleção argentina melhor que a do Brasil.

Ronaldinho e seu amor pelo Grêmio

Ronaldinho não consegue conviver com a rejeição de quem ele mais ama: o Grêmio.

É a avaliação que faço de Ronaldinho e suas circunstâncias, remetendo para Ortega y Gasset – ‘Eu sou eu e minhas circunstâncias’ -, filósofo que pode ser confundido por alguém distraído com uma dupla de atacantes da Espanha.

Ronaldinho tem em sua sala, em destaque, uma foto sua, em preto e branco, com a camisa do Grêmio. Por que em preto e branco, quando há dezenas de belas fotos suas coloridas? Talvez porque essa foto simbolize o passado feliz que ele deixou pra trás em troca de muitos dinheiros.

Ninguém vai me convencer de que aquele menino que engatinhou nas arquibancadas carcomidas  do Olímpico e de onde saiu para encantar o futebol com seu talento e sua arte, mantendo com a bola uma rara relação de intimidade, estava mentindo quando jurava amor ao clube.

Não tenho dúvida de que aquele momento, enquanto Assis esboçava os rumos de sua carreira depois da estrondosa estreia na Seleção Brasileira, foi o da maior verdade de Ronaldinho. Foi quando ele jogava com alegria genuína, quase amadorística, porque vestia a camisa do clube que amava.

Depois, conduzido pelo irmão/pai, Ronaldinho gradativamente deixou de ser ele mesmo. Deixou de ser aquele guri simples e sincero, para repetir frases feitas, vazias, sem qualquer conteúdo, proferidas com olhar se afastando de seus interlocutores, para que seu tormento interior não fosse desnudado. Para que não descobrissem que aquele Ronaldinho era uma farsa, um alterego do irmão/pai.

O verdadeiro Ronaldinho nunca deixou o Grêmio. Quem abandonou o clube e trocou pelo Paris Saint Germain foi a criatura sem alma e sem vontade própria moldada por Assis.

Já contei aqui, tempos atrás, uma conversa que tive com Assis, final dos anos 90, no pátio do Olímpico. Ele projetava o futuro de seu irmão mais novo, que era mais ou menos o seguinte:

– Primeiro, o futebol francês, que é mais light, menos violento, ideal para abrir as portas do futebol italiano ou espanhol. Inglaterra não, porque é um futebol mais de chutões, menos técnica -, analisava Assis naquela época.

Dois ou três anos depois disso, Assis executava seu plano, levando o irmão/filho para o PSG, o futebol francês.

Quer dizer, Assis foi o estrategista e o executor. Ronaldinho, seu boneco, sua marionete, seu instrumento.

Sua máquina de ganhar dinheiro.

A criatura, aos poucos, começou a voltar-se contra o criador. E o fez ao seu jeito, sem afrontar diretamente o pai/irmão, protetor. Ronaldinho passou a ‘viver a vida’, dedicando-se mais aos prazeres mundanos e relegando a profissão a um segundo plano.

Foi a maneira que Ronaldinho encontrou para rebelar-se, protestar, escapar de alguma forma do controle do seu guia.

Foi também uma forma de fugir da realidade incômoda que era continuar jogando futebol sem a alegria pura e profunda dos tempos em que amava e era amado verdadeiramente pela torcida do clube que o encaminhou para o reconhecimento mundial e à fortuna.

Foi, ainda, uma forma de disfarçar a dor lancinante que passou a atormentá-lo quando descobriu que, ao abandonar o lar quente de afeto e carinho, passou a ser odiado e desprezado por aqueles que antes o amavam.

Ronaldinho teve uma oportunidade de reconquistar a paz interior quando seu pai/irmão/procurador negociou sua volta ao Grêmio.

Mas era tarde. A Criatura já não ouvia o Criador. No Grêmio, ele teria de exercer a profissão na plenitude – o que agradaria seu tutor. Ao mesmo tempo, Ronaldinho temia esse reencontro com o passado, com a sua história. Por isso, melhor o clima festivo, mais liberal e descompromissado do Rio.

Agora, esse ser em que Ronaldinho se transformou está em Minas Gerais. Amanhã, estará em qualquer outro lugar.

Mas nunca mais no lugar em que ele sempre quis estar, e nunca mais com a paz interior que perdeu ao tomar o rumo apontado pelo chefe da família Assis Moreira.

A propósito, aqui cai bem Ortega y Gasset:

“Não são as Circunstâncias que Decidem a Nossa Vida…. É, pois, falso dizer que na vida «decidem as circunstâncias». Pelo contrário: as circunstâncias são o dilema, sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso caráter”.

Arena: cartão postal e o espaço tricolor

Sábado, dando uma de guia turístico para um amigo norte-americano, jornalista em Ohio, fui conhecer a Arena do Grêmio. Quer dizer, eu pensava que indo ao espaço do torcedor, teria uma visão melhor daquele que será o melhor estádio de futebol das Américas. O máximo que vi foi uma paredão de concreto.

Eu acreditava que haveria um mirante em que se pudesse ter uma vista mais adequada da grandiosidade da obra. Não tenho dúvida de que o espaço dedicado ao torcedor para conferir o andamento da construção foi mais útil quando o paredão começava a ser erguido e se podia, então, visualizar melhor o que será a Arena.

Hoje, o que se enxerga mesmo, é esse paredão. Então, de consolo, resta a maquete, realmente um espetáculo, e um vídeo, muito bem feito.

Eu fiquei frustrado. Como sou sócio tive acesso franqueado, mas paguei para os meus convidados, 10 reais, muito para o pouco que é oferecido. Continuo sem conhecer a Arena.

Meu amigo jornalista, Robbie, apesar de tudo, ficou deslumbrado.

– Por que esse não é o estádio da Copa do Mundo?, perguntou-me espantado, já que na véspera havia passado em frente ao Beira-Rio em reformas.

Comecei dizendo que na hora da escolha a Arena era um projeto, enquanto o Beira-Rio já estava ali consolidado, vistoriado pela Fifa.

Aí ele questionou o fato de que a realidade agora é que Porto Alegre em poucos meses terá um dos estádios mais modernos do mundo, mas que não irá sediar os jogos da Copa em detrimento de outro que está sendo reformado. Acrescentei que havia também interesses políticos, interesses dos gestores do Estado e de Porto Alegre, talvez mais preocupados em obter investimentos para uma área mais nobre da cidade do que para o Humaitá.

Concluí dizendo que, no final das contas, o Beira-Rio irá atender plenamente as exigências da Fifa.

Ele não ficou muito convencido. Imagino que vai acontecer o mesmo com a maioria dos visitantes, que ficarão com dificuldade para entender, e aceitar, como o melhor e mais vistoso estádio de futebol do país ficará fora da Copa do Mundo.

De minha parte, tanto faz o local dos jogos, porque não irei a nenhum. Mas para a Arena, novo cartão postal de Porto Alegre, seria bom estar no esquema, porque aí as verbas para o entorno já teriam sido liberadas.

Não tenho dúvidas, ainda, que aqueles mesmos que sempre defenderam o Beira-Rio como estádio da Copa, mesmo com o impasse ocorrido, serão os primeiros a utilizar imagens da Arena no material de divulgação.

Só espero que tenham a honestidade de colocar a legenda:

‘Arena do Grêmio: aqui não serão disputados os jogos da Copa’.

Um sonho: Ronaldinho no Inter

Quando alguém inteligente se aproxima propondo ‘trocar uma ideia’, eu topo na hora. Sei que vou sair ganhando. Minhas ideias normalmente são pouco luminosas. De vez em quando ainda tenho uma ideia legal, como as cervejas 1983, a cerveja campea, a Kidiaba e a Mazembier.

Não ganhei dinheiro com elas, nem vou ganhar, mas o que me deu de satisfação, de alegria, não tem como avaliar. Conheci muitos gremistas, gente que veio aqui em casa buscar umas garrafas. E confesso que vibrei com cada colorado que me escrevia irritado, me ofendendo.

Não há nada pior que a indiferença.

Pois, meus amigos, tive uma ideia coruscante -li esta palavra numa coluna de um amigo, fui no dicionário.

Uma ideia que repasso de graça.

É o seguinte:

O Inter, que aproveitou uma decisão de primeira instância no tribunal do trabalho de SP para trazer Oscar pensando que ficaria com ele praticamente sem pagar nada, poderia agora repetir a jogada.

Contratar Ronaldinho.

O ex-craque e pagodeiro de segunda categoria – nem sei se existe pagodeiro de primeira linha – ganhou na justiça trabalhista liberdade para acertar com outro clube. Igual ao Oscar, dois anos atrás.

Fico imaginando Ronaldinho Carioca com a camisa vermelha, beijando o distintivo, sorridente ao lado do irmão Assis, ainda mais sorridente. Ambos declarando amor eterno ao Inter. Que momento!

No negócio, para estimular ainda mais o Luigi, Assis poderia ceder por empréstimo, gratuitamente, aquela ampla área da Fundação que está sendo alvo de CPI na Câmara de Vereadores.

Seria um negócio ótimo para as duas partes.

Quero dizer, para as três partes.

A torcida do Grêmio festejaria esse negócio.

Agora, falando sério.

Ronaldinho só não vai terminar do jeito que era antes de Assis começar a ganhar dinheiro no Grêmio porque amealhou uma fortuna imensa.

Caso contrário, terminaria como muitos jogadores que hoje estão passando dificuldades, gente que um dia também já esteve lá em cima, cercado de mulheres, pagando festa para os ‘amigos’, etc.

Cada um é responsável por suas escolhas.

ADEUS

Soube agora há pouco da morte de um velho companheiro, o Carlos Alberto Fruet. Grande jornalista, grande figura humana, um sujeito ético, íntegro. Que vá em paz, com muita luz, amigo. Vai demorar muito, se Deus quiser, mas um dia a gente se vê de novo.