Dida, três vezes Dida

Antes dos pênaltis, Dida foi até a beira do gramado para abraçar um Renato tenso e agitado. ‘Deixa comigo, chefe’, deve ter dito esse goleiro que é mais que um goleiro, é uma lenda.

E Dida passou a escrever mais uma página em sua trajetória de vitórias logo no primeiro pênalti. Barcos, um jogador vivido, rodado, sentiu o peso da responsabilidade e chutou para a defesa do goleiro Walter.

Aumentou a responsabilidade do goleiro gremista, a melhor herança deixada por Luxemburgo. O experiente Danilo cobrou e viu Dida crescer em sua frente. Defesa de Dida.

Depois, o promissor Alex Telles cobrou na trave esquerda. Romarinho cobrou e venceu Dida.

O Corinthians estava em vantagem quando o patinho feio fez o que o veterano Barcos e o garoto de ouro não conseguiram: mesmo nervoso, ele fez o gol, voltando a dar esperança à torcida que enfrentou a noite chuvosa para apoiar o time.

Na cobrança de Edenilson, mais uma vez Dida brigou e evitou o gol. Foi aí que apareceu Elano. O jogador que teve seu nome gritado pela torcida durante boa parte do jogo e que vem amargando a reserva com elevado profissionalismo deu a resposta que seu talento impõe. Gol.

Alessandro, capitão corintiano, foi para a quarta cobrança do time e não se intimidou: empatou tudo.

Na quinta cobrança, Kleber esbanjou categoria e tranquilidade. Na verdade, uma tranquilidade apavorante. Walter vai defender, pensei eu, assombrado por mil demônios.

Gol de Kleber.

Ficou tudo para ser decidido entre dois velhos companheiros de Milan: Alexandre Pato e Dida. Pensei: Dida deve conhecer todas as manhas de Pato. Vai defender.

E Pato fez a alegria gremista. Deu uma cavadinha mal aplicada e Dida defendeu com a facilidade que só os grandes goleiros conseguem passar a cada intervenção.

Classificado, o Grêmio encara o Atlético Paranaense, que eliminou o Inter com o empate por 0 a 0 em Curitiba.

Não terá seus três atacantes: Kleber e Barcos receberam o terceiro amarelo, e Vargas foi expulso.

Vargas é  um atacante perigoso, mas é um inconsenquente. Um jogador inconfiável. Ele perdeu duas grandes chances de gol. As melhores chances da partida. Na primeira, cruzada da direita, do Kleber, ele teve tudo para marcar, mas chutou muito alto com a goleira escancarada.

No segundo tempo, em outra jogada de Kleber, o melhor do jogo nos 90 minutos, Vargas entrou livre pela direita e chutou na rede pelo lado de fora. Foram as grandes chances de gol da partida.

Depois, Dida salvou a noite e justificou plenamente sua contratação, calando corneteiros não definitivamente, porque são poucos os torcedores que têm humildade para recuar em suas opiniões, mesmo quando um goleiro defende três pênaltis em cinco.

Não me lembro de algo assim.

Dida salvou Vargas, salvou Barcos e salvou Renato.

Graças a ele o Grêmio mantém viva a esperança de um título nacional.

Dida, Dida e Dida. Três vezes Dida.

Koff, Odone e a Arena

A propósito do debate público entre o presidente multicampeão, Fábio Koff, e o ex-presidente Paulo Odone, que entra para a história – para o bem e para o mal – como maior responsável pela construção da Arena e demolição do Olímpico, quero deixar muito claro, mais uma vez, que estou preocupado. Muito preocupado. Quase desanimado.

O pior é que eu e muita gente previmos que esse momento chegaria e que o clube Grêmio passaria por um longo período de turbulência a partir do contrato firmado com a empreiteira OAS, que, é claro e está no seu direito, nunca joga pra perder.

Se a OAS não ceder e revisar alguns pontos do contrato, a situação ficará muito, muito difícil. Se ela continuar intransigente e arrogante, desde já, proponho que nenhum gremista compre os imóveis que serão erguidos pela empresas às centenas. Que fiquem vazios, sem compradores.

Bem, seguem agora dois textos que escrevi no meu antigo blog, quando ainda trabalhava no Correio do Povo, há quase cinco anos.

Confesso que não me lembrava deles, mas sabia que havia opinado sobre o negócio. Infelizmente eu não estava muito errado. Mas acho que exagerei no titulo do primeiro. Confiram:

17/12/2008

Atestado de óbito

Os fatalistas não deixam por menos: a assinatura do contrato (lido por poucos e comentado por muitos) para construção da Arena vai selar o começo do fim do Grêmio. A morte do Grêmio.

O pessoal de um blog já fez até convite para o sepultamento. Não acredito que seja para tanto, mas depois do terremoto causado pelo contrato com a ISL (até hoje o clube sofre os efeitos da herança maldita) todo cuidado é pouco.

Por isso, é inaceitável essa pressa. Inventaram a história da Copa do Mundo para acelerar o processo. O que menos importa é erguer um estádio para sediar jogo da Copa do Mundo.

Parece que agora as coisas estão andando num ritmo mais lento, o contrato misterioso é analisado com calma e, principalmente, seriedade. Sei que tem muita gente séria debruçada sobre o documento. Por isso, acredito que no final tudo vai dar certo. Se houver algum problema, esse grupo vai vetar o contrato.

Fiquei sabendo, por exemplo, que se a construtora, famosa por abocanhar muito grana de sucessivos governos daqui e do exterior, falir, a Arena ficará para pagar os credores.

O Grêmio, então, ficaria sem Arena, sem Olímpico, sem nada. Confio que os conselheiros atentem para esse tipo de coisa, entre outros tantos aspectos que ficam nas entrelinhas.

Caso contrário, podemos começar a escrever o atestado de óbito e nele colocar todos os nomes dos responsáveis pela morte, um por um.

Escrito por Ilgo Wink às 22h11
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14/12/2008

Arena no Olímpico

O Conselho Deliberativo do Grêmio decide amanhã sobre o projeto da Arena.

Vou direto ao ponto: sou a favor da Arena no Olímpico mesmo, não no banhadão do Humaitá.

O grande problema seria a questão de área, de espaço. Isso seria resolvido com muito menos do que será gasto para comprar a área do Humaitá. Bastaria comprar alguns prédios junto ao Olímpico.

Resolvido o problema de espaço, reformar o Olímpico ou erguer outro estádio.

Nas duas hipóteses, o clube faria parcerias, a exemplo do que fez para erguer o Olímpico. O Inter também agiu assim e aí está o portentoso Beira-Rio.

Não há necessidade de vencer a alma para o diabo.

Até pouco tempo o Grêmio estava fechado com um grupo português, que acabou saindo fora porque tinha ou tem problemas. Mas era defendido com unhas e dentes pelos dirigentes do clube.

O negócio atual me parece nebuloso, não está muito claro. Não gosto dessa história de ter alguém bancando tudo para depois ter direitos sobre receitas do clube. O Grêmio não precisa ficar refém de nenhuma empresa. Pode andar e seguir em frente com suas próprias pernas e ajuda de empresários, sem comprometer seu futuro.

A matéria do CP deste domingo, feita pelo Carlos Corrêa, aponta para outro tipo de solução, algo que torna o clube dono do empreendimento.

O projeto do arquiteto Plínio Almeida me parece muito viável e melhor para o Grêmio. Confiram.

Se foi possível erguer o Olímpico (e o Beira-Rio) numa época em que não girava tanto dinheiro no futebol, por que não o seria hoje?

Fiz uma rápida enquete entre os gremistas da redação. Dez votaram. Sete a favor da Arena no Olímpico, dois no Humaitá e um ficou neutro.

Grêmio esteve mais perto da vitória

O gol do Inter logo no começo do jogo deixou o Grêmio mais alvoroçado que os sabiás nesta época de acasalamento em que eles passam a madrugada imitando, aos gritos, a voz esganiçada de D’Alessandro.

É um coral irritante de D’Alessandros.

Com esse esquema de jogar fechado, não levar gol e especular um na frente, o Grêmio sentiu o gol de Williams, após ótima jogada de Otávio, que passou no teste de fogo com louvor. Levou pau, mas não se intimidou.

O time realmente ficou perturbado. Pará estava transtornado, embora ele parece que sempre joga transtornado. A diferença é que estava agressivo demais, metendo a mão e o braço na cara dos adversários. Até demorou para levar o cartão amarelo, num lance com Otávio, o melhor do Inter disparado.

Souza fez uma de suas piores partidas. Falhou no primeiro gol de forma bisonha. Para agravar, ainda perdeu dois gols, conforme ele mesmo admitiu ao deixar o campo. Aquele lance no finalzinho, cruzamento do Kleber, era para matar o jogo. Ele cabeceou para fora.

A zaga também sentiu o gol logo aos 4 minutos. Tivesse o Inter um time melhor, poderia ter ampliado.

O Inter foi levemente superior no primeiro tempo até em função desse gol, da torcida praticamente toda a seu favor e também por causa de algumas atuações individuais do Grêmio abaixo da normalidade. Diria que de quase todos, a começar pelo Dida, que saltou tarde no gol de Williams. Mas foi um chute forte, rasante.

Aos 40, Ramiro, que voltou a jogar muito bem, lançou para Barcos na grande área. O zagueiro Jackson, que afastou Mário Fernandes do futebol por alguns meses com uma voadora que Leandro Vuaden ignorou, foi finalmente punido. Tentou interceptar e marcou um belo gol, encobrindo Muriel, que começa a pegar fama de goleiro com mala suerte.

Aparte: que diferença uma arbitragem de Gre-Nal com juiz de fora… Foi muito bem o juiz carioca.

No segundo tempo, o Grêmio jogou mais tranquilo, mais confiante. Começou a aparecer o futebol de Kleber e Vargas.

Com a bola mais trabalhada, os dois atacantes enlouqueceram a marcação colorada. Vargas com seus dribles perturbou os defensores.

Foi aí que Kleber começou a mostrar o quanto é inteligente pra jogar futebol. Aos 6 minutos, ele trabalhou toda a jogada com Ramiro – o lance todo me deu a impressão de jogada treinada, Kleber levou a bola para a esquerda, atraiu três marcadores, Ramiro encostou e ele deu-lhe a bola. Ramiro devolveu de calcanhar deixando Kleber livre. E aí a metida milimétrica para Vargas entrar, driblar Muriel e mandar para a rede, um golaço.

Kleber e Vargas foram os melhores do Grêmio. Pena que o centroavante não esteve no mesmo nível. Aí, a vitória seria inevitável.

Cinco minutos depois, Souza perdeu o gol ao cabecear para fora num lance em que saltou sozinho na cobrança de escanteio.

É claro que o Inter, empurrado pela torcida, não esmoreceu. D’Alessandro fez boa jogada, invadiu a área e foi derrubado por Bressan, para mim, o melhor da zaga.

Dida adivinhou o canto, mas não defendeu o chute do argentino.

No finalzinho, a chance desperdiçada mais clara do jogo: o rebote de Muriel no chute de Alex Telles, a sobra para Kleber, o cruzamento na medida para Souza, que cabeceou pra fora. Seria o gol da vitória.

O empate, diante daquele início tumultuado, foi bom para o Grêmio, que jogava fora. Mas que o gol perdido do Souza deixou um gostinho de quero mais, deixou.

Agora, vamos ao que realmente interessa: o jogo decisivo contra o Corinthians, que vale vaga na semifinal da Copa do Brasil, competição em que há chance real de título.

Enquanto isso, o Inter pega o Atlético PR em Curitiba. O Atlético foi batido pelo Goiás com facilidade na rodada, o que me dá a impressão que jogou com freio de mão puxado pensando na Copa do Brasil. O desafio do Inter é pior que o do Grêmio, que joga em casa.

VHS

Depois do jogo, a provocação bobinha do sabiá, digo, do D’Alessandro: “Tem time que olha de binóculo, mas também tem time que precisa de fita VHS para relembrar título”.

Primeiro, ele assumiu que olha para o Grêmio de binóculo. Muito digno da parte dele. No mais, realmente, está na hora de o Grêmio ter seus títulos registrados em DVD ou coisa parecida.

O atacante Kleber, ao ser informado disso pelos repórteres, mostrou que é lúcido também fora de campo: “O Inter passou a existir em 2006”.

Boa essa corneta, é saudável.

Se a rivalidade Gre-Nal ficasse restrita a esse tipo de brincadeira seria perfeito.

Favoritismo gremista e temor colorado

O Inter conseguiu o queria: quase nada de gremistas no Gre-Nal.

Não tenho nenhuma dúvida de que a direção colorada está assustada diante da perspectiva de perder o jogo, o que irá complicar muito o planejamento que prevê terminar o ano com Clemer.

O presidente Luigi fala no percentual de 2,5%. Hoje, na Gaúcha, para o Nandro Gross, o secretário de segurança do RS, que presidiu a reunião com a BM e a direção dos clubes, afirmou taxativamente que nunca houve acordo para o segundo jogo. Nunca. Quer dizer, desmentiu o presidente colorado. Senti que o Nando ficou surpreso.

O sr. Airton Michels disse que o Luigi mencionou os 2,5% depois de ficar definido que Inter teria 1,5 mil ingressos. Definição essa que partiu da BM, que não queria nenhum colorado na Arena por alegadas questões de segurança.

Aparte: o Corinthians vai receber 5 mil ingressos para quarta-feira. Agora pode? Ah, a torcida corintiana é composta de anjinhos, claro.

Então, o número de 1,5 mil colorados na Arena não partiu do Grêmio.

Foi aí, segundo o secretário, que Luigi falou nos 2,5% para o segundo clássico. O secretário apartou dizendo que a reunião era apenas, e unicamente, para definir o público do primeiro jogo.

Quer dizer, nunca houve acordo.

O comandante da BM dá a entender que houve acordo, mas suas entrevistas são confusas. O repórter perguntou se ele, o comandante, seria testemunha no caso de uma ação judicial sobre o assunto. Ele titubeou e disse algo assim: não sou testemunha, estava na reunião, mas não sou testemunha.

Estava na reunião e não é testemunha? Não sei o que ele anda falando hoje, mas no começo era uma maçaroca verbal.

Muito diferente do secretário, que foi simples e objetivo. Admitiu que houve tentativa do Inter em fixar o percentual, mas que isso não foi adiante ao menos nessa reunião.

O fato é que o resultado disso tudo é que o Grêmio terá meia dúzia de gato pingado no Centenário.

Sou mais o Nestor Hein, que não aceitou receber os 500 ingressos. Pena que uns gremistas foram lá em Caxias comprar ingressos.

Bom para a BM, que terá menos trabalho, e para o Inter.

Ah, só lembrando que Luigi negociou com a FGF para levar o jogo a Cascavel. Noveletto foi lá e acertou tudo, autorizado por Luigi. Depois, ficou pendurado no pincel, porque o Inter percebeu o prejuízo técnico que teria ao enfrentar um Grêmio com torcida – lá seriam pelo menos 10 mil gremistas.

Mais tranquilo um Gre-Nal sem a torcida do Grêmio, não é mesmo? Parabéns ao Inter.

FAVORITISMO

Com ou sem sua torcida atordoante torcida, o Grêmio é o favorito. Mas já foi favorito outras vezes e não venceu.

O Grêmio é favorito porque tem um time mais consolidado. A diferença de pontos em relação ao Inter deve significar alguma coisa, ou não?

O Inter tem um técnico noviço. Ele está tentando ajustar uma equipe. Lança mão de um guri de 18 anos como volante. Tem uma defesa vulnerável, os números mostram isso.

O problema é que o Grêmio não tem muito poder de fogo para aproveitar essa deficiência que o Clemer anda enlouquecido para corrigir. O s números escancaram a penúria ofensiva tricolor.

Mas, como a defesa colorada é fraquinha, um gol ao menos vai passar.

Já a defesa do Grêmio é uma muralha, como afirmei hoje na rádio Guaíba, ao meio-dia. E tem um goleiro excepcional.

Mas o ataque colorado é perigoso, apesar da fase ruim de Damião.

Ainda assim, acredito que o Inter não fará gol. Meu palpite: 1 a 0 para o Grêmio, gol de Barcos.

Ou então ficaremos no mais provável mesmo: 0 a 0.

Outra coisa, é estimulante um Gre-Nal com juiz de fora.

PRIORIDADE

Penso que a prioridade gremista não deva ser o Gre-Nal. O mais importante, sendo bem pragmático, é bater o Corinthians.

Acho que é por isso que apareceu uma lesãozinha no Rodolpho. Desconfio que o Riveros também será poupado.

Acho que contra o Inter o Grêmio vai com dois zagueiro, três volantes e três atacantes.

Contra o Corinthians será com três zagueiros.

Se eu tivesse que escolher entre vencer o Gre-Nal e vencer o Corinthians, ficou com a segunda hipótese.

Cansei de ‘festejar’ vaga.

Barcos e a extração de dente sem anestesia

O gol de Barcos foi o que de melhor aconteceu na Arena.

O primeiro tempo foi doloroso. Confesso que me vi numa cadeira de dentista. Extração de dente sem anestesia. É a imagem que faço para o futebol dos dois times, em especial o Grêmio, que só foi concluir a gol aos 40 minutos, chute do Lucas Coelho.

O Corinthians ameaçou mais que o Grêmio, que jogava em casa, diante de sua torcida. Quer dizer, pior que isso só mesmo uma extração de dente sem anestesia.

Fui para o intervalo pensando que só mesmo um milagre salvaria o Grêmio de um 0 a 0, sim porque não conseguia imaginar o Corinthians fazendo gol também.

Antes do jogo, pensava que o ideal seria começar com Maxi e Barcos na frente. Iniciar com  Lucas Coelho foi uma surpresa para mim, mas se pensarmos em termos de atacante não havia coisa melhor no banco.

O Paulinho, que entrou no final, é um Leandro piorado. Vai direto do junior para os veteranos sem escala.

Pois Maxi Rodriguez começou o segundo tempo, saindo um zagueiro. Renato está ficando mais ousado. A dor ensina a gemer, já dizia meu pai.

E foi de Maxi o lançamento para Barcos fazer o gol. O grande mérito no lance não foi de Maxi, mas sim de Barcos.

Um lance difícil. Não é para qualquer um dominar aquela bola no peito, colocando-a submissa para o arremate. É coisa de centroavante talentoso.

O chute cruzado no contra-pé do melhor goleiro do Brasil, disparado, foi certeiro, preciso como a broca do dentista no dente cariado. Com anestesia, claro.

O importante é que o Grêmio venceu, somou três pontos, como o Cruzeiro, que bateu o Flu.

O Atlético PR empatou e o Botafogo joga hoje.

Já o Inter ficou no empate. O que não deixa de ser bom resultado.

Agora, vamos para o Gre-Nal. Este sim é um jogo sempre tão tenso e sofrido que nem anestesia resolve.

Peñarol e a blindagem em torno de Luigi

É impressionante a blindagem em torno do presidente Giovani Luigi.

Como não tenho condições de acompanhar todos os jornalistas da área esportiva e agregados, estou recebendo relatos atordoantes de alguns amigos sobre o que andam escrevendo e falando a respeito de ser o Peñarol o adversário do jogo de inauguração do novo Beira-Rio.

Se o presidente Luigi não tivesse feito aquele comentário provocativo sobre a presença do Hamburgo na inauguração da Arena, acredito que ninguém neste momento estaria questionando a escolha colorada.

Ocorre que ao ironizar o convidado gremista, Luigi passou a impressão de que um clube de primeira linha do futebol mundial estaria na festa colorada no dia 6 de abril. Confesso que cheguei a pensar no Barcelona. Seria mesmo uma grande atração, com repercussão internacional.

Aí, é anunciado, com pompa e circunstância, um adversário menor no contexto atual do futebol. O Peñarol é um clube com uma história rica, vitoriosa, mas isso ficou no passado.

Para quem esnobou o Hamburgo, anunciar o Peñarol é quase uma afronta.

Alguns jornalistas da praça estão questionando a decisão, mas outros, sem qualquer constrangimento, não ficam nem ruborizados ao defenderem a escolha colorada, que, repito, seria aceitável em outra circunstância, nunca depois da fala inoportuna do presidente colorado.

Além do mais, o Peñarol tem muito mais vinculação com o Grêmio.

O que não deixa de ser uma homenagem ao primeiro clube gaúcho campeão da Libertadores e do Mundo.

Meus inquilinos

Minha casa não é grande, mas sempre cabe mais um. Por isso, não me neguei a dar abrigo ao casal amigo.

Afinal, seria por uns poucos dias.

Eles ficaram à vontade. Sentem-se em casa. Ajeitaram seu cantinho rapidamente, com muito carinho e cuidado.

Procurei ser o mais discreto possível para não atrapalhá-los. Por vezes, sinto-me um intruso, faço um barulho indevido. Esqueço e bato a porta, por exemplo.

Percebi que eles dividem o trabalho. Enquanto um fica mais recolhido, zelando pelo espaço conquistado, o outro sai, mas não se ausenta por muito tempo.

“Isso é que é amor”, penso, com uma pontinha de inveja, ao ver aquela movimentação, aquele zelo, aquele cuidado de um com o outro.

Quando estão afastados, ouço uma cantoria que suspeito seja de um para o outro.

Por vezes, me aproximo do espaço que eles preservam com tanta dedicação. Se eles estão juntos, um deles se afasta rapidamente. O outro fica me olhando fixo. Percebo que está tenso, preocupado.

Costumo alimentar nossos inquilinos. Jogo migalhas de pão, arroz cozido e até a ração do Elvis, nosso cãozinho natureba, que devora cenoura e brócolis tanto quanto carne de gado ou de frango.

Algumas vezes flagrei meus amigos atrevidos avançando sobre os restos de ração do Elvis.

Nada contra, mas acontece que eles se assustam e acabam fazendo cocô na pia, no chão, ma mesa. Um cocô grande, molhado. Um problema. Pior ainda quando piso em cima.

Hoje, no final da tarde, percebi que o recanto deles estava vazio, algo raro nos últimos dias.

Fiquei observando à distância. Em minutos, um deles voltou com uma minhoca presa no bico.

Sem ligar pra mim, pousou suavemente no ninho de ramos secos que eles fizeram na minha luminária, junto à porta dos fundos.

Desconfiado, ele olhou no entorno. Eu fiquei paralisado, mal respirava para não atrapalhar aquele momento. Ele, enfim, sentiu-se seguro e só então compartilhou o alimento com os filhotes que pelo jeito recém haviam nascido.

Imaginei os pequenos seres de bicos abertos, erguidos, aguardando aquela iguaria.

Logo, o outro se aproximou, também com alimento no bico.

Sinto que meus inquilinos são felizes. Estão instalados num lugar seguro, ao abrigo da chuva e do vento, e contam com a nossa discrição.

Sinto-me um pouco pai dos sabiazinhos.

Em breve eles estarão crescidos e, como os filhos da gente, sairão por aí, vivendo a vida deles.

Mas sei que estarão por perto.

Por isso, o ninho ficará ali, prontinho para quando eles voltarem.

ATENÇÃO

O texto acima é a minha forma de dizer que joguei a toalha no Brasileirão.

Cruzeiro patina, Grêmio vacila e Inter se ajeita

Está acontecendo o que previ. O Cruzeiro também enfrentaria uma fase ruim, porque não tem time para manter uma diferença tão grande de pontos em relação aos demais.

Sabia que o Cruzeiro começaria a perder, mas manifestei minha descrença no surgimento de uma equipe com qualidade suficiente para tirar proveito dessa queda do líder.

É o caso do Grêmio, que perdeu 3 pontos inacreditáveis em casa para o Criciúma e sábado deixou escapar uma vitória nos minutos finais do jogo. Com os cinco pontos, o time de Renato, que continua sendo um técnico desacreditado por parte da torcida gremista, estaria com o bafo na nuca dos mineiros.

Mas o Brasileirão é isso, um perde e ganha, com resultados surpreendentes se sucedendo.

CLEMER

A decisão de manter Clemer é a típica ‘não tem tu vai tu mesmo’. Por falta de opção melhor, fica Clemer até o fim do ano. Ao menos ele conhece bem o grupo e o pessoal novo da base.

Agora, não vejo em Clemer um técnico pronto para o desafio que tem pela frente.

De qualquer modo, o Inter goleou o Náutico por 4 a 1, depois de um começo meio assustador para os colorados, e isso dá tranquilidade para Clemer ajustar melhor o time.

Não vejo o Inter com chance de sequer ficar perto do grupo do rebaixamento.

Há candidatos mais fortes nesse sentido.

A FORÇA DOS SECADORES

Contra o Criciúma o Grêmio se abriu todo para buscar o gol da vitória. Por incompetência ofensiva – não me refiro apenas ao centroavante-zagueiro – não conseguiu fazer, até porque não criou oportunidades, como ainda levou.

Agora, contra o Fluminense, com um jogador a mais em campo, o Grêmio manteve sua estrutura – Renato trocou seis por meia dúzia -, continuou cauteloso, e de novo levou o gol no final.

Quer dizer, levou gol das duas maneiras, tanto abertinho e faceiro como fechadinho e medroso.

O que isso significa?

O time não tem ataque. Não tem um goleador, um matador.

Kleber luta como um desesperado e apanha como uma cachorro vira-lata. Barcos até que faz umas jogadas, mostra visão de jogo e coisaetal, mas decididamente não tem explosão, não tem arranque, é lento e mesmo quando tem oportunidade não vai para cima do zagueiro. Prefere o passe para o lado ou para trás, transferindo a responsabilidade.

Hoje, a exemplo do jogo anterior, ele concluiu uma vez, de cabeça, e o goleiro de novo salvou.

O Renato poderia ter colocado outro jogador no lugar de Barcos ali pelos 25 do segundo tempo. Maxi Rodrigues talvez. Ou Zé Roberto, deixando Kleber mais adiantado. Depois da expulsão, está certo, manteve o Barcos, pensando em aproveitar a vantagem para fazer o segundo gol, que até poderia ser do argentino, que não marca há muitas horas de futebol.

Mas em lugar do Biteco, que tem pose de craque e futebol de quem vai do junior direto pro time veterano, ele poderia ter colocado o Maxi. Afinal, o time estava com um a mais em campo.

Então, Renato precisa ter uma pouco mais de ousadia.

Está certo que ele queira insistir em sua receita, mas nos últimos dois jogos o bolo embatumou.

A continuar assim, o Grêmio não apenas corre o risco de se afastar do líder como dá chance para que outros encostem.

COTAÇÃO

Marcelo Grohe foi fantástico. O Grêmio tem dois grandes goleiros. Qualquer um pode ser titular.

Na defesa, destaque para Saimon, que salvou pelo menos um gol certo. Aliás, o trio de zagueiros foi muito bem. Bressan ainda fez o gol.

Já o meio de campo me pareceu meio perdido, marcação confusa, tanto que o Fluminense levou perigo muitas vezes.

Acho que faltou entrosamento, problemas de cobertura. No lance do gol de Sobis, um lance fortuito, com a bola indo para as redes com a força do olhar dos secadores, a marcação foi negligente. Repetiu o que houve contra o Criciúma.

O ataque foi de asma. E mais não preciso dizer. Quando ficou com um jogador a mais, percebi uma certa displicência quando o time chegava perto da área, muito toquezinho e pouca objetividade.

Por fim, que erro do bandeirinha ao marcar impedimento num lance em que Kleber saiu de seu campo.

Agora, com ou sem esse erro, o Grêmio teve todas as condições de ampliar quando ficou com um jogador a mais.

Não debito o empate na conta da arbitragem, mas que foi um erro grosseiro foi.

Impediu o que poderia ser o gol de Kleber e a vitória tricolor.

A falta do terceiro zagueiro

A turminha da ‘terra arrasada’ está acesa. A derrota de 2 a 1 para o Criciúma, dentro de casa, é realmente um acinte, uma afronta.

Agora, não se pode sair por aí alardeando nas redes sociais que esse ou aquele jogador não presta, que a derrota foi por falha desse ou daquele, que Renato errou, etc.

Primeiro, o time começou com uma escalação adequada.

No meu comentário anterior, eu sugeri algo parecido. Apenas Barcos de atacante, com Zé Roberto e Maxi vindo de trás, com Adriano e Souza de volantes. A diferença básica é que eu não mexeria nos três zagueiros. Renato optou por sacar um zagueiro e colocar um meia, o Elano.

Achei uma boa ideia, mas, agora, depois de ver o time levar dois gols de cabeça, fico imaginando que esses gols talvez não tivessem ocorrido.

Agora, para enfrentar um dos lanternas do campeonato, na Arena, a proposta de Renato estava correta.

Os primeiros 20 minutos foram muito bons, com o time em cima, criando situações. Barcos obrigou Galatto a uma grande defesa. Acho que foi a primeira conclusão a gol de Barcos, com perigo, nos últimos dez jogos. Alguma coisa está errada. Eu quero um centroavante que marque, sim, mas que marque preferencialmente gols, depois que vá marcar o o adversário. Mas essa é outra história.

Aquele início do Grêmio me deixou tranquilo. Tinha certeza de que a vitória viria com facilidade até. Aquele lançamento do agora ‘decadente’ Elano para o agora ‘decadente’ e ‘imprestável’ Zé Roberto foi um lance sensacional, mas Galatto salvou.

Escrevi no comentário anterior que seria preciso muito cuidado com o Criciúma. Afinal, o Grêmio jogaria desfalcado e o Criciúma tem alguns jogadores experientes e de boa qualidade. Citei o W. Paulista, lembrando que ele sempre faz gol no Grêmio. Não joga nada, mas faz gol no Grêmio.

O gol do Criciúma foi um balde de água fria. Ali pelos 15 minutos do segundo tempo comecei a perder a esperança numa reação.

Prestei muita atenção no Barcos. Um jogo como esse reserva alguns ensinamentos. Serve para tirar a máscara de uns e outros. Vejamos Barcos.

No esquema vitorioso – não podemos esquecer que o time estava sem seis titulares -, Barcos é destacado porque marca, prende a bola, defende a bola aérea. Por razões táticas, Barcos se torna mais um armador e um defensor do que um atacante.

Bem, no jogo contra o Criciúma, sem a obrigação de recuar para marcar e combater tanto na saída de bola, Barcos tinha que mostrar algo mais como jogador de ataque.

E aí Barcos naufragou. Recebeu inúmeras bolas, caiu em pelo menos dez delas, perdeu outras por lentidão ou falta de força e de técnica. Fez uns lances bons, mas foi muito pouco para um centroavante que precisa mostrar que é mais do que um jogador importante taticamente.

No esquema com o time titular, Barcos realmente é útil e até importante. Mas penso que Renato deveria testar a dupla Vargas e Kleber. Acho que ele não fez isso ainda porque Vargas não consegue ter continuidade, está sempre a serviço da seleção chilena. Então, ele mantém Barcos.

A noite só não foi pior porque Maxi Rodriguez iluminou a escuridão criativa do time no segundo tempo. O uruguaio fez uma bela jogada individual e marcou um golaço. Logo depois, fez outra boa jogada pela direita. Desconfio que ele saiu por cansaço. De outra forma, não tem explicação sua substituição minutos depois de fazer o gol e começar a ganhar confiança.

Renato ainda tentou algumas alternativas, como Paulinho, Deretti e Lucas Coelho. Mas seria pedir demais que esses jovens entrassem e fizessem o que os cascudos não conseguiram.

No finalzinho, o segundo gol. Lucas Coelho foi encoberto no lance, não tem culpa alguma. O que faltou foi um zagueiro naquela posição. Quem sabe um terceiro zagueiro não salvasse?

O importante é que se analise o jogo e seu resultado com calma, sem excessos como considerar que está tudo errado.

Não, não está. Foi um acidente de percurso, comum num campeonato tão longo, no qual as surpresas se sucedem.

A noite só não foi pior porque o Cruzeiro perdeu – e deve perder mais ainda, mas dificilmente deixará de ser campeão. Bom também foi o empate do Atl Paranaense. Já o Botafogo bateu o Náutico.

Grêmio segue vice, mas deixou de escapar a chance de se aproximar do líder. Frustrante.

O madrugadão e o esquema de Renato

Há muita discussão e especulação sobre o time do Grêmio para o jogo contra o Criciúma.

Antes de tudo, o time catarinense não é galinha morta. Pelo contrário. Tem alguns jogadores de qualidade, como Daniel Carvalho e o atacante Wellington Paulista, que gosta de fazer gol no Grêmio.

Tem, ainda, o Galatto, grande goleiro. No banco, o motivador Argel, Então, é preciso cuidado. Até porque o Grêmio não terá o valoroso trio que veio do Juventude, mais dois atacantes titulares, Kleber e Vargas, e ainda Riveros.

Ramiro e Riveros são símbolos desse time do Renato. Zé Roberto está no banco porque não consegue imprimir o mesmo ritmo que esses dois, marcando e atacando num vai-e-vem incansável e constante, conforme Renato explicou num programa de TV do centro do País.

O fato é que Renato não tem dois jogadores com perfil idêntico entre seus reservas.

Portanto, não tenho dúvida – e também torço por isso -de que ele vai dar uma alteradinha básica no esquema.

Mantém os três zagueiros e os dois alas, entrando Wendel, que mais parece um ponta esquerda tal a facilidade e qualidade na parte ofensiva.

Assim, garante a estrutura defensiva desse time que quase não leva gol.

Depois, uma linha de dois volantes: Adriano e Souza.

Mais na frente, dois meias: Maxi Rodrigues e Zé Roberto, com Barcos avançado.

Jean Deretti seria uma boa alternativa ao Maxi. Não acho que Paulinho tem estofo para começar a partida.

Mas, quem sabe é o Renato. A responsabilidade é dele. É nele que vai estourar.

Eu sou um mero especulador, um palpiteiro.

BRASILEIRÃO

A disputa pelo título está sonolenta. Parece aqueles filmes antigos do madrugadão.

Só tem um jeito de o campeonato retomar a vitalidade: o Cruzeiro começar a patinar. Até agora, o time foi muito bem, não teve recaída.

O que eu espero é mais que uma recaída, uma queda mesmo.

Só assim para o campeonato esquentar, o Grêmio ter chance de título, e a gente não pegar no sono no sofá.

CLEMER

Há um esforço coletivo em apoio ao Clemer. Afinal, é um profissional que está recebendo uma grande chance de se afirmar em nova função.

Até eu, no programa Cadeira Cativa, participei desse movimento, digamos, filantrópico, ao não fazer referência ao fato de que Índio cometeu um pênalti, não marcado, e principalmente que o Fluminense jogou muito desfalcado.

O que Clemer conseguiu foi reanimar alguns jogadores. É o caso de Damião, que voltou a ser aquele centroavante mais guerreiro, sem pretensão de ser um virtuose da bola.

Damião, respeitando seus limites técnicos, é um grande atacante.

O verdadeiro teste de Clemer será contra o Flamengo.

Se passar, pega o Náutico e aí pode até ser mantido.

NOS ACRÉSCIMOS

Clemer, no Cadeira Cativa da Ulbra TV, no intervalo, me disse que jogou com Renato no Flamengo. Rasgou elogios a Renato como jogador e como companheiro. “Um grande cara, o Renato”, reforçou Clemer, que se mostrou adepto da ideia de Renato: o importante é o resultado. O importante é vencer, se jogar bem e bonito, melhor, mas a prioridade é vencer. Clemer também quer um time com velocidade.