A escorregada de Abel e o drama de Renato

O técnico Abel Braga anunciou sua contratação pelo Inter para a próxima temporada.

Deixou os dirigentes colorados numa saia justa. Alguns reagiram contendo a irritação. O presidente Luigi chegou a gaguejar numa entrevista na rádio Guaíba.

Com o Brasileirão em andamento e um treinador comandando o time, os dirigentes tiveram que desmentir, mas sem desmentir de verdade.

Jornalistas compreensivos vieram em socorro dos dirigentes: ah, mas o Inter pensa também no Tite. Pura conversa. Abel está acertado, só que isso era para ser anunciado mais adiante, não agora.

O técnico Clemer ainda não foi ouvido a respeito. Tenho curiosidade em saber o que ele pensa de um colega de profissão anunciando que irá ocupar seu lugar a partir de janeiro.

O pior é que não ouço nem leio o pessoal da crônica esportiva criticando a declaração do Abel. Sei que o Abel é o técnico que levou o Inter ao mundial de clubes, fato que o faz ser muito amado por metade do RS, o que é muito justo.

Mas nem por isso ele pode ficar imune às críticas por essa escorregada ética.

Na defesa de Abel vão dizer que Clemer não passa de um interino. Sim, interino ele foi logo que assumiu, tinha até prazo de validade, que seria o jogo contra o Náutico. Aí, ele venceu e foi ficando.

Clemer cansou de manifestar seu desejo de seguir no cargo e, para isso, apostava nas vitórias e na vaga à Libertadores.  Toda a mídia dando força.

Mas os resultados não foram tão bons, o time agora joga basicamente para terminar a competição com dignidade.

Clemer é uma carta fora do baralho, mas as cartas ainda estão na mesa.

O que Clemer não contava, nem a direção colorada, é que Abel fosse abrir um bocão logo agora.

Mas não tem problema: a imprensa esportiva gaúcha acha tudo isso normal.

RENATO E OS CORNETEIROS

Treinador de futebol de grande clubes ganha muito, mas sofre.

Vejam Renato. Hoje, está levando pedrada como a Geni do Chico Buarque.

Por que? Simplesmente porque tentou manter a estrutura de time que levou o Grêmio a entrar no G-4, vencendo o campeonato paralelo com o Inter, e ainda na briga pelo título da Copa do Brasil.

Agora, se aos 4 minutos o time já está perdendo por 2 a 0 e se o ataque é essa inoperância crônica, uma reação fica quase impossível. Para qualquer time.

Ah, mas poderia ter começado com Elano e Zé Roberto. Sim, poderia. Mas quem garante que o time não levaria os mesmos dois gols no início?

E, perdendo, os mesmos que cobram esses jogadores no time, estariam apedrejando Renato por não ter mantido a proposta vencedora.

Também acho que Elano e Zé deveriam ser melhor aproveitados, mas respeito a opção do técnico, até porque Adriano é um volante eficiente e Matheus Biteco até pouco tempo era festejado como grande promessa, com boa marcação e qualidade para chegar na área adversária.

Agora, com dois gols em 4 minutos…

Nada que uma vitória em Curitiba não faça de Renato de novo, pelo menos até a próxima derrota, um grande treinador.