Começar de novo

‘Começar de novo e contar comigo…’, cantava Ivan Lins no anos 70/80, quando a música brasileira ainda não havia sido tomada por esse inço de mau gosto que hoje viceja no país.

O futebol é isso, um eterno começar de novo. Termina um jogo, começa outro. Frustração num campeonato, esperança no próximo. E assim vamos seguindo no embalo desse futebol, que, a exemplo da música, também perdeu qualidade.

Sábado de manhã acordei pensando em assistir à estreia do Zé Roberto. Logo verifiquei que ele não havia sido inscrito. Desisti.

E mais, decidi que enquanto jogadores como Marco Antônio e Léo Gago forem titulares eu não vou mais ao Olímpico.

Cansei. Mais um primeiro semestre foi jogado no lixo.

Vamos para o segundo. Agora, com a equipe reforçada, qualificada, não o suficiente para chegar ao título, mas talvez sirva para garantir uma vaga na Libertadores de 2013, quando mais uma vez teremos uma direção que armará um time modesto como tem ocorrido nos últimos anos.

Por enquanto, o que há é o campeonato brasileiro. E nele o Grêmio vai bem.

Felizmente, a imensa maioria da torcida não é como eu e vai a campo independente de que irá vestir a camisa tricolor. São uns heróis e a esses torcedores rendo minhas sinceras homenagens e até gratidão.

Torcedores como o meu primo Milton, que saiu da sala de recuperação do São Lucas ao meio-dia, após uma cirurgia realizada no sábado, e às 16 horas estava no estádio.

São uns heróis.

No final de contas, quem foi ao Olímpico saiu festejando uma vitória importante sobre o Flamengo. Poucos ficaram empolgados com o futebol do time, mas o que importa mesmo é vencer, somar pontos, porque a competição é longa.

O primeiro tempo foi terrível. Poucos se salvaram.

Uma das raras boas jogadas resultou em gol. Souza tocou para Kleber, que encontrou Moreno. O atacante driblou o goleiro, demorou para concluir, mas acabou fazendo 1 a 0.

Foi uma jogada de tabela, de aproximação, coisa rara nesse time ultimamente.

No segundo tempo, Werley fez 2 a 0 logo aos 2 minutos, desviando de cabeça.

Acabei de citar quatro dos melhores jogadores em campo neste domingo. A eles acrescento ainda Fernando, cada vez melhor. E Victor, claro, o Magnífico, embora alguns gremistas o queiram longe. Perdoai-os Senhor…

Com os 2 a 0, o Flamengo se abriu mais. O Grêmio criou inúmeras situações de gols, nem sempre muito claras, mas ficou evidenciada a falta de qualidade na hora de concluir, inclusive de Kleber, que voltou a jogar bem.

Gostei de Toni, que entrou no intervalo. Está um pouco inseguro, mas mostrou que é atrevido e que vai para cima da marcação. Gostei também do Edilson pela esquerda, mostrando que também ali é superior ao Pará.

Rondinelly entrou e mais uma vez deu outra cara para o meio de campo. A gente vê que o guri entra ansioso demais para mostrar serviço, o que é natural. Um dia, talvez ainda neste ano, ele irá começar como titular no lugar de MA. E aí saberemos qual o verdadeiro potencial desse jogador, que, só pela amostragem, já se viu que é superior ao titular.

Copa do Brasil foi pro saco. Agora, é o Brasileirão.

‘Começar de novo…’

Zé Roberto e o Olímpico

Eu já estava pronto para ir ao Olímpico. Queria ver a estreia do Zé Roberto.

Mas ele não foi incluído no Bid.

Então, larguei. Sair de casa para ver o Marco Antônio, o Léo Gato e o Pará, fora outras feridas, é demais pra mim.

Sobrevivi ao holocausto dos anos 70, mas não resistiria a esse trio dos infernos.

Vou deixar pra rever o Olímpico mais adiante.

Por enquanto, me contento com a foto que o Ducker, grande gremista e ótimo fotógrafo, tirou do estádio. É sensacional. Confiram:

Monumental: http://www.flickr.com/photos/ducker/5328858994/

Quem tiver interesse, ele está ampliando a foto em até um metro de largura. Contato:

site@ducker.com.br

Aqui no boteco tem um link para o site dele.

CONSIDERAÇÕES NUM SÁBADO ENSOLARADO

– sou a favor da contratação de Sandro Silva;

– sou a favor de trazer um meia de qualidade, antes de gastar com Sobis;

– mas não sou contra a contratação de Sobis, quanto mais qualidade melhor;

– sou a favor de contratar um zagueiro, um zagueiraço urgente;

– sou a favor de continuar com o Facundo Bertoglio, meia atacante rápido e criativo, e de 21 anos;

– sou a favor de liberar Marquinhos e MA, e em segundo plano o Léo Gago, para que eles sejam felizes em outro lugar e não causem a nossa infelicidade;

– sou a favor de começar a colocar o Biteco no time;

– sou a favor de começar jogos com o Rondinelly até pra ver se precisa mesmo de outro meia;

– sou a favor de emprestar o Olímpico ao Inter, pra ver se a nossa inhaca passa pra eles.

Recordar é viver: fracasso anunciado

Os textos abaixo, publicados em março aqui no boteco, já antecipavam o que aconteceu. Fui rotulado de pessimista, amargo, etc, e respondi que depois não viessem chorar no meu ombro.

Há o tempo de criticar para corrigir o que está errado e o tempo de só de torcer, quando já não há mais chance de mudar para melhor.

Nos textos abaixo (que recolhi na corrida, ficando só no mês de março), há referências ao Facundo, que o Grêmio está rejeitando para contratar Sobis mais ou menos pelo mesmo preço (tenho minhas dúvidas se o clube de Facundo realmente não concordou com alongar o empréstimo e se tudo não é feito só para contratar o ex-colorado, hoje com 27 anos e com lesões seguidas).

Quer dizer, o time precisa de um meia para jogar ao lado do Zé Roberto, e eles buscam outro atacante. Se tivesse dinheiro sobrando tudo bem, mas não é o caso.

Bem, da série Recordar é Viver:

3 de março (antes do jogo contra o Cerâmica)

Enquanto isso, fico no aguardo do Alex. Só um jogador desse nível pode colocar o Grêmio como forte candidato ao título da Copa do Brasil. Se ele não vier, ou outro de igual envergadura, vamos ficar de novo no meio do caminho. E eu já estou cansado disso.

8 de março (depois da virada ‘heróica’, 3 a 2, sobre o River Plate)

Esse Marco Antônio é o meio-campo mais omisso que eu conheci em meus 30 anos de reportagem esportiva.Já o Léo Gago, repito, é um jogador indefinido, nem volante, nem meia.

Outra coisa, volto a repetir, o Gilberto Silva foi um grande volante. Não é mais. Improvisá-lo como zagueiro é uma crueldade. Melhor mantê-lo como volante, um líbero, num esquema com três volantes.

O meia argentino fez toda a jogada do gol de empate, um golaço do Kleber.

Depois, Facundo fez o gol da vitória após grande jogada de André Lima, restabelecendo a lógica do futebol.

Facundo, repito, é o nome da esperança. Mas ainda é pouco, muito pouco para tornar o Grêmio uma equipe em condições de disputar o título da Copa do Brasil.

11 de março

Para mim, que vê o Gauchão apenas como um laboratório para ajeitar a equipe para a Copa do Brasil, o Grêmio realmente competitivo e que dá esperança de título começa com Facundo Bertoglio.

Ele tem tudo para jogar com os três volantes, saindo o MA. Mas também pode jogar ao lado do centroavante, como foi aproveitado por Luxemburgo nessa partida. Agora, essa possibilidade só no caso de ser contratado um meia como o Alex, que chegue e já tome conta da posição.

Por enquanto, a conquista da Copa do Brasil passa por Facundo Bertoglio. O argentino torna o time mais criativo, mais criativo e ousado. Afasta aquela mesmice do toque para o lado que os adversários agradecem.

18 de março

Os dois (MA e Gago) jogam no setor mais vital de um time de futebol. Ambos são esforçados, dedicados, mas quando aumentar o nível de exigência a gente sabe que eles não irão dar conta do recado. Agora mesmo, contra esses times esforçados do Gauchão, eles não conseguem convencer. Ao menos a mim.

Eu sei que alguns vão dizer que sou muito duro, amargo, negativo, pessimista. E eu vou concordar. Sou mesmo. Não me iludo mais com uma ou outra atuação, até porque nunca deixo de avaliar contra quem esse ou aquele jogador foi bem.

Então, resumindo: o Grêmio com Marco Antônio e Léo Gago juntos no mesmo time, um de cada vez ainda é tolerável; e com apenas dois volantes  na marcação e combatendo forte, não vai longe na Copa do Brasil.

26 de março

Se com Kléber estava difícil, sem ele a Copa do Brasil ficou ainda mais distante. A direção precisa agilizar a busca por reforços. A situação ficou pior. O time cada vez mais depende do novato Fernando. Antes, dependia dele para proteger a zaga. Agora, depende dele também para fazer gols.

30 de março

Analisando friamente, a lesão do GS, que teria fraturado o nariz, pode abrir caminho para que Luxemburgo encontre um zagueiro realmente em condições de ser titular e corresponder quando o time tiver pela frente adversários mais poderosos, o que irá acontecer se o Grêmio superar o Ipatinga.

GS, pela sua experiência, quebra o galho no Gauchão, mas não acredito nele contra um Palmeiras, por exemplo.

Com ele, já acho que mesmo sem reforços, e se não machucar mais ninguém, o Grêmio até pode ficar entre os quatro primeiros da Copa do Brasil.Título não, porque aí Luxemburgo seria mais que um treinador, seria um milagreiro, um santo. E santo a gente sabe que ele não é.

Sobrou bravura, faltou futebol

Sobrou bravura, dedicação, empenho. Faltou mais uma vez só o principal, futebol.

O Grêmio foi absolutamente incompetente no primeiro jogo, ao perder por 2 a 0 praticamente sem criar situação de gol, e hoje, em Barueri, foi valente e interessado, talvez com estímulo de um gordo prêmio extra, mas para reverter uma vantagem tão significativa na casa do adversário é preciso mais do que vontade, é preciso qualidade.

O Palmeiras foi mais competente. Os dois times se equivalem, foi um duelo de iguais conforme defini antes do primeiro confronto, quando só destaquei que um jogador poderia fazer a diferença: o Valdivia.

O chileno não jogou no Olímpico. E hoje entrou na metade do segundo. Não precisou mais do que isso para ele ensinar como deve jogar um articulador de verdade, talentoso.

Valdívia fez toda a jogada e marcou o gol que colocou um freio no ímpeto gremista, que recém havia feito 1 a 0, gol de Fernando, apavorando a torcida palmeirense e deixando Felipão ainda mais agitado.

O empate tranquilizou o Palmeiras, e perturbou o Grêmio. A classificação ficou mais distante.

Foi um jogo de superação, dos dois times. Difícil analisar tecnicamente cada jogador. Melhor destacar o empenho, a vontade. Pará foi o mesmo de sempre, só mais guerreiro. O mesmo em relação ao Léo Gago. Nem critico também o Marco Antônio. Eles fizeram o que estava ao alcance deles: correr, lutar, brigar pela bola.

A bem da verdade, nesse jogo eles não comprometeram mais do que alguns medalhões. Eles estiveram, por exemplo, ao nível de Kleber e Marcelo Moreno, que juntos devem ganhar perto de um milhão de reais. E isso é o que mais me preocupa, porque o Brasileirão está aí e o ataque vai ter que jogar mais do que vem jogando. Claro que com Zé Roberto a coisa já melhora, mas pelo que tenho visto os dois atacantes titulares terão que mostrar mais futebol.

Tanto bateram nessa história de Batalha de Barueri que por pouco o jogo não terminou em pancadaria. Rondinelly foi expulso  e Edilson, que acertou um soco em Henrique, também. Por momentos, foi inevitável pensar na Batalha dos Aflitos. Dois jogadores a menos – Henrique levou o vermelho antes de o jogo recomeçar -, chuva desabando e uma fumaça encobrindo o gramado.

Mas seria impossível reviver o jogo épico contra o Náutico. O Grêmio já não tem nada parecido com o moleque Anderson na equipe. Foi o que pensei por instantes.

O Grêmio estava perdendo a vaga na final de uma Copa do Brasil que estava até fácil de ser vencida. Bastava um pouco mais de qualidade, um simples articulador de verdade já seria suficiente.

Fiquei imaginando um Valdivia no lugar do Marco Antônio. Ou um Andrezinho.

A direção não soube montar uma equipe verdadeiramente capaz. Apostou suas fichas no craque da Lusa. O preço é esse, a eliminação de uma final contra o Coritiba, que não tem a mesma tradição, a mesma camisa.

Quer dizer, não será tão difícil ser campeão nacional de novo, depois de onze anos.

Sobrou bravura, faltou futebol.

LIBERTADORES

Enquanto isso, o meu treinador preferido, o Tite, vai disputar a final da Libertadores. O Corinthians vai pegar o Boca, que eliminou o Universidad com o empate por  0 a 0.

Com um time sem estrelas, mas sem nenhum jogador que realmente comprometa, Tite está chegando lá.

Estarei torcendo por ele, o treinador que levou o Grêmio ao seu último título nacional.

Arena e grenalização

Pode ser apenas coincidência, mas parece haver grenalização no Ministério Público. Existe uma ação questionando aspectos ambientais da área (e valores pagos em compensação pelos eventuais danos)  onde está sendo erguida a majestosa Arena. E existe outra questionando a presença de público nos jogos durante as obras no Beira-Rio.

Independente disso, a Arena cresce a cada dia, deslumbrando a todos, inclusive a torcedores moderados do Inter, e causando inveja e olho grande em uns e outros.

Então, como o futebol vai mal, melhor falar da Arena. Confiram:

http://arenadogremio.blogspot.com.br/2012/06/obras-da-arena-maio2012.html

Ah, estão plantando a notícia de que o Grêmio quer Sobis. Não sou contra, mas antes dele

precisa vir um grande articulador. Melhor investir num meia criativo do que em outro atacante.

Se é para trazer um ex-colorado, então que se busque o Alex, que está no Corinthians.

A arte de 'matar' Kleber e Moreno

Kleber e Marcelo Moreno estão virando atacantes comuns nesse time sem meio de campo e sem laterais que cheguem com alguma qualidade e eficiência.

Luxemburgo tem sua responsabilidade, mas o principal é que o time possui carências técnicas gravíssimas, principalmente no setor mais vital, decisivo, fundamental e todos os adjetivos nessa linha, que é o meio de campo.

Como agravante, a ausência de Fernando, que, diante de incompetência na articulação, está se tornando absolutamente imprescindível, e não apenas para destruir, mas também para armar, fazendo a função do fantasminha Marco Antônio, que parece não ter sangue nas veias. Um carimbador de bola sem talento e criatividade é titular do Grêmio desde o começo do ano. E desde o começo do ano eu critico esse jogador, que, repito o que venho dizendo, não tem culpa de estar no Grêmio.

Léo Gago é outra figura inaceitável como titular. Até admito que esse jogador esforçado, que tem como principal atributo a vocação para mandar a bola para fora do estádio, renderia mais se tivesse um ala esquerdo de verdade e não o pobre do Pará, que já não é bom na sua posição que dirá na lateral esquerda.

Voltando ao ataque: alguém pode dizer quantas situações claras, reais e inquestionáveis de gol o Grêmio criou nos dois últimos jogos? Nos últimos 180 minutos? CENTO E OITENTA MINUTOS.

Assim, de cabeça, arrisco dizer que foi zero. ZERO.

Hoje, Luxemburgo quase acertou o time. Ele sacou um volante, e isso foi um erro. Deveria manter a estrutura que melhor funcionou até agora, mas colocar o Miralles, como fez. Só que no lugar de MA.

Antes disso, eu colocaria o Rondinelly, não o Miralles. O guri tem entrado bem, mas está mais do que evidente que ele precisa pegar ritmo, começar uma partida, até para que possa ser avaliado corretamente.

Então, sem dúvida, MA vai começar contra o Palmeiras. Só com lesão o MA sai do time. Mas como ele não segura a bola, não dribla, dificilmente levará uma chegada mais forte. Lesão só se for muscular.

Como castigo por tanta incompetência, o Grêmio voltou a perder no finalzinho. Mereceu levar o gol.

A arbitragem foi dura com o Grêmio. Cartões amarelos foram dados com muita facilidade. O primeiro cartão do Grolli, por exemplo, foi um exagero. Depois, ele levou outro e foi expulso. Já os do Náutico bateram, até por trás, e ficaram impunes.

Assim, a dupla Gre-Nal, que havia largado bem, deu uma de cavalo paraguaio muito antes da reta final, empacando no campeonato.

O Inter, mesmo com a tão aguardada volta dos titulares pelo técnico Dorival, foi mal e mereceu a derrota. Vi apenas o segundo tempo. Achei o time desinteressado, quase negligente. Salários atrasados?

Afinal, como se sabe, o Inter precisa vender um grande jogador por ano, dito por seus dirigentes.

Dorival Jr foi afrontado de novo pelo lateral Fabricio, um jogador razoável que mal chegou e já está querendo botar banca. Parece que não se enxerga.

Dorival disse que iria conversar com ele no vestiário. O vice de futebol considerou a atitude de Fabrício, que saiu de campo lentamente na substituição e o time já perdia por 2 a 1, normal. Humm…

Show de Andrezinho. Está aí um articulador de verdade. Imagino Andrezinho no lugar de MA. O título da Copa do Brasil então sim seria possível.

Aflitos: recordar é viver

A Batalha dos Aflitos foi um momento único na história do futebol mundial. Um feito destacado em todo o mundo.

Eu estava sozinho em casa na hora do jogo, ainda bem. Tenso. Muito tenso. O time jogava mal, pessimamente, e eu tentava me conformar em ficar mais um ano na segundona, culpava todo mundo, queria a cabeça de dirigentes, treinador, etc.

Aí, São Patrício arrumou aquele bendita confusão após a marcação de um pênalti inexistente. Se São Patrício não tivesse feito aquilo, criado aquele clima explosivo, talvez São Galatto não tivesse defendido, e a história seria outra.

Mano Menezes, por exemplo, não estaria na Seleção.

O jogo foi num sábado. Domingo à noite escrevi o texto abaixo para um caderno especial que o Correio do Povo publicou encartado na edição do dia seguinte.

Eu havia esquecido completamente disso, mas fui lembrado por um torcedor no twitter, ontem ou sexta-feira.

Ele me elogiou, disse que eu escrevi com o coração, e que havia chorado ao ler o texto. Bem, era essa a intenção.

Curioso, fui atrás do texto e o encontrei. Espero que provoque ao menos uma lagrimazinha.

Recordar é viver:

PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2005

Nada pode ser melhor

Ilgo Wink

Quando Lupicínio Rodrigues compôs o hino do Grêmio, não imaginava que a expressão ‘imortal tricolor’ acabaria por integrar-se à trajetória do clube. Nos anos que se sucederam, não foram poucas as vezes em que o Tricolor, aparentemente exaurido e batido, foi além de suas forças, superou limites e, por acreditar que não era impossível, venceu.

O que aconteceu sábado, dia 26 de novembro de 2005, em Recife, marca um desses momentos, se não o maior de todos, o mais dramático, o que mais contribui para reforçar a lenda da imortalidade. O Náutico tinha um pênalti a seu favor e enfrentava um grupo de sete jogadores acuados em um ambiente adverso e hostil. Nas arquibancadas lotadas, a torcida do time pernambucano lembrava os romanos no Coliseu. Só faltava sinalizar com o polegar para baixo para decretar o fim do sonho gremista de voltar à Primeira Divisão.

Foi a partir desse momento que o Grêmio começou a escrever dez minutos rutilantes, que entram para a história como um dos mais belos momentos do futebol. O jovem Galatto defendeu o pênalti. Era o segundo que os pernambucanos desperdiçavam. O estádio ficou em silêncio. Jogadores do Náutico desabaram no gramado.

De repente, o pequeno grupo cresceu, tornou-se um gigante no gramado. Outro garoto, Anderson, transformou-se em um veterano de espírito travesso e atrevido. Foi para cima do rival atordoado e, por não duvidar que era possível, fez o inimaginável àquela altura: o gol.

O Grêmio realizava um feito homérico, construído por sete ‘ulisses’, que não esmoreceram quando até os mais fanáticos gremistas já haviam desistido. O Grêmio sai das profundezas da Segunda Divisão iluminado pelos deuses do futebol. Volta ao seu lugar, porque nada pode ser melhor do que estar entre os grandes e seguir buscando o impossível.

Correio do Povo

Porto Alegre – RS – Brasil

O torcedor antes de tudo é um forte

Acordei com uma dúvida me atormentando: eu sou um homem ou sou um rato? Passei o dia refletindo. Li e ouvi alguns torcedores do Grêmio e fiquei com a sensação de que estou mais pra rato.

Ainda mais depois que soube que alguns companheiros do blogremio – briosa corporação de blogueiros gremistas – já compraram passagem e ingresso para ir a São Paulo no jogo da volta contra o Palmeiras.

Vergonha. Eu aqui afundado, trabalhando como um louco para afastar a depressão, evitando noticiário e debates esportivos, e os caras prontos pra luta, acreditando ainda na classificação.

Parodiando o Euclides da Cunha, ‘o torcedor antes de tudo é um forte’.

Eu ainda tenho uma desculpa: sou aquele tipo de torcedor chato, forjado nos duros anos 70. Fico apontando defeitos, analisando. Um cara que não consegue disfarçar seu desconforto quando vê que seu time se encaminha rumo ao precipício, e que, na verdade, se esquece de torcer. Confesso, sou um mala.

Mas, decididamente, não sou um rato. Cheguei à essa conclusão no começo da noite, depois de degustar uma Mazembier gelada no ponto.

Por que será que fico com moral elevado, mais animado, mais confiante, mais feliz sempre que bebo a Mazembier? A cerveja desce redonda, espuma cremosa.

O torcedor é mesmo um forte. O torcedor do Inter também. Levou aquela paulada humilhante de um modesto time africano, ficou todo desconjuntado, mas está aí de novo nos escombros do Coliseu gaudério vibrando como um desvairado, como fez contra o Fluminense para desabar mais uma vez.

Não adianta, é assim mesmo. É um perde-ganha sem fim.

No futebol se ganha, se empata e se perde como dizia o filósofo Dino Sani.

No meu caso, mais perdendo do que ganhando.

A Copa do Brasil já foi, é passado, embora respeite quem pense o contrário – a diversidade de opinião também faz parte do universo do futebol, mesmo entre torcedores do mesmo time.

O torcedor também essa característica: a de acreditar sempre, até o último minuto. Afinal, se o Palmeiras fez dois gols aqui, por que o Grêmio não pode fazer o mesmo lá em Barueri?

Eu poderia responder essa pergunta, mas ficaria muito tempo escrevendo. Mas resumo: o Grêmio não tem capacidade de criação ofensiva para reverter os 2 a 0.

Neste domingo, tem o Náutico. O Grêmio vai com força máxima, de acordo com o que eu penso: foco agora é o Brasileirão.

Eu não sei bem o que é força máxima do Grêmio. Em princípio é o time eleito por Luxemburgo como titular.

Mas uma força máxima que tem Marco Antônio como titular realmente é mínima, porque, como tenho escrito há tempo,deixa o time com um jogador a menos.

Luxemburgo poderia começar o jogo contra o Náutico com o Rondinelly, ao menos a gente saberia se pode realmente contar com o guri.

Até o Miralles na meia faria mais que o MA.

Bem, estou pronto pra outra.

Brasileirão passa a ser prioridade

Tem vezes em que eu detesto e lamento acertar nas minhas análises.

Esta é uma delas. O que eu escrevi antes do jogo continua valendo.

É difícil um clube ser campeão tendo três jogadores de nota no máximo 5 ou 6 juntos ao mesmo tempo numa equipe.

Citei os três: Léo Gato – que incrivelmente tem alguns admiradores -, Pará e Marco Antônio. E observei que se eles tivessem uma atuação que ao menos não fosse comprometedora o Grêmio teria mais chances de vencer, e citei o placar de 1 a 0 com equivalente a uma goleada dependendo de como estivesse o jogo.

A vitória por 1 a 0 teria sabor de goleada, porque a produção ofensiva do Grêmio, que jogava em casa com sua torcida, foi pífia, abaixo da crítica. Por isso, 1 a 0 seria mágico.

Acrescente-se aos três jogadores de time de série B o Gabriel e temos aí quatro jogadores comprometendo, sem falar nos atacantes, completamente sem criatividade, sem brilho individual, com exceção de Miralles em alguns lances.

Adicione-se a tudo isso a demora do Luxemburgo em sacar o MA para colocar Rondinelly, que não fez muito, mas fez o suficiente para mostrar que é melhor que MA, o que também não significa grande coisa. O guri ao menos arrisca o drible e sai da mesmice do toque de primeira pro lado e pra trás.

Léo Gago abusou de chutar mirando as estrelas. Na verdade, ele quando chuta de longe é porque não sabe o que fazer com a bola. E há quem o elogie.

Pará tem a seu favor o fato de jogar improvisado na esquerda, mas ele não precisava recuar, recuar e recuar para que Cicinho avançasse e metesse a bola para o primeiro gol do Palmeiras.

Gol marcado por um jogador que Felipão recém havia colocado em campo. Felipão, aliás, foi melhor que Luxemburgo nesse duelo particular. Repetiu, aliás, o que aconteceu na década de 9.

Luxa errou ao sacar Kleber e Miralles ao mesmo tempo. Ao colocar dois grandalhões ele confessou que não tem time para trabalhar a bola e facilitou tudo para o trio de zagueiros.

Enfim, o Grêmio está eliminado. É claro que o jogo só acaba quando termina, como dizem nos botecos da vida depois de uma dúzia de cerveja.

Enquanto há vida há esperança. E a esperança é a última que morre.

É claro que vou torcer até o fim, como fiz até agora, mesmo tendo previsto há muito tempo que o  Grêmio talvez nem chegasse à semifinal, e chegou.

Eu que sugeri time misto para enfrentar o Náutico, agora retifico: força máxima.

O Brasileirão passar a ser o principal objetivo, a prioridade.

A Copa do Brasil terminou, ao menos pra mim.

Para concluir, repito o título do comentário anterior, e pelo qual fui criticado:

Jogo de iguais no Olímpico.

A diferença foi o técnico, porque os dois times são precários tecnicamente.

Jogos de iguais no Olímpico

Confesso que fico preocupado quando começo a ler e a ouvir que o Grêmio tem um time superior ao do Palmeiras e que por isso é favorito.

Parte de quem se manifesta assim é torcedor colorado querendo minimizar uma eventual vitória gremista, diminuindo o valor do adversário.

Outra parcela são de gremistas confiantes demais, quase eufóricos, que já começam a achar jogadores ‘bola 5 ou 6″ como superiores aos dos rivais. Não os critico, porque onze anos de espera não é pouco tempo.

Dá, por exemplo, pra concluir duas faculdades e encaminhar uma terceira. Dá pra fazer meia dúzia de filhos. Dá pra cair de novo pra segundona e voltar. Dá pra ver o Inter ser campeão do mundo após 23 anos de inveja mortal.

Há onze anos eu não tinha tantos cabelos brancos e minhas rugas eram mais suaves. Há onze anos, não existia este blog, eu ainda não pensava em sair do Correio do Povo. Lula ainda não havia assumido a presidência. Quer dizer, 2001 até que foi um bom ano em comparação com 2002 quando a onda petista  se avolumou, tomou o poder e de lá não quer sair de ‘jeito maneira’.

O que eu quero dizer é que Grêmio e Palmeiras são iguais, gêmeos siameses. O Palmeiras vai mal no Brasileirão. E daí? O Palmeiras está em crise, e daí?

Há boatos de que os jogadores querem derrubar Felipão. E daí? Se é verdade, eles farão isso depois da Copa do Brasil, que podem ter problemas de caráter, mas não rasgam dinheiro.

Então, meus amigos, todo o respeito é pouco.

Nesse sentido, gosto do discurso do Luxemburgo. Ele conhece Felipão, nós conhecemos Felipão. E ele, como Luxemburgo, não está superado.

No jogo desta quarta, o Grêmio tem a vantagem de jogar com o peso de sua torcida, e a ausência de Valdívia, principal jogador do Palmeiras. Então, é preciso fazer vantagem. A vitória por 1 a 0 é boa, mas talvez não seja suficiente. Melhor é uns 2 ou 3 a zero.

É claro que dependendo do que acontecer no jogo, o minguado 1 a 0 talvez seja motivo para soltar foguetes.

Sobre o time: acho que Luxemburgo vai com Moreno e Kleber. Este é o tipo de jogo que se decide com um começo avassalador, pressão total, sem deixar o adversário respirar.

André Lima e Miralles que esperem.

No mais, é preciso acreditar que os nota 5 ou 6 do time (Pará, Gabriel, MA e Gago) tenham uma noite de um futebol que, se não for deslumbrante, ao menos não comprometa.

CONTRATAÇÕES

A direção está se mexendo pra reforçar o time. Mas o momento é de silêncio total. É preciso prestigiar os jogadores que aqui estão, não de ficar anunciando interesse para esta ou aquela posição. Pra mim, o que importa agora é apenas uma coisa: a Copa do Brasil.

O resto a gente vê depois. Ah, time misto ou reserva contra o Náutico, por favor.