O papel aceita tudo

Nos velhos tempos das laudas e das máquinas de escrever (Remington e Olivetti, por exemplo) era comum um colega provocar o outro, que insistia em especular nomes de reforços para a dupla Gre-Nal. Dizia, rindo de orelha a orelha:

– O papel aceita tudo.

Hoje, seria ‘a tela branca aceita tudo’.

O que tem de gente lançando nomes de possíveis contratações pelo Grêmio. A maioria dos nomes tem origem em empresários loucos pra faturar algum. Lançam o nome com a ajuda do jornalista, que pensa estar dando um ‘furo’ na concorrência. O dirigente preguiçoso ouve aquilo e, de repente, está mantendo contato com o empresário, que leva consigo, claro, um DVD com lances fenomenais de seu jogador.

Hoje mesmo li um blog em que são citados três nomes, nenhum deles de empolgar, até pelo contrário. Mas os jogadores são referidos num texto que tem como ilustração o presidente Romildo Bolzan. Alguém mais distraído vai imaginar que Bolzan pode ser a ‘fonte da informação’. Nos comentários, gremistas dando pau no presidente.

A matéria fala em Rodinei, este sim com contratação encaminhada. Bom jogador. Depois, cita o zagueiro Felipe Trevisan, do Hannover. Esse jogador vive um período de muitas lesões. Quase não tem jogado. E as informações sobre ele, tecnicamente, não são nada estimulantes.

Por fim, Marcelo Toscano, vice- goleador da série B (o que pra não significa nada, quer dizer, significa que é um jogador de série B, onde com certeza existem opções melhores) pelo América MG. Alguém já ouviu falar nesse atleta, que já tem 30 anos?  Outro Vitinho, não.

Esse tipo de notícia cai como um balde de água gelada na cabeça dos gremistas, que esperam ver um time realmente competitivo para disputar a Libertadores. Mas disputar mesmo, pra valer, com chances concretas de título.

Será a quarta tentativa do esforçado diretor Rui Costa, que, pelo jeito, vai continuar dando as cartas.

SUGESTÕES

Bem, como a tela branca aceita tudo, encaminho minhas sugestões, mesmo sabendo que não serão consideradas.

O Grêmio precisa de titulares de alto nível para duas funções: articulador e goleador.

Investimento pesado apenas para contratar um meia que alie técnica com velocidade e movimentação; e um atacante que se movimente, mas que não fuja da área e tenha grande capacidade de finalização.

Depois, completar o time com um lateral direito mais efetivo que Gallardo;

um zagueiro com mais imposição, um xerife, um cara que faça gols de cabeça, algo raro no Grêmio. Ah, que meta o dedo na cara de algum argentino de voz esganiçada;

um volante com mais pegada, mordedor, que suje o calção, que não tenha vergonha de dar chutão quando necessário e que saiba fazer lançamentos como fazia o Dinho.

O restante pode ser completado com boa parte do elenco atual e o aproveitamento de jovens da base.

 

 

Derrota, mais que goleada, ensina muita coisa

Sempre se pode tirar proveito de um resultado negativo, como foi esse diante do Inter no Beira-Rio. Nem tanto pelo resultado em si, mas principalmente pelo desempenho do time.

O time titular do Grêmio caiu diante do mistão colorado.

Pelo retrospecto recente, era jogo para o Grêmio vencer, não com outra goleada porque os 5 a 0 são tão atípicos quanto os 6 a 1 dos reservas do Corinthians sobre o São Paulo – quem gosta de campeonato de pontos corridos pode festejar esse final deprimente, sem empolgação.

A emoção se reduz a disputa por vaga para isso ou aquilo, já que o título mais uma vez foi decidido a muitas rodadas antes do fim.

O Grêmio jogou mal. Foi um pouco do Grêmio empolgante que a gente viu neste Brasileirão só depois dos 30 ou 35 minutos do segundo tempo. 

Até ali o time foi, digamos, comandado por Douglas. Bem, Douglas não acertou um cruzamento decente nos escanteios e faltas. O que não é nenhuma novidade. A tal metida que deixa o companheiro na cara do goleiro não aconteceu.

Desculpe, aconteceu sim. Foi do Maxi Rodriguez, que deixou o aipim argentino em condições de marcar, mas o chute parou nas mãos do goleiro colorado. Sem dificuldade. 

Maxi me parece um jogador doente, fraco, mas penso que ele poderia ter entrado antes no jogo. No lugar de Douglas. Roger optou por Bobô. 

E é por aí que eu começo a mostrar que um resultado negativo dessa magnitude tem aspectos positivos.

Por exemplo, mostrar quem deve continuar no clube em 2016. Bobô pode seguir em frente. Parece que Tite andou interessado nele. Tite é mágico, talvez consiga transformar Bobô num goleador. 

Além de Bobô há muitos outros. Douglas é um deles. Poderia ser reserva, mas é um risco deixar um jogador como ele no banco.

É claro que não podemos basear essa limpa apenas na atuação deste domingo. Tem o conjunto da obra. A média das atuações. 

Erazo, que eu gosto, falhou no gol colorado, na grande jogada de Dourado pela direita. Ele dividiu com elegância, porque ele é elegante e o jeito de jogar do time comandado por Roger é assim, elegante. Dificilmente dá chutão. Tem ganhar a disputa na técnica e sair jogando com qualidade, bola rente ao gramado. A gente sabe que isso não funciona sempre, principalmente na Libertadores.

Erazo só pode ficar se entender que em Gre-Nal é proibido ser elegante o tempo todo.

Gosto desse estilo implantado por Roger, de muito toque de bola, deslocamentos, é bonito, mas quando o adversário marca os jogadores mais criativos a coisa complica. Por isso que de vez em quando uma bola longa ou um chutão pode cair bem.

Douglas, sabemos, sucumbiu. Luan, idem. Mas Luan ainda teve alguns lampejos apesar da forte marcação, inclusive com sequência de faltas. Douglas, salvo engano, não sofreu falta. Não precisou. 

O melhor do time foi Wallace, inclusive pela entrada forte no argentino provocador ainda no primeiro tempo. Em bom nível o Geromel. Giuliano entrou no jogo apenas no segundo tempo. Roger precisa rever essa ideia de deixar Giuliano tipo um ponta direita. Ele cresce quando começa a aparecer pelo meio, mas isso só acontece quando Douglas sai.

Derrota em Gre-Nal ensina muita coisa. Começa por mostrar que a realidade não é nem nunca foi aquela goleada de 5 a 0.

Agora, se o Grêmio entrasse realmente determinado a vencer, sem pensar no pontinho fora que garantia a classificação, acredito que as coisas teriam sido diferentes. 

Por fim, o Grêmio mais uma vez dando uma mãozinha para o Inter disputar a Libertadores. 

ARGEL

Argel tratou de anular a criação do Grêmio. Conseguiu. Houve algumas pancadas, mas o Grêmio também bateu.

O juiz foi bem. Ouvi o Márcio Chagas pedindo cartão amarelo desde o começo para o jogo não fugir do controle. Casualmente, para jogadores do Grêmio que deram duas ou tres entradas mais fortes no início. Mas nada para cartão amarelo. 

É a mentalidade do técnico gaúcho, assustado com o clássico.

Ricardo Ribeiro foi comedido nos cartões e controlou o jogo. Simples.

Juiz de fora sempre. Até no Gauchão, se for possível.

O Gre-Nal tem tudo para ser de alto risco

Esse juiz, o Ricardo Marques Ribeiro, vai comer o pão que o diabo amassou neste Gre-Nal.

É jogo de altíssimo risco.

Seria pior se o juiz fosse local. Mas bem que o clássico merecia um juiz mais disciplinador, alguém que se imponha e não deixe que determinado jogador metido a juiz apite o jogo.

Um juiz que não permita que o fair play seja pisoteado debaixo de suas fuças como aconteceu na vitória colorada sobre a Ponte Preta, quando o gol da vitória aconteceu 35 segundos depois que a bola não foi devolvida ao adversário.

Nem vou comentar o fato de que nos últimos três anos o Grêmio não venceu um jogo sequer com esse mineiro, conforme estatística publicada no cornetadorw deste sábado. Bem, pela lei das probabilidades, que ainda não foi revogada, se aproxima, então, a primeira vitória gremista com o Ricardo Ribeiro.

Mas o que me faz prever um jogo muito tenso, em que qualquer fagulha pode levar a um incêndio de proporção imprevisível, é que este Gre-Nal tem alguns componentes perigosos.

O primeiro: o Grêmio neste momento é bastante superior ao rival, que joga em casa, mas desfalcado de alguns titulares decisivos como Valdívia. Mas o colorado nem quer saber disso, quer superação, quer vitória.

O segundo: o Inter entra em campo com uma goleada entalada na garganta. A torcida exige uma resposta que talvez o time não tenha condições de dar em função do futebol que vem apresentando, o que pode gerar um ambiente de tensão acima da média de outros clássicos.

O terceiro, e o mais importante: para equilibrar o jogo o Inter talvez tente se impor à força, incentivado e amparado por sua torcida e sob os olhos de um juiz titubeante disciplinarmente. Um juiz que precisará de pulso firme para neutralizar as tentativas de D’Alessandro se apossar do apito. Um juiz que terá de ficar atento às tentativas do time mais fraco no momento de equilibrar o jogo cavando expulsão desde os primeiros movimentos.

Como já dizia Newton, “toda ação provoca uma reação de igual ou maior intensidade, mesma direção e em sentido contrário”.

Enfim, de um lado um time sereno, com um treinador comedido; de outro, um time que joga sob a desconfiança de sua própria torcida e sob comando de um treinador, digamos, explosivo, com o agravante de estar sob forte pressão. 

Espero estar errado e que o Gre-Nal transcorra dentro da normalidade. Se isso acontecer, ganha o Grêmio.

 

O Gre-Nal e o cuidado com as palavras

O Grêmio bateu o Fluminense por 1 a 0 com toda a justiça. O Inter, como se previa, penou em Chapecó e, também com justiça, foi batido por 1 a 0.

Não assisti aos jogos porque, pra variar, fiquei sem energia elétrica em função da chuva forte que castigou Porto Alegre mais uma vez.

Vi os compactos. Pela amostragem, fica clara a superioridade gremista. O mesmo em relação à Chapecoense, com direito a um showzinho extra do D’Alessandro.

O argentino, aparentemente, se esforçou para ser expulso e ficar fora do Gre-Nal.  O discurso do ‘vestiário fechado’ não pode ser aplicado a esse Inter, que chega aos frangalhos para o clássico de domingo.

Muito diferente do Grêmio. O time de Roger, que renovou contrato por dois anos – outra medida acertada do presidente Romildo Bolzan -,  vai para o Gre-Nal como favorito, apesar do fator local e de todas as dificuldades que as forças públicas impõem à torcida tricolor para ter acesso ao estádio.

É jogo para somar três pontos, mas sempre respeitando o adversário. Afinal, Gre-Nal é Gre-Nal, e vice-versa. Tudo pode acontecer.

Por exemplo, Vitinho, que errou todos os chutes na Arena Condá, pode acertar um logo de saída, e aí a situação complica.

Respeito ao rival, seja qual for, é o primeiro passo para vencer.

Agora, o presidente Romildo não precisava dizer que assina embaixo por um empate. Sei, é um discurso politicamente correto, e não tenho dúvida de que o Grêmio vai jogar para vencer. É preciso aproveitar este momento ruim do colorado.

Os gremistas, a bem da verdade, esperam outra goleada, sonham com isso. Os colorados temem o pior. 

Por isso, repercute mal em boa parte da torcida essa ‘humildade’ do presidente gremista, sugerindo que ficaria feliz com um empate.

Não ficaria, não. Romildo é torcedor e também quer a vitória na casa vermelha.

Mas, acima de torcedor, ele é o presidente do clube. Qualquer frase mal posta no sentido de enaltecer o favoritismo do Grêmio dará munição a certos setores, que saberão tirar proveito de alguma escorregada verbal do presidente para incendiar o vestiário rival e inflamar a torcida ‘red’, criando um clima ainda mais belicoso.

Este é um momento em que as palavras devem ser bem pesadas antes de lançadas ao ar.

Afinal, não existe maior grenalização do que o próprio Gre-Nal.

FRED

Fred quase fez outro gol de cabeça no Grêmio, dentro da Arena. Seria o segundo em dois jogos seguidos. A bola bateu na trave. Foi talvez o único susto que a torcida sofreu no jogo.

Destaco esse lance porque vi um absurdo: Ramiro marcando Fred. Sim, o gremista mais próximo de Fred nesse lance era o Pequeno Grande Volante, que Roger chama de Pequeno Gigante.

De todos os jogadores do Grêmio o único que decididamente não está apto a disputar bola pelo alto com Fred é Ramiro.

 

O técnico da casa e a influência dos velhos amigos

O problema de ser um técnico da casa é o número de pessoas que se acha no direito de telefonar a todo instante pra sugerir escalações, esquemas de jogo e dar dicas sobre isso ou aquilo.

Foi o caso de Felipão recentemente, em seu retorno ao Grêmio. Não tenho dados objetivos, mas imagino que os canais auditivos de Felipão ficaram congestionados durante o curto período de sua passagem. E não duvido que isso até traga algum benefício, mas estou convencido que atrapalha mais que ajuda.

Na China, sem ninguém de fora pra palpitar, Felipão está feliz, ele e seu fiel escudeiro, o Murtosa. Sem ninguém pra incomodar, eles foram campeões. Mas não duvido também que alguém aqui da aldeia não mantenha contato seguidamente para sugerir alguma contratação.

São pessoas que se acham no direito de se meter na vida dos outros. É como aquele cunhado indigesto e inconveniente que quase todos nós temos.

Depois de Felipão, temos agora o Roger.

 

Só imagino o que deve ter de gente buzinando em seu ouvido desde que ele foi contratado para o desafio de sua vida pós-jogador.

Quando pensou por sua própria cabeça, Roger armou um time competitivo a partir de uma base deteriorada emocionalmente e sem grandes individualidades realmente afirmadas e inquestionáveis.

O time de Roger cresceu, mas a falta de perícia nas conclusões acabou assanhando uns e outros. Foi aí que os ‘amigos do prata da casa’ começaram a fazer valer os seus direitos de velhos conhecidos dos tempos do Olímpico.

A todo instante tinha alguém para sugerir ou cobrar a presença de um centroavante, um sujeito alto e espadaúdo para resolver o problema da falta de gols, e dos gols perdidos porque o time não tinha um camisa 9 de carteirinha.

Confesso que eu mesmo cobrei uma solução para essa deficiência do time, sugerindo principalmente mais treinamentos de chute a gol.

Nunca, porém, defendi mudança de esquema com a entrada de um centroavante ‘aipim’. Gosto de um time com muita mobilidade, com os jogadores se deslocando, atacante e defendendo, desmanchando os losangos, os triângulos e os quadrados. Claro, tudo dentro de uma lógica, de uma organização e de uma orientação superior, a vinda do treinador, de preferência sem interferência dos velhos amigos.

Aí, de tanta insistência veio o Bobô. Uma boa opção para o segundo tempo, nada além disso. Poderia ser pior, porque havia a ameaça de Leandrão ser contratado como solução para o ataque gremista. 

O problema é que Bobô, talvez por interferência externa, acabou titular. Fosse um Ricardo Oliveira valeria a pena mudar o esquema. Roger embarcou nessa canoa furada e o Grêmio afundou no segundo turno do Brasileirão.

O velho esquema está sendo retomado.

Desconfio que o técnico Dunga andou padecendo do mesmo mal. Deixou Douglas Costa, grande destaque do futebol europeu no momento, no banco de um aipim, um aipim tido exportação, mas um aipim. Se deu mal.

Dunga recuou rapidamente e já no jogo seguinte, em Salvador, iniciou com o eterno gremista Douglas Costa.

Foi o nome do jogo. Salvou Dunga da degola.  

Fim do aipim no Grêmio e pelo jeito também na seleção, pelo menos desde o início.

AIPIM ARGENTINO

Por falar em aipim, tiro o meu chapéu para o Barcos. É um grande marqueteiro. Seu nome aparece no noticiário da mídia gaúcha quase todos os dias.

O que me parece uma campanha para colocá-lo de volta no Grêmio.

Só que me faltava, um aipim argentino.

Falta de jogos, excesso de boatos

Dez dias sem jogo da dupla é um perigo. 

É o período em que os repórteres saem à cata de notícias e, quando não as encontram, improvisam. Exercitam a criatividade.

Escrevo com autoridade. Já passei por isso.   

Assim como surgiu a ‘informação’ de que o São Paulo estaria interessado no técnico Roger, do nada brotou a ‘informação’ de que mais três casos de doping seriam revelados nos próximos dias.

As duas ‘informações’ têm algum fundamento. Por isso, prosperam. Principalmente a que envolve Roger, já que o clube paulista ficou sem treinador.

A outra já é mais delicada. As pessoas pisam em ovos para falar sobre o assunto, mas algumas sempre que o fazem lembram o ineditismo de três casos de doping em duas semanas envolvendo o mesmo clube e as mesmas substâncias. 

Em cima dessa informação, surgiu outra de que o Vasco da Gama acompanha muito de perto esse episódio. Entraria como parte interessada no processo. Mas essa é outra ‘informação’ mais próxima de boato do que de um fato.

Já o caso de Roger é de dar vergonha. O blog cornetadorw publicou um tuíter em que é mencionado que um setorista do São Paulo desmentiu a ‘notícia’ e ainda acrescentou que ela partiu da imprensa gaudéria.

É o tipo de coisa que só serve para tumultuar. E, claro, preencher vazios no noticiário esportivo.

Em cima do boato, o fato: o SP quer Cuca. Segunda opção: Paulo Autuori.

É isso: muitos dias sem jogos de Grêmio e Inter atiçam a imaginação.  

MAZEMBE DAY

Vem aí o Mazembe Day, 5 anos.

Reserve já suas Mazembier e Kidiaba.

Fair play, doping e a ética relativa

Os jogadores Nilton e Wellington Martins foram flagrados no antidoping. Suspensão preventiva para os dois.

O Inter sai ileso, é a legislação. Se a legislação tem furos em outras áreas, sendo por demais permissiva e por de menos punitiva, por que no futebol seria diferente?

O que fica é mais um episódio chamuscando a imagem colorada, ao menos no resto do país. Aqui, como já aconteceu com o caso do fair play pisoteado por Argel contra a Ponte Preta, tudo é muito relativo, e a imagem do Inter segue intacta.

Estarrecido, ouvi defesas candentes, apaixonadas, da atitude de Argel e de seus comandados. 

Fico imaginando um lance parecido acontecendo no Gre-Nal. Imagino o técnico Roger, suspeitando que o jogador colorado está fingindo pra ganhar tempo ou anular uma jogada de contra-ataque (também tem isso), imitar Argel e mandar o time não devolver a bola e partir ao ataque.

Seria muito divertido ouvir esses mesmos sujeitos – profissionais sérios e respeitados – analisando o lance. Seria outra abordagem, sem dúvida.

Há um texto sobre o assunto muito interessante e didático, de autoria do sociólogo Peter Berger, que, se vivesse na terra da grenalização, teria material farto para muitos outros artigos:

A relatividade da Ética

 
O sociólogo Peter Berger escreveu um livrinho delicioso chamado de “Introdução à Sociologia”.

Um dos seus capítulos tem um título estranho: “Como trapacear e se manter ético ao mesmo tempo”.

Estranho à primeira vista, porque logo se percebe que, na política, é de suma importância juntar ética e trapaça.

Para explicar, ele conta uma causo:

“Havia uma igreja batista numa pequena cidade dos Estados Unidos,não maior do que o Bairro Manejo. Os batistas, como se sabe, são um ramo do cristianismo muito rigoroso nos seus princípios éticos.

Havia na mesma cidade uma fábrica de cerveja que, para a igreja batista, era a casa de Satanás fedorento.

O pastor não poupava a fábrica de cerveja nas suas pregações.

Aconteceu, entretanto, que, por razões pouco esclarecidas, a fábrica de cerveja fez uma doação de 500 mil dólares para a dita igreja.

Foi um auê celestial!

Os membros mais ortodoxos da igreja foram unânimes em denunciar aquela quantia como dinheiro do Diabo e que não poderia ser aceito.

Mas, passada a exaltação dos primeiros dias, acalmados os ânimos, os mais ponderados começaram a analisar os benefícios que aquele dinheiro poderia trazer: uma pintura nova para a igreja, um órgão de tubos, jardins mais bonitos, um salão social para festas, uma piscina para os batizados.

Reuniu-se então a igreja em assembléia para a tomada de uma decisão democrática e cristã.

Depois de muita discussão registrou-se a seguinte decisão no livro de atas:

“A Igreja Batista Betel resolve aceitar a oferta de 500 mil dólares feita pela Cervejaria na firme convicção de que o Diabo ficará furioso quando souber que o seu dinheiro será usado para a glória de Deus.”

 

Grêmio: derrota passa pelo juiz e por Roger

Perder para o Sport em Recife nunca foi nenhuma tragédia. Raros são os que vencem lá. Agora, há derrotas e derrotas.

A do Grêmio por 1 a 0 começa pelo juiz Heber Roberto Lopes. Mas não termina nele. Passa também pelo Roger Machado.

Heber deixou Luan apanhar o tempo todo. No lance em que Luan levou cartão amarelo por reclamação, o jogador recém havia sofrido uma falta a dois metros da grande área, que o juiz não deu. Minutos depois, Luan vencia uma disputa pela direita e o juiz, que é o maior localista do Brasil, marcou falta do gremista. Na cara do bandeirinha, que fez de conta que nada viu. Luan protestou, e com razão.

Heber quase não marcou faltas a favor do Grêmio. E isso mina o emocional dos jogadores. Mas Heber é assim, sempre foi assim.

Por isso ele foi tão rápido para expulsar Pedro Rocha, que vinha sendo agarrado e o juiz nada marcava. Até que o guri deu um safanão e o adversário valorizou. Se Heber tivesse assinado a falta que PR vinha sofrendo, a história seria outra.

Portanto, a meu ver, Heber foi decisivo na derrota.

Depois, tem o Roger. Não aguento mais ver o Fernandinho entrar como salvador da pátria. Ele nunca salva nada. Imagino que seja uma tentativa de colocar esse jogador – de custo elevado para o clube, obra do sr Rui Costa – na vitrine.

O problema é que Fernandinho quanto mais aparece mais se desvaloriza.

Por que não colocar Maxi Rodriguez ou outro meia no lugar de Douglas, que, aliás, fez uma partidinha de doer? Ficou tempo demais em campo.

No mais, o Grêmio teve condições de vencer em dois ou três lances. O goleiro Felipe fez duas defesas sensacionais.

Grohe, apesar da maior insistência do Sport, fez apenas uma grande defesa. 

Foi um jogo parelho, que o Grêmio poderia ter vencido ou ao menos empatado. 

Ah, o melhor do jogo: Giuliano.

 

Argel não respeitou o fair play

O técnico Argel pisou no bola. Um jogador da Ponte mandou a bola para fora. Havia um companheiro lesionado. Na reposição, cabia ao Inter cumprir o ritual do fair play. Argel aparece gesticulando para o time avançar. Faltavam poucos minutos para o final.

O time adversário esperava a gentileza do Inter, como é comum no futebol.

O fato é que o Inter foi pra cima e chegou ao gol após uma sequência de passes, iniciada com a Ponte desmobilizada por instantes.

O Inter ganhou os três pontos. Mas saiu de campo com sua imagem arranhada.

A mídia do centro do país já se manifesta condenando a atitude colorada.

Em compensação, boa parte da mídia abaixo do mampituba se mostra conivente.

“Não está na regra”, dizem uns e outros, pisoteando a ética.

Uma pena. A paixão está superando a razão.

Por enquanto, fiquem com as imagens desse momento pouco edificante. Confiram também o cornetadorw, que publica excelente material sobre o assunto.

http://globoesporte.globo.com/rs/futebol/brasileirao-serie-a/noticia/2015/11/inter-e-ponte-encerra-em-confusao-e-atletas-trocam-empurroes-no-vestiario.html

Informação ou especulação, eis a questão!

Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade, já ensinava Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler.

Eu só faço um reparo nessa frase plena de sabedoria, ainda mais nessa época em que a (des) informação se alastra como fogo no capim seco das redes sociais: não é necessária tanta repetição.

Por isso, antes que vire verdade dois boatos que andam circulando, declaro:

– o Grêmio não fixou teto salarial, nem em R$ 160 mil, nem em R$ 200 mil, números que foram divulgados irresponsavelmente nos últimos dias. Irresponsável porque se trata de um absurdo. Fosse verdade, o que o Grêmio faria se lhe fosse oferecido Lucas Lima por 500 mil mensais? Rejeitaria porque há um teto ridículo, incabível no futebol? Claro que não. Portanto, vamos parar com essa lorota, porque revela no mínimo o amadorismo de quem a divulga. Nem cogito de haver má intenção na divulgação dessa bobagem.

– tem gente usando espaço na mídia para afirmar que a direção do Grêmio procura jogadores para algumas posições. Qualquer observador de futebol sabe que o Grêmio tem carência em algumas posições. Então, a partir da observação, pode-se deduzir que o clube realmente pesquisa no mercado nomes que possam acrescentar qualidade ao time. Mas daí a dizer que a direção passou essa ‘informação’ vai uma larga distância. Fico preocupado porque esse tipo de desinformação -com ares de informação passada por algum dirigente barriga fria – chega aos ouvidos dos atuais titulares, que podem ficar incomodados, resultando daí, talvez, revolta e/ou instabilidade emocional, com reflexo em seu rendimento na reta final do Brasileirão. Quem ganha com isso?

Vale o mesmo para o Inter. A direção diz que Argel fica em 2016. É um dirigente que veio a público afirmar isso. Ninguém acredita, claro, mas é a posição oficial do clube. O que não impediu que toda a mídia gaúcha fosse atrás de Muricy Ramalho, nome prioritário no começo do ano e também depois da queda de Aguirre. Ouvi Muricy dizer o seguinte, ontem, numa emissora de rádio:

– Olha, não me lembro de ter dado tanta entrevista num só dia como agora.

Apesar da posição oficial do clube, de que Argel fica seja qual for o resultado final no Brasileirão (acho que ninguém acredita nisso, mas é a palavra oficial e ela deve ser considerada), a realidade é que a imprensa já especula até valores. Muricy estaria pedindo – numa suposta negociação já iniciada – nada menos do que 900 mil reais por mês. Um absurdo, mas ele não quer ficar abaixo de D’Alessandro e Alex, por exemplo. O Inter estaria oferecendo uns 600 mil reais. Números absurdos para a nova realidade da economia brasileira e do futebol verde-amarelo.

Concluo dizendo que é importante, e ético, separar o que é informação do que é especulação, muitas vezes até fundamentada em alguma informação passada nos bastidores. Atribuir a uma especulação ares de informação é um ato que fere o bom jornalismo, e em nada dignifica a prática, pelo contrário.