Fair play, doping e a ética relativa

Os jogadores Nilton e Wellington Martins foram flagrados no antidoping. Suspensão preventiva para os dois.

O Inter sai ileso, é a legislação. Se a legislação tem furos em outras áreas, sendo por demais permissiva e por de menos punitiva, por que no futebol seria diferente?

O que fica é mais um episódio chamuscando a imagem colorada, ao menos no resto do país. Aqui, como já aconteceu com o caso do fair play pisoteado por Argel contra a Ponte Preta, tudo é muito relativo, e a imagem do Inter segue intacta.

Estarrecido, ouvi defesas candentes, apaixonadas, da atitude de Argel e de seus comandados. 

Fico imaginando um lance parecido acontecendo no Gre-Nal. Imagino o técnico Roger, suspeitando que o jogador colorado está fingindo pra ganhar tempo ou anular uma jogada de contra-ataque (também tem isso), imitar Argel e mandar o time não devolver a bola e partir ao ataque.

Seria muito divertido ouvir esses mesmos sujeitos – profissionais sérios e respeitados – analisando o lance. Seria outra abordagem, sem dúvida.

Há um texto sobre o assunto muito interessante e didático, de autoria do sociólogo Peter Berger, que, se vivesse na terra da grenalização, teria material farto para muitos outros artigos:

A relatividade da Ética

 
O sociólogo Peter Berger escreveu um livrinho delicioso chamado de “Introdução à Sociologia”.

Um dos seus capítulos tem um título estranho: “Como trapacear e se manter ético ao mesmo tempo”.

Estranho à primeira vista, porque logo se percebe que, na política, é de suma importância juntar ética e trapaça.

Para explicar, ele conta uma causo:

“Havia uma igreja batista numa pequena cidade dos Estados Unidos,não maior do que o Bairro Manejo. Os batistas, como se sabe, são um ramo do cristianismo muito rigoroso nos seus princípios éticos.

Havia na mesma cidade uma fábrica de cerveja que, para a igreja batista, era a casa de Satanás fedorento.

O pastor não poupava a fábrica de cerveja nas suas pregações.

Aconteceu, entretanto, que, por razões pouco esclarecidas, a fábrica de cerveja fez uma doação de 500 mil dólares para a dita igreja.

Foi um auê celestial!

Os membros mais ortodoxos da igreja foram unânimes em denunciar aquela quantia como dinheiro do Diabo e que não poderia ser aceito.

Mas, passada a exaltação dos primeiros dias, acalmados os ânimos, os mais ponderados começaram a analisar os benefícios que aquele dinheiro poderia trazer: uma pintura nova para a igreja, um órgão de tubos, jardins mais bonitos, um salão social para festas, uma piscina para os batizados.

Reuniu-se então a igreja em assembléia para a tomada de uma decisão democrática e cristã.

Depois de muita discussão registrou-se a seguinte decisão no livro de atas:

“A Igreja Batista Betel resolve aceitar a oferta de 500 mil dólares feita pela Cervejaria na firme convicção de que o Diabo ficará furioso quando souber que o seu dinheiro será usado para a glória de Deus.”