Futebol é competição, mas também arte

O problema do Gre-Nal é todo esse clima que se cria em torno do jogo. O que seria apenas mais um jogo pelo campeonato brasileiro, valendo os mesmos três pontos, se torna uma guerra.

O clima fica pesado, tenso. É como uma nuvem preta pairando sobre Porto Alegre, prenúncio de temporal devastador.

A torcida fica acesa, a imprensa mais agitada. As redes sociais servem de combustível. Os jogadores, mesmo aqueles que nada tem a ver com a nossa cultura bélica, de radicalismos extremados, ficam contaminados.

Quando entram em campo já estão mais para gladiadores. Então, o que se vê na maioria das vezes são jogos ruins, com muita pancada, muita simulação. Os mais talentosos sucumbem diante dos violentos e dos menos capazes.

A arbitragem até que se esforça, mas é difícil fazer com que o jogo seja apenas isso, um jogo de futebol.

Até porque não faltam nas arquibancadas aqueles que querem ver o sangue do ‘inimigo’.

No caso do Grêmio, eu gostaria que o time fosse para o confronto mais leve. Felipão bem que tentou diminuir a tensão do clássico ao dizer que no final das contas se trata apenas de mais um jogo de 3 pontos. Mas foi apedrejado, criticado, vilipendiado, tanto por gremistas como por colorados, sem contar alguns da imprensa.

Eu não tenho nenhuma dúvida de que se o Grêmio for para o jogo pensando em jogar futebol, e isso implica, claro, em marcar forte, chegar junto e se impor, ainda mais que joga em sua casa, estará mais perto da vitória.

É evidente que o Inter tem jogadores tecnicamente mais capacitados no meio de campo. Jogadores com melhor capacidade de criação e finalização, justamente os pontos mais fracos do Grêmio já faz algum tempo.

Mas D’Alessandro, Alex e Aranguiz não são imarcáveis, não são imbatíveis. Os dois primeiros participaram do vexame de 5 a 0 em Chapecó. O argentino, tão temido por muitos gremistas, foi substituído no intervalo.

Tem ainda o Bahia e o Ceará, que eliminaram esse Inter tão festejado por muitos.

Se o Grêmio encarar o Inter como se estivesse vestindo, por exemplo, a camisa da Chapecoense, desprezando o peso de dois anos sem vitória em Gre-Nal – sendo que em alguns dos clássicos o Grêmio só não venceu por falta de sorte e excesso de incompetência – tem todas as condições de vencer, e vencer bem, encaminhando sua vaga no G-4.

Mas, acima de tudo, um Grêmio sem temor. Com o respeito que se deve ter com qualquer adversário. Mas sem temor!

Um Grêmio jogando com mais alegria, mais leveza, mas aguerrido e determinado, buscando o gol com insistência como fizeram Cruzeiro e Atlético Mineiro dias atrás.

‘Hay que endurecer pero sin perder la ternura.’

No caso, sem esquecer que, além de competição, futebol também é arte.