Sol na cara e frustração no adeus ao Olímpico

Despedida do Olímpico: família unida.

Revivi neste domingo um pouco do martírio que foi a maior parte da década de 70.

Peguei sol na cara durante mais de três horas, como acontecia naquela época em que eu cursava jornalismo mas não pensava em trabalhar como repórter esportivo. Com duas diferenças: estava no setor das cadeiras centrais e não na arquibancadas; e desta vez coloquei protetor solar no rosto, que não existia naqueles anos.

No mais, foi tudo muito parecido. Calor insuportável, a longa e torturante espera pelo início do jogo.

Mal podia imaginar que a tarde ficaria ainda pior. Eu costumo repetir uma frase de minha autoria: “Dê graças a Deus que a situação está ruim, porque ela pode piorar”.

E piorou. Agora, além do calor, o sol na cara, a dificuldade para ver o jogo e identificar os jogadores naquela distância – sou um cara acostumado com a TV -, havia o futebol do Grêmio. Tão ruim que se nivelou ao do Inter.

Retrocedo algumas horas: ao meio-dia, participei de um programa na Rádio Guaíba. Foi no Barranco, com direito a petiscos e água e refri. Ao meu lado, o vitorioso Rafael Bandeira dos Santos.

Quando o Ernani Campello pediu que eu falasse sobre minha expectativa em relação ao Gre-Nal eu resumi: “Só espero que o Luxemburgo não volte a me decepcionar numa decisão, porque em todas este ano ele cometeu equívocos que custaram caro ao Grêmio. Espero que ele faça a coisa certa e não invente”.

Penso que não preciso comentar muito a respeito da participação de Luxemburgo no jogo. De um modo geral, ele foi bem, mas cometeu, a meu ver, um erro grosseiro – e de novo em decisão.

Elano é um jogador consagrado como um meia que articula, que marca – e até já jogou de volantes -, que volta para compor o sistema defensivo, que se aproxima ao ataque com facilidade vindo de trás, e tudo o que vocês já conhecem, que o mundo conhece, e que o próprio Luxemburgo conhece.

Por isso, é inaceitável que Elano tenha jogado tão adiantado, esperando a bola de costas na maioria das vezes, uma bola que seria melhor trabalhada se ele, Elano, estivesse em sua posição habitual.

O Grêmio perdeu um grande articulador, um homem decisivo, um craque, e ganhou um atacante meia-boca, talvez até pior que o Leandro, ou do mesmo nível.

Então, o que se viu foi um primeiro tempo angustiante para o torcedor, principalmente para aqueles milhares que, como eu, enfrentavam o sol na cara e sensação térmica superior a 40 graus.

No segundo tempo, o Grêmio foi agraciado com a expulsão de Muriel, após uma conclusão de Elano. O goleiro colorado interceptou a bola, que em direção à goleira, fora da área. Isso aos 3 minutos.

Senti um alívio naquele momento, já que o jogo estava mesmo enroscado. ‘Agora vai’, pensei.

Não adiantou muita coisa, mas ao menos o Inter já não me assustava. Dez minutos, Damião foi expulso por agredir Saimon com uma cotovelada.

Como disse o RW, o da corneta, Damião já é o jogador mais violento da dupla Gre-Nal neste ano. Lembrem-se daquele lance antológico em Santa Cruz do Sul.

Bem, agora é só sair pro abraço. Que nada. O Inter se fechou, armou uma muralha na grande área. Elano, que deveria ser recuado para articular com qualidade e meter a bola naqueles espaços diminutos, continuou esperando passes do genial Léo Gago, ou do Souza ou do Fernando. Quando entrou Marquinhos o Grêmio começou a achar espaços e criou duas ou três situações, uma delas com uma bela defesa de Renan.

Aí, o sr Saimon voltou a mostrar que tem um probleminha de descontrole emocional. Agrediu o técnico Osmar Loss, que deu uma de varzeano ao chutar a bola pra longe. Deu um tumulto, troca de tapas e pontapés. Era tudo o que o Inter precisava naquele momento em que o Grêmio iniciava uma pressão. Saimon e Loss foram expulsos.

Depois, o episódio do foguete, que aparentemente saiu das sociais. Lamentável. O torcedor que fez isso deve ser identificado e banido do clube.

Então, tínhamos ali o Grêmio ajudando o Inter em sua missão de estragar a festa de despedida do Olímpico e, de quebra, impedir a vaga direta à Libertadores.

Para coroar o festival de aberrações que foi o segundo tempo, o juiz Heber Roberto Lopes, decidiu terminar o jogo antes de completar os minutos de acréscimo que ele havia definido. Enfiou a bola debaixo do braço e foi pra casa.

Está aí um sujeito que faria um favor ao futebol brasileiro se largasse a arbitragem.

Ato mais patético do que esse só mesmo esse dos jogadores colorados correndo alegres em direção ao recanto colorado no estádio, como se tivessem vencido o jogo, ou porque realmente acreditaram que havia estragado a festa.

Tiraram um pouco do brilho, mas às custas de atitudes anti-desportivas que na realidade só maculam a história desse grande clube.

No final, 0 a 0, um resultado frustrante, mas que não impediu a festa maravilhosa da torcida nas cadeiras e nas arquibancadas, com uma grande avalanche de paixão e de amor ao Olímpico Monumental.

Ah, a vaga direta nas Libertadores escapou, mas, como cantava a torcida gremista provocando os colorados que deixavam o estádio escoltados pela BM:

– Li-ber-ta-do-res, Li-ber-ta-do-res.

Será com o Luxemburgo, tudo bem. Nada é perfeito. Mas quem sabe com o presidente multicampeão ao lado, de conselheiro e consultor, ele volte a ser o Luxemburgo vitorioso de outros tempos?

Por via das dúvidas, só vou ao estádio agora se ficar no sombra. O sofrimento sempre é menor.