A pátria de chuteiras


Diante de todo esse clima patriótico envolvendo a Seleção Brasileira, lembro a frase do grande Nélson Rodrigues, que dizia mais ou menos assim: a Seleção é a pátria de chuteiras.

Mas escrevo para falar de outra frase, esta sim que remete à pátria amada, porque tem a ver com as coisas que realmente importam: nosso presente e, principalmente, nosso futuro.

A frase é a seguinte:

“Hoje, mais do que fazer uma pauta de reivindicação pedindo mais aumento, temos que contribuir para que as empresas vendam mais”.

Um chopp para quem adivinhar que é o autor dessa pérola neoliberal. O Sarney, o Gerdau, o Collor, o Paulo Skaff (presidente da Fiesp)?

A frase é do Lula. Sim, do Lula.

E foi expelida dia 27 de março, diante de uma plateia de empresários do ramo da construção civil pelo grande líder petista, o mesmo que presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema (1975 a 1981).

Mais de dois terços das categorias profissionais do setor privado têm data-base em maio e já começam a negociar sua pauta com empresários, segundo o Dieese (Departamento Sindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

Dito isso, remeto a artigo escrito por Milton Temer.

Ele começa falando sobre Alexandra Kolontai, revolucionária russa, que foi nomeada por Lênin para ser embaixadora na Suécia. Lá chegando, foi interpelada por uma jornalista, numa coletiva:

“Como se explica que eu, filho de um operário, me veja na condição de social-democrata, enquanto a senhora, filha de um general czarista, se transforma em líder bolchevique?”

Kolontai não hesitou, e desmontou o inquisidor com a resposta: “Isto se explica porque somos, ambos, traidores de classe”.

E agora segue trecho do artigo de Milton Temer, jornalista e presidente da Fundação Lauro Campos:

Essa historinha de tempos heróicos, difíceis de imaginar no tempo em que vivemos, me ocorreu por conta da brutalidade das últimas declarações de Luiz Inácio Lula da Silva, em uma de suas incontáveis aparições públicas, onde discursa para criar manchetes de jornal.

Não; não estou me referindo aos vilões de pele branca e olhos azuis. Quem tem que comentar tal deslize com mais propriedade é João Pedro Stédile, que bate na trave da descrição presidencial sobre os responsáveis pela crise gerada com a hegemonia do sistema financeiro privado sobre a economia globalizada. Ou o humanista Leandro Konder, com uma vida dedicada ao combate intelectual sem tréguas ao capitalismo.

Estou me referindo ao absurdo do comício em que Lula conclamou os trabalhadores a, diante da complexa conjuntura atual, abrir mão do direito de reivindicar justa participação salarial na riqueza que produzem. “Hoje, mais do que fazer uma pauta de reivindicação pedindo mais aumento, temos que contribuir para que as empresas vendam mais” foi o que ele afirmou, sem corar, na Feira de Construção Civil (dia 27 de março).

O artigo completo pode ser conferido no site: www.socialismo.org.br