É injusto responsabilizar individualidades na derrota do coletivo

Se alguém espera de mim um texto incriminando o jovem goleiro Thiago e o zagueiro Bressan pela derrota por 3 a 2 diante do Palmeiras, sábado, em SP, melhor parar a leitura por aqui. 

Os dois erraram? Sim. Erraram como muitos outros em vários lances. O problema é que um goleiro quando erra normalmente é gol do adversário. Vale quase o mesmo para o zagueiro. 

Irritado com o gol sofrido, o torcedor em geral costuma ignorar completamente o outro lado. Despreza o fato de que talvez – apenas isso, talvez – o adversário tenha feito uma bela jogada, seja o drible, o lançamento, o cruzamento, a conclusão perfeita. Foi, aliás, o que fez o Palmeiras em todos os seus gols, mostrou muita qualidade na construção e no acabamento.

Então, eu não vou sair por aí pregando a degola desses dois jogadores, até porque considero isso uma profunda injustiça.

Eu também fiquei irritado quando Thiago – que muita gente queria como titular dizendo até que o Grêmio poderia negociar Grohe – saiu mal no primeiro gol. Ele vacilou uma fração de segundo e perdeu o tempo da bola, chegando tarde para evitar o cabeceio do zagueiro Vitor Hugo.

Em outros lances, Thiago foi decisivo, fazendo defesas difíceis. Mas isso não é lembrado pelos caçadores de culpados. 

Os mesmos que exigem a cabeça de Thiago – detonando o patrimônio do clube – costumam repetir que o titular da seleção brasileira também sai muito mal da goleira. Com um pouquinho menos de paixão e achômetro, não será difícil perceber que a grande maioria dos goleiros daqui e e da China saem mal nessas bolas alçadas com peso e no meio do caminho entre o goleiro e o atacante, tendo ainda um monte de gente disputando essa mesma bola ou simplesmente jogando o corpo para um dificultar o trabalho do outro.

No segundo gol, um cabeceio forte do atacante Barrios, que recebeu uma bola na medida para o seu cabeceio, às costas de Bressan. Mas onde estava o lateral-direito nesse lance?

Questão de desentrosamento. É complicado jogar com um sistema defensivo – goleiro, zaga e volantes – muito desfalcado. Thiago, Bressan, Lucas Ramon e Moisés, todos eles jogadores médios e/ou em afirmação.

Nessa condição, é inevitável que ocorram problemas de posicionamento e de entrosamento (um deixa pro outro, por exemplo). Tinha reservas demais, e disso se aproveitou o Palmeiras, que tem o melhor ataque do campeonato. Quer dizer, uma defesa desfalcada contra o ataque mais eficiente.

Houve, ainda, o gol do ótimo Rafael Marques, após falha na saída de bola de um dos titulares. Erazo deu uma bola curta, enforcada, para o pobre do Moisés, e acabou armando um ataque mortal.

Atribuo tudo isso ao excesso de reservas no mesmo setor, o que acaba determinando problemas táticos e individuais. Quem jogou ou joga futebol sabe o quanto é importante ter confiança no companheiro que está ao seu lado, principalmente entre os dois zagueiros e o goleiro.

O lado bom do jogo foi Luan, que brilhou em meio ao pânico estabelecido no sistema defensivo.

Se serve como consolo, não tenho dúvida de que o Grêmio com Geromel e Grohe teria vencido o Palmeiras.

Agora, como se sabe, num campeonato longo como o Brasileirão é preciso grupo, e grupo com qualidade também nas peças de reposição.

É por isso que nunca acreditei que o Grêmio pudesse disputar o título. O Grêmio superou minhas expectativas mais otimistas.

A RODADA

O Corinthians, que bateu o Santos em grande jogo, é o virtual campeão. Apenas o Atlético Mineiro ainda ameaça. O Atlético, com Victor sensacional, bateu o Flamengo, que andava se assanhando e caiu na realidade. 

O Grêmio perdeu para um adversário direto na luta por vaga no G-3. O Palmeiras aproveitou-se do time desfalcado do tricolor e venceu o jogo de seis pontos. Está a quatro pontos do Grêmio.

O negócio agora é tentar garantir ao menos o G-4 e focar muito na Copa do Brasil. O problema ainda é que o Fluminense vem com técnico novo. Saiu o ‘estudioso’ Enderson. Teve gente que defendeu sua contratação pelo Grêmio não faz muito. Futebol é mesmo dinâmico.

Enquanto isso, o Inter mantém sua instabilidade. Conseguiu ficar apenas no empate com o Figueirense em pleno Beira-Rio. E olha que por pouco não perdeu.

Já prevejo balanço de fim de ano na imprensa contabilizando os pontos perdidos pelo Inter em jogos ‘vencíveis’. É sempre assim, porque o Brasileirão é assim. Os pequenos sempre surpreendendo aqui e ali.

Apesar do empate, o Inter segue na disputa do G-4.