Grêmio começa a incorporar espírito dos anos 90

O espírito do Grêmio vencedor dos anos 90 manifestou-se no segundo tempo do jogo contra o Corinthians. Se até quem estava diante da TV sentiu aquela energia vitoriosa, imaginem aqueles que foram à Arena, que em alguns momentos incorporou a energia do Olímpico de quase duas décadas atrás?

Em campo, o que se viu foi acima de tudo um grupo de jogadores honrando a camisa tricolor. Quando faltou técnica, sobrou raça e destemor.

Se o primeiro tempo foi de certa forma frustrante, ainda mais que o time vinha de boa atuação contra o líder Cruzeiro, fora de casa, o segundo tempo foi de arrepiar.

Sobrou emoção para gremistas e corintianos, e também, por que não?, para colorados. Muitos destes últimos, claro, desligaram a TV e o rádio quando em menos de 4 minutos o Grêmio havia feito dois gols. Difícil secar nessas condições.

O fato é que o Grêmio voltou transmutado.

Com certeza contribuiu para isso a discussão de Barcos com Felipe Bastos à saída de campo e, mais ainda, a palavra forte de Felipão.

Sem trocar jogadores, ele alterou o estado de ânimo da equipe. Em menos de um minuto, Barcos fez 1 a 0, após cruzamento de Zé Roberto. Três minutos depois, Barcos voltou a marcar, em outro cruzamento da esquera, agora por Dudu.

Nesses dois lances, Barcos lembrou Jardel pelo posicionamento e pela eficiência na conclusão. E Dudu foi quase um Paulo Nunes, nesse lance e em muitos outros, quando partiu a dribles sobre a defesa e ainda recuou para marcar o adversário. Ah, e que adversário!

O Corinthians tem time e tem grupo para brigar pelo título.

Mas mesmo uma equipe tão forte fica abalada com dois gols assim de saída, com o Grêmio sufocando, abafando, amassando.

Luan ainda chance de ampliar minutos depois, após receber uma bola preciosa de Barcos.

Na sequencia, o que se viu foi o Corinthians se reerguendo e mostrando seu poderio. Foi aí que o time de Felipão incorporou por completo o Grêmio dos anos 90, resistindo e buscando os contra-ataques, o que tornou o jogo emocionante.

Aos 10 minutos, Guerrero, atacante dos mais perigosos, invadiu a área para marcar. Ele não contava com Marcelo Grohe, que evitou o gol, assim como já havia feito em lance parecido no primeiro tempo. Grohe foi uma muralha e, sem dúvida, a vitória passou pelas suas mãos, porque ele ainda faria mais duas ou três defesas espetaculares. Por instantes, vi Danrlei em campo.

Com Grohe transmitindo segurança, a defesa cresceu. Rodolpho, com a tarja de capitão – outra decisão perfeita de Felipão – não vacilou na hora de dar chutões para a frente e para os lados. Werley foi competente.

O gol corintiano foi em cima de Matías Rodriguez, que me parece ainda muito inibido, sem confiança, o que é natural. Merece continuar na equipe. Até porque a opção é Pará… Na esquerda, Zé Roberto foi bem, melhor do que no jogo contra o Cruzeiro, o que pode ser sinal de que vai evoluir mais nesse retorno à sua antiga posição.

No meio, contrariando muita gente, quero destacar o trabalho de Ramiro. O PGV – Pequeno Grande Volante – é aquele volante cri-cri, um pitbull, que não larga nunca a sua presa. Um Guinazu na disputa pela bola. Rápido nos botes e com uma saída de bola correta ele lembrou Dinho, guardadas as proporções. Ele, como todos os demais, errou alguns lances, mas poucos, o que não diminui o brilho de sua atuação. Destaco, ainda, seu duelo verbal e físico com Ralf. O baixinho não se intimidou, encarou firme.

Giuliano está devendo. Foi discreto, mas ajudou muito no combate ao adversário.  É prematuro cobrar muito mais de um jogador que vinha de lesão e que recém começa a readaptar-se ao futebol brasileiro.

Já Felipe Bastos dá ao time um toque de qualidade, uma pitada de inteligência. Um jogador superior. Nem parece que chegou aqui há tão pouco tempo, porque está mostrando tudo aquilo que o torcedor quer ver em termos de dedicação e de luta. Parece até um jogador criado no Olímpico de tão identificado com o clube e sua torcida.

Na frente, Barcos fez o que se esperar de um centroavante, que esteja dentro da área sempre que a bola chegar à linha de fundo. Barcos estava bem colocado nos dois cruzamentos e concluiu com competência. Já é o atacante estrangeiro que mais gols fez pelo Grêmio. O segundo parece que foi Oberti, outro argentino.

Luan é outro que lutou muito, encarou os marmanjos e não se intimidou. Pelo contrário, quanto mais apanha, mais provoca e pede a bola. É ainda um tanto imaturo, mas nada que mais alguns jogos não possam resolver.

Por fim, Dudu. Outra atuação notável. Ele sempre me pareceu peladeiro, mas com Felipão parece mais lúcido para jogar, mantendo os dribles e sua capacidade de doação ao time nos momentos de dificuldade, quando o time é atacado.  É titularíssimo.

Por trás de tudo isso, o estilo Felipão, o artesão habilidoso que está montando um time à imagem e semelhança daquele multicampeão da década de 90.

PÊNALTI

Os corintianos reclamam pênalti no lance em que a bola tocou no braço de Werley. Lance difícil. Muitos dariam pênalti, outros deixariam passar. Foi o que fez Heber, que talvez tomasse outra posição se o lance ocorresse em São Paulo. A bola bateu no braço de Werley, sem dúvida, mas é lance de interpretação.

Outro juiz talvez marcasse. Heber apenas justificou sua fama de juiz caseiro. Em linhas gerais ele foi bem no jogo, que estava soltando faíscas. Expulsou corretamente o Guerrero pela cabeçada ‘carinhosa’ em Alán Ruiz.

Aliás, Ruiz está se revelando um jogador indignado, que cobra do juiz e encara os adversários.

INTER

Ao vencer o Corinthians, o Grêmio deu uma mãozinha para os colorados.

Sábado, o Inter não se ajudou. Foi melhor que o Atlético em Minas Gerais. Poderia ter vencido, ou ao menos empatado. Seria mais justo.

Mais ou menos o que aconteceu com o Grêmio diante do Cruzeiro, também BH.

ISENÇÃO JORNALÍSTICA

Ouvi muita gente nas rádios querendo a demissão de Abel Braga. Coisa de torcedor. De qualquer modo, Celso Roth está aí. Foi demitido do Coritiba.

Aqueles que especulam Tite, deveriam repetir o que fizeram com o Grêmio após a demissão de Enderson.

Sugerir nomes mais viáveis, como Lisca e Roth. Só por uma questão de coerência e isenção jornalística.

É pedir muito?