Um psicólogo também para Felipão

Tempos atrás escrevi que Felipão errava ao escalar seu time assim tão faceiro. Faceiro aos meus olhos de apreciador de esquema que não dá espaço ao adversário no campo defensivo, que não abre mão de ganhar o meio-campo e que conta com velocidade na transição defesa/ataque.

É claro que para isso é preciso ter os jogadores adequados. E Felipão tem esses jogadores. Afinal, trata-se de uma seleção.

O problema é que o velho Felipão de guerra vestiu a fantasia de ‘lulinha paz e amor’, que, decididamente não combina com ele.

Felipão combina com truculência, seriedade e franqueza, uma franqueza rústica como zagueirão da colônia, que ele foi em tempo distante.

O Felipão que conseguiu a consagração no futebol não tem nada a ver com esse que agora se esforça nas propagandas de guaraná ao lado da esposa e dos amigos.

Não é Felipão que tenta parecer simpático e que, no fundo, gostaria mesmo é de chutar o balde, o que ele está sempre pronto a fazer. Mas já não faz como antes.

Felipão precisa voltar a ser o velho Felipão se quiser conquistar o hexa mundial. Fora e ‘dentro’ de campo.

Felipão se esforça, mas não é um artista global que ele tenta parecer nos comerciais.

O velho Felipão é aquele que venceu a Copa do Mundo com um sistema mais cauteloso, contando na frente com o talento de três jogadores.

Felipão chamou uma psicóloga para atender os jogadores, que andam muito emotivos. Não vejo mal algum em ser emotivo, chorar quando canta o hino.

Se os jogadores não demonstrassem emoção na hora do hino não faltaria gente para dizer que são frios, que o Brasil nada representa pra eles, que passam a maior parte do tempo fora do país.

Quem precisa de ajuda psicológica, de verdade, é o Felipão, que perdeu sua identidade de técnico turrão e ranzinza. Felipão perdeu seu lado Dunga. Hoje, na seleção, é mais parece o Luxemburgo. Só falta a terno Armani para treinar o time à beira do campo.

A boa notícia é que Felipão começa a pensar como no tempo em que primeiro jogava para não perder, não levar gol, e depois buscar a vitória.

Sem essa de jogar bonito, como o pessoal do centro do país quer, e isso ficou bem claro hoje na coletiva com Neymar, quando um abostado cobrou do jogador que o Brasil parecia jogar sem alegria. Neymar respondeu como responderia Felipão, que a equipe joga com alegria, mas que a competição é muito séria e que o negócio é vencer nem que seja por meio a zero.

É isso, entrar em campo pensando na vitória por meio a zero. O resto deixa para os ufanistas, os que acreditam que o Brasil ainda é o único que joga bonito, com eficiência, com arte.

Assim, Felipão parece inclinado a começar contra a Colômbia com um time mais fortalecido atrás – a zona defensiva brasileira virou um salão de baile.

Ele pode começar com três zagueiros. E acho Henrique uma excelente escolha. É um jogador vibrante, aguerrido e com personalidade adequada aos desafios de uma Copa, de um mata-mata.

Sou favorável também que ele comece com três volantes, deixando apenas dois atacantes, de preferência Hulk e Neymar. Mas pode ser o Fred no lugar de Hulk.

Enfim, o que importa é que Felipão acordou de seu estado letárgico e começa a reagir.

Felipão está tão à vontade nesse papel de técnico faceiro como no de garoto propaganda.

Não é essa a praia dele.

FRAUDE

Impressionante a notícia da quadrilha que dispunha de ingressos VIP para ceder aos amigos. Parece que há envolvimento de gente da própria Fifa.

Claro, como é que ele conseguiria ingressos para revender para personalidades.

Assis Moreira – por que não me surpreendo? – foi flagrado em telefonema para o suposto lider da gang.

Até o Dunga parece que terá de depor à Polícia Federal sobre o assunto.

É óbvio que muita gente conhecida ainda vai aparecer nessa história, que teria movimentado 200 milhões de reais.