Pará, a cara do futebol do Grêmio

Quando eu olho para o time e começo a achar que o Pará é um dos melhores porque não se esconde, participa (até demais) e não se entrega com aquele seu topete vistoso de escova de dente, percebo que o Grêmio continua instável, e a partir daí tudo pode acontecer. Tudo.

Pará é o símbolo desse Grêmio. É o símbolo do que estou cansado de ver. Estou cansado de ver os jogadores do Grêmio correndo e lutando, trombando, caindo e se erguendo como guerreiros incansáveis, que não se entregam e lutam até o fim de suas forças.

Eu quero basicamente uma coisa: um time que jogue futebol com qualidade, passes precisos, metidas de bola, lançamentos que deixam o atacante na cara do gol, cruzamentos mortíferos, dribles desconcertantes. Ah, dribles, dribles como os que Renato nos brindava no começo dos anos 80.

Domingo, no Gre-Nal, eu vi, todos vimos, um Grêmio aguerrido, lutador, bravo mesmo. Mas, vamos admitir, um Grêmio de futebol ruim. Ruim. Tão ruim como o desta noite na derrota para o Coritiba por 1 a 0. A diferença é que contra o Inter havia mais entrega. Afinal, Arena lotada, Gre-Nal. Mas futebol mesmo, que é bom, nada. Nem por parte do Grêmio nem por parte do Inter.

O Grêmio perdeu para o Coritiba porque Renato mudou o esquema, dizem por aí aqueles que sempre têm uma explicação para tudo. Que esquema? Há quanto tempo o Grêmio não tem esquema, é um vazio tático e técnico.

Contra o Inter, o Grêmio tomou um gol do centroavante dentro da pequena área, sem que qualquer um dos tais três zagueiros estivesse por perto. O mais próximo era Pará. Olha ele aí de novo, e sempre ele, até o fim dos tempos ao que parece.

Hoje, outra bola cruzada da direita e outro gol do centroavante, sem ser sequer acossado por um zagueiro. De novo, o mais próximo, mas sem qualquer responsabilidade, o lateral-direito Pará, o onipresente.

No intervalo, o meu personagem, o jogador símbolo desse Grêmio que me irrita e me desanima, saiu de campo admitindo, constrangido, que o Grêmio poderia levar uma goleada se não mudasse sua postura, sua atitude.

No final do jogo, ouvi outro jogador falando em atitude. Estou cansado disso. Como se atitude fizesse Barcos ser melhor do que é. Barcos é isso aí. É um centroavante que não faz gols. E que bom seria se ele perdesse gols, o que significaria que o Grêmio cria oportunidades de gols. Mas o Grêmio não cria. E não é porque jogou hoje com três volante ou domingo com três zagueiros. E anteriormente com dois volantes e dois meias.

Seja qual for a numeração do esquema, o Grêmio tem sido um time que cria poucas chances de gol. Os que hoje lamentaram a não repetição dos três zagueiros lembram quantas defesas Muriel fez no jogo? O grande problema do Grêmio está na parte ofensiva, na armação e criação de jogadas.

Alguns chegaram ao cúmulo de dizer que é porque Zé Roberto conduz demais a bola, etc. Zé Roberto está fora. E o time continua sem criatividade, sem ousadia. Outros acusam Elano disso e daquilo. Quando se começa a responsabilizar os melhores é porque estamos próximos do caos.

Alguns já começavam a considerar Maxi Rodriguez titular com base em alguns minutos de esplendor. Paulinho, por causa de um drible no Gre-Nal, já passou a ser apontado como solução criativa na frente. Os dois têm potencial, mas é preciso cautela.

Eu mesmo defendi faz tempo um melhor aproveitamento de Lucas Coelho. Hoje, ele perdeu grande chance de gol, como havia perdido tempos atrás. Por causa disso ele não serve mais? No futebol, sempre tempos muita pressa. Pressa para endeusar; pressa para demonizar.

E isso vale para o treinador. Renato, há três anos, chegou e em poucos dias arrumou o time que se encontrava flertando com a  zona de rebaixamento. Agora, a resposta não está vindo de imediato.

Sei que é complicado ser tolerante e paciente com doze anos de angústia pesando nos ombros, mas a hora é de dar um voto de confiança ao treinador, aos dirigentes e aos jogadores para que em breve Pará deixe de ser a cara do futebol do Grêmio: esforçado e medíocre.