Uma derrota previsível e a decisão política

Antes de jogar pedra em seu próprio time, é preciso olhar para o adversário.

O Corinthians é melhor e foi melhor que o Grêmio. Mereceu vencer, não por 2 a 0, que o segundo gol foi mais um acidente de percurso.

O Corinthians é o atual campeão do mundo, tem um time que joga junto há quase dois anos. Já o Grêmio vem tentando se ajeitar como o sujeito que troca pneu com o carro andando.

Antes do jogo, cheguei a pensar em propor que o Grêmio jogasse com time misto para se preservar para o Gre-Nal. Afinal, pegar o Corinthians fora de casa é projetar que empate é quase uma vitória. E que uma derrota não tem nada de anormal, ao contrário.

Grêmio e Corinthians faziam um daqueles jogos mornos. Assim como um casal em começo de namoro, nenhum deles tinha coragem de tomar a iniciativa e avançar mais agressivamente.

Se eu pudesse, assinava um contrato em 0 a 0 naquele momento.

Eram 20 minutos quando Zé Roberto pediu para sair. Lesionado, é dúvida para o Gre-Nal. Zé Roberto é um que eu pouparia pensando no clássico, e agora ele corre o risco de ficar de fora.

A partir daí a história do jogo mudou. Tite mandou o seu time avançar a marcação e o Grêmio ficou sem poder de reação. Elano não conseguia dar continuidade a uma jogada sequer e Biteco só corria como uma barata tonta pelo lado esquerdo.

Na frente, Kleber era um guerreiro incansável, mas pouco inspirador. E Barcos, francamente, uma figura opaca, completamente submissa à marcação.

Já os dois volantes foram soberbos em termos de combatividade. Adriano e Riveros garantiam o empate.

O primeiro gol foi um descuido de marcação aliado ao talento do atacante Guerrero, que livrou-se do marcador e chutou forte, cruzado. Dida defendeu, mas a bola sobrou para Émerson.

Não culpo Dida pelo gol, porque foi um chute forte, cruzado. O ideal é que ele mandasse a bola para fora, mas penso que era mesmo uma jogada muito difícil e ele procurou acima de tudo defender da maneira que era possível. Duvido que outro goleiro fizesse diferente.

Émerson, pelo que mostrou a TV duzentas vezes, estava em impedimento. Mas foi uma questão de centímetros. Nao tem como responsabilizar o juiz ou o bandeira.

Gostei demais da arbitragem de Alício Pena Jr. Tranquilo, passou serenidade e confiança aos jogadores. Foi uma aula de arbitragem.

Está aí um juiz que cairia bem no Gre-Nal.

No segundo tempo, o Grêmio foi mais agressivo. Mas aí faltou qualidade ofensiva. Barcos continuou presa fácil da marcação, Kleber lutava de tudo que é jeito.

Guilherme Biteco e Elano tentaram jogadas, mas sem criatividade e sempre diante de forte marcação. Não é por nada que o Corinthians quase não leva gol. Há aí todo um trabalho, entrosamento.

Eram uns 30 minutos quando Renato colocou Vargas, sacando Biteco. Ele poderia tirar um volante, mas Biteco não estava dando nenhuma contribuição relevante. Portanto, não é por aí que se explica a derrota, nem o segundo gol.

Vargas entrou e não aproveitou as poucas bolas que recebeu. Gostei quando Renato colocou Lucas Coelho no lugar de Barcos, quase no final. É um indicativo de que Renato já descobriu que o guri pode ser o camisa 9, o jogador de área que Barcos não está conseguindo ser.

Perder nunca é bom, mesmo quando se trata de uma derrota previsível como essa diante do forte Corinthians, um time de operários, alguns muito qualificados, incansáveis e compenetrados.

Uma derrota desse tipo antes de um Gre-Nal não abala, pelo contrário, motiva ainda mais.

O Grêmio vai mordido para o clássico. O problema é que talvez sem Zé Roberto.

DUAS TORCIDAS

A BM afirmou que não tinha como garantir a segurança no Gre-Nal com duas torcidas. Era uma avaliação técnica. Aí, veio a ‘avaliação’ política. O Gre-Nal terá duas torcidas. A política atropelou a avaliação técnica, ou supostamente técnica do comando da BM.

O Grêmio corre o risco de sair perdendo feio nessa. Se der conflito dentro ou fora da Arena, dificilmente o segundo jogo terá duas torcidas.

Ainda mais num estádio em que foram instaladas arquibancadas móveis.

Acho que foi mal a direção do Grêmio nesse caso.

O fato de serem apenas 1.500 colorados não significa muita coisa. A gente sabe do que é capaz um pequeno grupo de indivíduos mal intencionados no meio da multidão ordeira, mas com a adrenalina a mil.