Depois de meio século, um centroavante da base

Lucas Coelho vai quebrar o longo jejum de centroavantes formados no Grêmio.

O último grande camisa 9 oriundo da base gremista foi Alcindo, no começo dos anos 60. Lá se vão 50 anos.

Meio século de secura. É claro que nesse período foram revelados alguns bons camisa 9, mas indiscutível mesmo só o Alcindo, o melhor centroavante que eu vi – na verdade mais ‘ouvi’  -jogar no Grêmio.

A estrela de Lucas Coelho passou a brilhar neste domingo, no vale do Vinhedos.

Há uns três ou quatro anos me entusiasmei com um camisa 9 do time B do Inter, também em jogo pelo Gauchão: Leandro Damião. Desculpem, olho clínico…

Na semana retrasada, na copinha em SP, ele havia chamado minha atenção, mas não a ponto de me entusiasmar.

De volta a Porto Alegre para disputar o Gauchão, Lucas Coelho marcou cinco gols num treino. Não é normal alguém marcar cinco gols em treino, ainda mais um guri de 18 anos. Curioso é que a imprensa, até onde acompanhei, nem deu bola para o jovem goleador. Melhor assim.

Sem pressão maior, além daquela natural de um guri que vai jogar sua primeira partida no time profissional, Lucas Coelho teve paz para desabrochar.

E foi um desabrochar lento, mas constante, como um peça de música erudita que começa com a suavidade dos violinos e irrompe grandiloquente, magnífica, arrebatadora.

Lucas Coelho começou mostrando tranquilidade diante da experiente e boa zaga do Esportivo. Não se intimidou e também não partiu para o choque, o corpo-a-corpo. Levou algumas entradas duras, mas não se abalou.

Nas poucas vezes em que recebeu a bola, a tratou com carinho, mostrando intimidade com ela, mostrando que é um centroavante com bons recursos técnicos. Tem domínio de bola, visão de jogo, posicionamento, frieza e altruísmo, ou seja, não é fominha. Pelo contrário, é solidário.

Mas como todo centroavante que se preze, há o momento em que é preciso sem egoísta. E o bom centroavante sabe qual é esse momento.

Aos 36min do segundo tempo, quando recebeu a bola de Léo Gago – que foi bem, mostrando que o time B é a turma dele -, Lucas Coelho dominou, deu um toque para dentro, livrando-se da marcação e clareando para o chute, que saiu forte, preciso, fulminante.

Um gol com carimbo de matador. Um matador precoce, de apenas 18 anos.

Um gol de alguém equilibrado, tranquilo, que ao deixar o campo foi o centro das atenções e se ainda assim se manteve sereno, como durante os 90 minutos do jogo.

Diante de câmeras e microfones, sua primeira lembrança foi a família, em especial o pai treinador de futsal em Lajes. Quer dizer, um bom filho, um sujeito que não se deixará afetar pela fama repentina.

Depois de 50 anos, o Grêmio está revelando, finalmente, um grande centroavante.

Escrevo isso sem qualquer temor de errar.

OS COADJUVANTES

Além do Lucas Coelho, gostei de Gustavo Xuxa, um atacante brigador, de boa técnica, chute forte com os dois pés. Um jogador com a cara do Grêmio.

No meio, o volante Ramiro é daqueles de não dar trégua ao adversário. É baixinho, mas peleador.

Misael entrou depois e deu mais equilíbrio ao meio de campo. É boa opção para o time titular.

Na zaga, senti firmeza no Gérson, que jogou ao lado de Werley. Foram bem os dois.

Como lateral tem problema, observei atentamente o Tinga e o Carlos Alexandre. Vejo potencial nos dois.

Jean Deretti entrou bem no segundo tempo. Agora, estrela mesmo tem o Paulinho, que em seu primeiro toque na bola marcou o segundo gol, também com participação de Lucas Coelho.

INTER

No sábado, o time B do Inter não teve a mesma sorte. Ficou no 1 a 1 com o Passo Fundo, sendo dominado amplamente no segundo tempo. Cassiano, autor do gol, foi o único que mostrou futebol de bom nível.

Difícil entender por que o Inter não faz um time mais forte, colocando alguns jogadores mais experientes. Afinal, o Gauchão é a competição que tem para o momento.

VARGAS

Com a contratação de Vargas, o Grêmio já começa a ter cara de time que pode brigar pelo título.

Se Insua for contratado, só vai restar uma posição realmente problemática: a lateral-direita.

INOPORTUNO

Só não entendi por que, num momento de comemoração, Mabília foi questionado após a bela vitória sobre o Esportivo, fora de casa, a respeito do caso de doping no time sub-20.

Sim, um problema que está a cargo do jurídico do clube foi levantado durante a entrevista coletiva após uma vitória alentadora.

Quer dizer, esse tipo de assunto poderia ter sido pauta nos dias que antecederam ao jogo.

Depois, não querem que se fale em ‘agenda positiva’ contra o Grêmio.