Roth, Renato e Luxemburgo: a história se repete

Quem acompanha futebol com um pouco de atenção sabe que o torcedor – de qualquer clube – salta do amor ao ódio com muita facilidade.

Sem consultar o google e evitando datas, porque minha memória para guardar nomes de filmes e jogos de futebol é sofrível, lembro que essa paixão que a maior parte da torcida devota a São Luxemburgo, já dedicou a outros treinadores.

Até Celso Roth viveu um período de romance – olhos nos olhos, mãos entrelaçadas, longos suspiros e silêncios que só os muito enamorados são capazes – com a torcida tricolor.

Sei, há situações que é melhor deletar, como aquela da mulher desprovida de beleza física que restou na boate e que você levou para casa todo animadinho, quase trocando as pernas, e que no dia seguinte, consumado o crime, você olha para o lado e leva um susto.

Celso Roth é um caso assim. Conheço gremistas que negam peremptoriamente que um dia ovacionaram Roth. Foi naquele Brasileirão que liderou o Brasileirão a maior parte do tempo, entregando para o São Paulo a partir da metade do segundo turno.

Eu mesmo fiquei várias rodadas empolgado com Roth. Eu assumo. Outros, covardes, negam. Roth, como faz agora Luxemburgo, garantiu vaga para a Libertadores.

Em função da queda do time, que deixou escapar o título brasileiro, eu defendi a não renovação de contrato de Roth. Mas a direção na época o manteve e deu no que deu. O refri dois litros ficou sem gás.

No segundo semestre de 2010 – esse ano eu não esqueço porque foi quando comecei a fazer cerveja e foi também o ano de uma das grandes alegrias no futebol, a vitória do Mazembe sobre um Inter coberto de soberba -, Renato Portaluppi veio aqui tirar o Grêmio das profundezas do inverno em que se encontrava no Brasileirão.

Renato, sem craques como Zé Roberto e Elano, não apenas afastou o risco de rebaixamento como levou o Grêmio a chegar muito próximo da liderança, como agora. E, como agora, conquistou uma vaga na Libertadores.

Empolgada, apaixonada, enlouquecida, a torcida gritou ‘fica, Renato, fica’.

O presidente eleito, Paulo Odone, ficou na obrigação de manter Renato. Não queria desafiar a torcida. Ficou com um treinador que não era o seu e… deu no que deu. Renato saiu desprezado por boa parte dos mesmos que o endeusaram meses antes.

Há uma pressão, agora, para que Fábio Koff repita o que Odone fez e renove com o treinador da vez, o ídolo do momento.

Dizem que Koff gostaria de trabalhar de novo com Felipão, formando aquela dobradinha que levou o Grêmio a ser o melhor time brasileiro da década de 90 do século passado.

Há quem seja contra. Incrível, mas há quem repudie Felipão visceralmente. Alguns deles só porque Felipão vibrou quando o Palmeiras eliminou o Grêmio da Copa do Brasil. Realmente, um motivo muito ‘forte’…

Havia outro ‘argumento’: Felipão está ultrapassado. Aí, Felipão pegou esse time ruim do Palmeiras – e todos concordam que é ruim, até mesmo quem é contra Felipão – e conquistou uma vaga na Libertadores, essa mesma que Luxemburgo acaba de ganhar.

Contra Felipão restou o fato de ter vibrado quando bateu seu velho rival, o Luxa, em pleno Olímpico lotado.

Sim, Felipão venceu o duelo com Luxa. De novo, aliás. Manteve a escrita.

Eu também acho que Luxemburgo, pelo trabalho que fez, inclusive revelando e recuperando jogadores, merece continuar.

Mas eu respeito muito o conhecimento e a experiência do multicampeão Fábio Koff.

Por isso, não estou entre aqueles que exigem a renovação de contrato de Luxemburgo. Sou contra, e aí radicalmente, a que seja firmado um contrato por dois anos.

Um ano é a medida certa. Luxemburgo pode levar o Grêmio ao tri da Libertadores e depois do bi mundial.

Feito isso, será glorificado para todo o sempre. Um ano a mais, portanto, se torna um excesso. Nem ele ficaria após a conquista de um título mundial. Com certeza, iria em busca de novos desafios.

Assim, um ano está de bom tamanho. Nem mais, nem menos.

Sei que Koff tomará a decisão certa, avaliando os custos da operação e considerando a torcida, mas sempre levando em conta o quanto ela é volúvel em suas paixões.

Passado o amor, vem o ódio. E, no futebol, essa transição se dá quase num piscar de olhos.

Luxemburgo é a bola da vez. Assim como já foram Roth – não neguem! – e Renato.

CELERIDADE

Há quem diga com a direção eleita está indo muito devagar. Vou dizer uma coisa: a mídia precisa de fatos. Ela fica em cima o tempo todo. Quando não há fatos, há especulações, e aos montes. Afinal, há espaços a serem preenchidos nos jornais, horários no rádio e na TV.

No momento em que o presidente Koff anunciar a renovação com Luxemburgo, o assunto do momento na mídia, sabem o que vai acontecer: especulações em torno de reforços. Sim, porque aí já teremos o treinador engatilhado, por que então não começarmos a falar em nomes de jogadores.

Resultado: tudo isso vai repercutir no vestiário.

Portanto, vamos devagar, sem ansiedade.

Se não confiam nos novos dirigentes, ao menos acreditem no multicampeão Koff.