Geraldão, Beira-Rio e as tatuagens

Semana sem futebol da dupla Gre-Nal é um problema para as editorias de esporte, leia-se futebol. É preciso muita criatividade para ocupar as páginas vazias.

Hoje, a Zero Hora, por exemplo, abriu duas páginas, abusou de fotos, para mostrar o troca-troca -no bom sentido- envolvendo jogadores de Grêmio e Inter.

Casemiro que foi para o Inter; Batista no Grêmio; Mauro Galvão e vários outros casos.

Foi citado também o Iúra, que por pouco não defendeu o Inter, vindo do Criciúma. Iúra pediu alto demais e o Inter não aceitou, que é o que ele, como autêntico gremista, queria mesmo.

Agora, o pessoal esqueceu de uma transferência importante: Geraldão.

Como vocês já perceberam, entro no embalo das redações e saio à cata de assuntos, pegando carona na matéria da ZH.

Geraldão era um centroavante tosco, tipo o André Lima, talvez até com menos técnica. Mas era forte, valente e encarava os zagueiros.

Ele jogou no Grêmio em 1981, uma passagem rápida. Eu era setorista do Grêmio na época. Lembro-me que não gostava dele justamente por suas limitações. Por isso, quando terminou seu empréstimo eu fiquei contente que foi devolvido ao Corinthians.

E não me preocupei quando o Inter o contratou para a temporada 1982. Até debochei dos colegas colorados da redação da Folha da Tarde, onde dei meus primeiros passos no jornalismo. Era o Fernando Goulart, o Luís Fernando Flores, o Luís Carlos Oliveira, o Sapinho, pai do narrador Daniel da Band, entre outros.

Não esqueço também uma conversa que tive à beira do campo com o Leão, que era o goleiro do Grêmio e que logo depois seria campeão brasileiro para ‘nossa alegriaaaaa’.

Era uma matéria especial, coisa de página inteira, talvez para uma dessas semanas sem jogos no meio, como agora.

Perguntei ao Leão qual o atacante que não gostava de enfrentar. Pensei em nomes como Sócrates, Serginho, Baltazar, Zico e outros nomes de alto nível. Fiquei surpreso com a resposta:

– Geraldão.

Ele percebeu o meu espanto.

– O Geraldão, porque é um jogador que você nunca consegue imaginar para onde ele vai chutar, não é como outros mais habilidosos. Então, você nunca sabe o rumo da bola, não tem como imaginar o canto e se posicionar.

As palavras de Leão se materializaram nos grenais decisivos do Gauchão de 1982. Geraldão, o André Lima ou Marcel da época, fez os cinco gols do Inter nos dois jogos, 3 a 1 e 2 a 0. Quatro gols de bola cruzada, a zaga vacilando e ele metendo o pé para vencer o aturdido goleiro gremistas. Um dos gols ele entrou livre e desviou de Leão, mostrando que não era um verdadeiro matador.

E eu, que havia debochado de sua contratação pelo Inter, fiquei ali com cara de bobo. Geraldão entrou para a história do clássico. Duvido que alguém repita essa façanha.

Desde então, tenho cuidado ao criticar um camisa 9 de carteirinha. Ele está sempre muito perto da goleira inimiga e, portanto, muito perto de marcar.

Geraldão é a prova, também, que um jogador pode fracassar num clube e se consagrar no outro, logo em seguida, e, no caso, na mesma cidade.

FREUD E AS TATUAGENS

Tudo isso para falar sobre essa obsessão da atual direção do Grêmio por ex-jogadores do Inter.

Paulo Odone é um especialista em tirar jogador do Inter. Ele foi um dos que participaram daquela bombástica transferência de Batista para o Grêmio. Era dirigente de futebol do Fábio Koff, então presidente. Obino também era do futebol.

Odone viveu de perto os grenais do Geraldão. Batista vestia a camisa tricolor. O Pelaipe também estava no Grêmio nesse período.

Hoje, os dois parece que estão sempre tentando trazer o Batista e se lamentando por terem perdido Geraldão. Freud explica.

Eles contrataram o Sorondo e se deram mal. Agora, querem o Sandro Silva, que a meu ver já está acertado com o Grêmio há algum tempo. O Brasileirão é longo e Sandro é um bom reforço, sem entrar nos valores envolvidos na transação.

Já o Rafael Sobis, que custaria uns 6 milhões de euros, considero um equívoco. Sobis não é o mesmo atacante de cinco atrás. Creio que o Grêmio está bem servido de atacantes. É claro que sempre é um acréscimo de qualidade.

No entanto, melhor seria investir num grande meia e também num zagueiro, ambos para chegar e jogar.

Alternativas existem. O que não pode é estabelecer como critério o fator de ter jogado no Inter.

Ainda mais se o jogador tiver uma tatuagem do emblema colorado, como dizem ser o caso de Sobis.

Já me disseram que é o Alex quem tem essa tatuagem.

Na verdade, duvido que um profissional do futebol tenha feito tamanha asneira.

RIVALIDADE

Pior que essa ideia fixa do Grêmio por ex-colorados, é o desespero da direção do Inter para impedir que as transferência aconteçam.

Foi assim no caso Giuliano, que o Inter abortou.

O mesmo fez o Grêmio quando o Inter tinha tudo certo com Felipão. Um pelotão de amigos gremistas do Felipão entrou em ação e conseguiu impedir o negócio. Felipão acabou no Palmeiras.

BEIRA-RIO E A BM

Li no Correio do Povo que a Brigada Militar deu um laudo válido até janeiro de 2013, aprovando o estádio colorado com ‘restrições’. Leiam a notícia publicada no CP de hoje, dia 26: “A Brigada Militar, em laudo válido até 13 de janeiro de 2013, aprova o estádio “com restrições”, que são justamente aquelas referentes à reforma. Os bombeiros vistoriaram o Beira-Rio no dia 12 de junho e o consideraram apto, mas também apontaram algumas observações. Em momento algum, porém, listaram problemas de falta de segurança”.

Eu só queria entender como é que um órgão de segurança dá um atestado com prazo tão longo para um estádio em obras e, portanto, em constante mutação. Quer dizer, um laudo como esse não poderia durar mais do que 15 dias, um mês.

Agora entendi por que o judiciário teve que entrar em campo.