Aguirre: fritura em pouco azeite

O amável e atencioso Diego Aguirre está sendo frito em pouco azeite.

Pelas chamas que percebo sob a frigideira, o processo de fritura não vai demorar muito para chegar ao fim. Pode ser nas próximas horas ou dias.

Ao desembarcar no Salgado Filho, no retorno do Equador, ele pegou o primeiro táxi, ao lado do volante Nico, e se mandou. Sem olhar para atrás.

Se tivesse ficado mais um pouco, teria ouvido outra corneta do Vitória Píffero, insatisfeito com o rendimento do time. O dirigente, que começou a temporada corneteando sua própria contratação logo nos primeiros jogos, disse que vários jogadores foram mal, estiveram aquém do que podem produzir.

Sabem o que isso significa? Ora, quando um ou outro jogador vai mal, tudo bem, é normal. Agora, quando vários vão mal é porque algo falhou no esquema, esquema este armado, projetado e idealizado por Diego Aguirre.

Dirigentes como Píffero e analistas preocupados com o futuro do Inter na Libertadores desprezam em suas análises que Aguirre não contou com o maestro do time, o idolatrado D’Alessandro. Sem falar no Nilmar, que parece ter recuperado sua condição técnica. E que, diante disso, tratou de garantir o empate a qualquer custo. Não, esse pessoal que vê o Inter com um supertime, queria um time mais corajoso, atrevido, principalmente depois de ficar com um jogador a mais.

Também acho que Aguirre poderia deixar o time mais ofensivo e buscar a vitória, mas e se ele, por conta desse ‘atrevimento’, levasse um gol e perdesse o jogo. O que estariam dizendo agora esses analistas-que-tudo-sabem e o fanfarrão dirigente colorado? Imaginem, se com um amontoado de gente para defender, o Inter, com um jogador a mais, se transformou numa peneira, como seria se ficasse mais ofensivo?

Aguirre atingiu seu objetivo. Empatou o jogo e assegurou vaga na próxima fase da Libertadores.

O problema dele é que perdeu a confiança dos críticos identificados com a cor vermelha, sem contar dirigentes, assessores e boa parte da torcida. Não sei, ainda, se Aguirre está bem com todos os jogadores, porque Alex fez cara feia quando foi substituído.

É preciso considerar, a favor dos corneteiros, que o Inter teve uma mãozinha do juiz argentino.

No lance da expulsão, o mais justo e o que recomenda a cartilha, é que em troca de safanões a punição deve ser igual para os envolvidos. Rever deveria ter saído também. Foi expulso só o jogador do Emelec. Ali, o juiz começou a asfaltar o caminho para o Inter, que perdia o jogo.

O erro humano pode ter dado uma sobrevida a Aguirre, mas o azeite continua quente.

CHICO COLORADO

Ficou mal para Francisco Neto, que atende também por Chico Colorado.

Se ele não tivesse relatado a ‘ofensa’ proferida por Felipão, perderia os holofotes, mas se manteria na posição discreta que convém a um árbitro de futebol.

Ao registrar na súmula que foi chamado por seu apelido, Francisco ganhou projeção nacional. Não como árbitro, como ele gostaria. Ou qualquer outro em seu lugar.

No jogo seguinte, em Pelotas, onde deu um pênalti pra lá de discutível a favor do Inter – a mídia Acima do Mampituba não viu pênalti, diferente da mídia localizada abaixo do Mampituba -, Francisco Neto foi chamado várias vezes de ‘Chico Colorado’.

Curioso, não registrou a ‘ofensa’ na súmula, pelo que soube.

Será que Francisco Neto foi movido por um espírito rancoroso e vingativo ao ver diante de si o treinador que tanta dor e sofrimento infligiu aos colorados nos anos 90?

Não, claro que não, seria pequeno demais. Mas quem sabe o que se passa na cabeça de um homem provido de autoridade?

A impressão que tenho é que ele abreviou o final de carreira como juiz de futebol, uma trajetória discreta, que ficará marcada por esse episódio que beira ao folclórico.

Ah, acordo do Grêmio com o tribunal resultou em 15 cestas básicas e o caso sequer foi a julgamento. Ficou claro, portanto, que ser chamado de ‘colorado’ em qualquer situação não é ofensa, ao menos para quem não é gremista.