A morte do meu amigo

É estranho quando a morte chega de repente. Sem bater à porta, sem pedir licença, sem aviso, sem qualquer sinal.

Simplesmente chega e acaba com tudo. Anos de convívio amigo e acolhedor. Uma amizade sincera, espontânea, que fluía natural como o nascer do Sol a cada dia e o surgimento silencioso da Lua entre as estrelas.

Uma amizade sem cobranças. Sem rancores ou mágoas.

Bastava um olhar e tudo estava dito. Um olhar.

Uma amizade assim tão, tão amiga, precisaria de mais tempo para ser interrompida pela morte.

Seria necessário um preparo, assim como acontece com tantas e tantas mortes.

A morte repentina como um susto em alguém distraído pode ser boa para quem parte, mas nunca, nunca, para quem fica.

Ninguém está suficientemente preparado para ser surpreendido dessa forma.

Eu não estava. Ainda não estou

Faz poucas horas que o meu amigo, parceirão de todas as horas, se foi.

É difícil aceitar que hoje vou dormir sem ele por perto. Que amanhã vou acordar e que ele não estará na porta do quarto, abanando o rabo.

Ansioso que eu o leve para urinar na calçada, o que ele costumava fazer com o entusiasmo e a alegria da manhã anterior, e da outra, e da outra.

Uma verdadeira celebração da vida é o despertar de cada cão.

Temos muito a aprender com os cães.

Eu aprendi muito com o Elvis, nosso cãozinho, que vivia cada momento intensamente, como se sempre fosse a primeira vez, ou como se fosse seu último dia de vida.

Hoje, 6 de agosto, início da noite, foi o último dia de Elvis.

E eu não tenho dúvida de que ele o viveu intensamente, como sempre.

Elvis, cheio de vida e disposição, morreu com menos de cinco anos, vítima de um fulminante ataque cardíaco após violenta emoção ao reagir – ele tinha personalidade forte – contra um inofensivo procedimento ambulatorial.

Elvis morreu em meus braços, sem despedida, sem adeus. Simplesmente partiu.

Só restou uma tristeza e um vazio do tamanho da imensa alegria de viver do meu amigo.