No tempo em que não havia redes sociais nem celular

É curioso como certas coisas mexem com a gente. Por exemplo, lendo o ótimo blog do Prévidi – o que faço diariamente – soube da morte do Eloidy Rodrigues. O mais interessante é que convivi muito pouco com ele, e, na verdade, tive de puxar pela memória para começar a juntar, mentalmente, fragmentos do meu passado no jornalismo.

Mesmo assim, a informação da morte do Eloidy – ‘seu’ Eloidy, como o chamava nos meus tenros anos de aspirante a jornalista – mexeu comigo, mais até do que outros óbitos de ex-colegas.

Recuo no tempo. Verão de 1976. Redação do extinto Diário de Notícias, um jornal que chegou a concorrer com o Correio do Povo pau a pau em determinado momento.

Naquele ano, quando entrei na redação, de cara percebi que ali estava um jornal decadente – fechou quatro anos depois.

Vinha do CIEE e buscava uma vaga de estagiário. Foi meu primeiro contato com o Eloidy (chefe da redação), que imediatamente me apresentou ao Jorge Mendes, editor de esportes do Diário.

Jorge, ou Jorginho, como era mais conhecido, eu me orgulho de ter homenageado, em vida, com uma reportagem de duas páginas no jornal Já, logo que deixei o Correio do Povo, em 2010. Jorginho foi um cara que viu Lara jogar, viu praticamente todos os Grenais desde 1930 e poucos. Vale a pena ler essa matéria.

Wianey e Pato

Bem, voltando a 1976. O Jorginho me recebeu muito bem. Eu era uma figura comum naqueles tempos: cabeludo, barba rala e falha, magro, ‘pele e osso simplesmente, quase sem recheio’. Um bicho-grilo.

-Tu vais fazer o setor do Inter.

-Não pode ser o Grêmio?

-Não, o Grêmio é com o Paulo Moure.

Eu já era chato naquele tempo. Insisti:

-E ele não quer fazer o Inter?

-Ele quer, mas é que ele é muito amigo do Falcão, aí fica chato.

-E eu vou substituir a quem?

-O Wianey Carlet, que acertou com a rádio Gaúcha.

Eu não sabia quem era esse tal Wianey, que acabou se destacando na imprensa esportiva. O Pato eu conhecia pelos jornais, por sua vinculação de amizade com o Falcão. Mais nada.

Minelli & cia

No dia seguinte, o Jorginho foi comigo ao Beira-Rio. Fui apresentado ao Minelli, ao Gilberto Tim, ao Figueroa, ao Falcão e mais um ou outro jogador e dirigentes.

Quero dizer que me senti um cordeiro no covil dos meus algozes.

Fiquei dois meses como setorista do Inter. Saí de lá porque me senti desprestigiado pelo jornal.

Um dia o carro do jornal não foi me buscar. Eram 19 horas, e nada. Não tinha celular naquela época. Voltei de ônibus. Dois ônibus. Puto da cara.

Na segunda vez que esqueceram de mim, final de tarde, e eu ali no sol. Mais puto da cara.

Nisso, aparece o Falcão com um flamante Chevette.

Ele parou o carro junto ao portão, abriu o vidro com manivela.

-Vais ao Diário agora?, ele perguntou. Eu respondi que sim. Ele me ofereceu carona, ele ia para Canoas, e a sede do jornal era no caminho (Avenida São Pedro quase esquina com Farrapos).

Conversamos algumas amenidades. Lá pelas tantas ele pediu-me um favor, que eu pedisse para o Pato descer, que ele precisava falar com ele. Não sei como a gente vivia sem celular, sinceramente…

Esse gesto do Falcão me sensibilizou. Dar carona a um estagiário.

Entrei na redação, barulho intenso dos teclados das máquinas de escrever, gente fumando. Enfim, uma redação de jornal.

Falei com o Jorge Mendes.

-É a última vez que eu volto sem o carro do jornal, Jorge, é sacanagem. Se acontecer de novo eu vou direto pra casa.

Ele pediu-me que falasse com ele, o Eloidy.

-Fica tranquilo, guri, não vamos mais te deixar empenhado -, prometeu.

Uma semana depois, outro esquecimento. Nem o Eloidy, nem o Jorginho tinham poder pra garantir transporte. Mas isso é irrelevante.

Nunca mais voltei ao jornal. Nunca mais vi o Eloidy, um cara que me acolheu com muito carinho. Que descanse em paz.

No dia seguinte, fui ao CIEE. Consegui uma vaga na Folha da Manhã, até hoje considerado o melhor jornal que já tivemos no Estado.

Mas essa é outra história.

 

Redes Sociais

O meu amigo RW aparentemente jogou a toalha. Diz ele que não irá mais questionar ações do Grêmio para não ser atacado pelas redes sociais, que hoje são uma terra de ninguém. Pior que o Congresso de tanta baixaria.

Mas há coisas positivas, tem muita gente boa escrevendo, transmitindo ideias e conceitos sobre imprensa, futebol e o Grêmio. São essas pessoas que me estimulam. Muitas escrevem melhor do que eu, o que não significa grande coisa, mas é alguma coisa.

Os ataques e contra-ataques fazem parte. Eu continuo aqui na minha trincheira e não me sinto incomodado com críticas e até com ofensas sem sentido, descabidas.

Então, não vou desistir. Não importa o que façam. Mesmo que fique aqui sozinho, abandonado por essa ou aquela razão, vou em frente.

Acima de tudo porque escrevo pra mim mesmo. Me faz bem.

Não vou me importar de ser meu único leitor.