O Grêmio tem mais a ver com a queda do Inter ao fundo do poço – e não me refiro apenas ao rebaixamento à segundona – do que se possa imaginar.
Na verdade, o problema do Inter é o Grêmio.
É esse incontrolável mania de olhar para a grama do vizinho, que é sempre mais verde, mais viçosa.
Se o Grêmio também estivesse mal, não haveria a referência mais elevada para causar inveja. Até as cobranças não seriam tão ásperas.
O problema do Inter é o Grêmio. Estou convencido disso.
Enquanto o Inter tem sua imagem maculada dentro e fora de campo, a imagem do Grêmio só melhora em função de seu futebol que vence, convence e, por vezes, encanta. São elogios de todos os lados. Até de onde menos se espera.
E isso, sabemos todos, machuca, dói, desespera, dilacera os rivais. Nós, gremistas, já passamos por algo assim, talvez não com tanta intensidade, porque mesmo nos piores momentos o Grêmio manteve uma postura mais digna, mais altiva.
E não havia ninguém preocupado em elevar nossa autoestima como acontece hoje através de uma imprensa, de modo geral, determinada a blindar o clube. Sem sucesso, como se vê.
Esse posicionamento não ajuda. Até prejudica, cria-se um mundo de ilusão, que acaba desabando sobre a cabeça do torcedor. E essa história de time de série A na série B é uma bobagem que custa caro.
Quando percebe que foi enganado, o torcedor reage de várias formas, uma delas é quebrando tudo depois de um algum resultado negativo e atuação desalentadora.
E aí chegamos ao ponto: o torcedor colorado – inclusive os que atuam na mídia – não suporta ver o Grêmio jogando um futebol bonito e eficiente, enquanto o seu time raramente consegue empolgar, mas ainda assim sem jogar um futebol vistoso, merecedor de elogios de todos os lados, como acontece com o time treinado por Renato Portaluppi.
O time treinado por Argel, por exemplo, em determinado momento obteve uma sequência de bons resultados no Brasileiro do ano passado. Mas mesmo com as vitórias Argel não conseguia satisfazer seu críticos, os dos microfones e canetinhas, e os das arquibancadas.
Argel chegou a choramingar que só Roger tinha reconhecimento da imprensa.
E isso porque o Grêmio, então treinado por Roger, dava show, encantava o país e enciumava os colorados, que queriam algo parecido em seu time. Então, Argel, caiu com seu futebol pragmático, vertical e de ligação direta defesa-ataque.
Um futebol que não agradou a torcida nem nas vitórias. Seu sucessor, o Zago, também da brucutulândia futebolística, também sofreu com a comparação.
E agora o Guto. Ela mal começou a trabalhar e já lhe cobram resultados que ele não tem condições de dar em tão pouco tempo, e com os jogadores que possui no momento: vitórias sucessivas e atuações que levem o torcedor colorado a não sentir mais inveja dos gremistas.
Enquanto durar essa situação, Guto não terá paz para trabalhar. A comparação com o Grêmio é inevitável e constante. Se o Grêmio não estivesse tão bem com certeza a cobrança da torcida colorada seria mais paciente, mais tolerante.
Mas tudo indica que o Grêmio vai continuar sendo o maior problema do Inter.