O 2013 na visão de um botequeiro

Entrego as chaves do boteco ao Gustavo Medeiros, analista de negócios em TI, que mora em Colonia, na Alemanha.

De longe, ele acompanha o Grêmio, porque não há distância que consiga afastar um gremista do seu clube.

Gremista desde 1979, ele está na expectativa do primeiro filho, que desembarca no planeta em março – será meu irmão de signo?

Quem sabe o novo gremistinha não traga sorte, a sorte que faltou neste ano para conquistar a Copa do Brasil?

Bem, vamos ao texto do Gustavo, autor da ideia de colocar os botequeiros no comando do boteco.

Retrospectiva 2013 – O ano do último jogo no Olímpico

O ano de 2012 acabava de um jeito promissor, para nós, torcedores gremistas. Afinal teríamos uma casa nova, time classificado para a Libertadores da América 2013 (sim, nós jogamos Libertadores na inauguração do nosso estádio), manutenção de uma boa base, dos quais destaco: Grohe, Werley, Souza, Zé Roberto, Elano, Fernando, Marcelo Moreno e Kleber .Além disso, mantivemos o técnico que conhecia bem o elenco e era admirado pela torcida, e para coroar tudo isso, quem iria nos liderar em 2013 seria o presidente mais vitorioso da história do Grêmio, Fábio André Koff.

Quem não passou uma virada de ano, em 2012, cheio de sonhos para o Grêmio?

Bom, logo começou 2013, e como ele vieram alguns reforços como Vargas, Bressan, Saimon, Alex Telles e Willian José, e em janeiro já fizemos dois jogos de vida ou morte na Libertadores, contra a LDU.

A classificação só viria no jogo de volta, na Arena, nas cobranças de pênaltis, através do herói do dia, esquecido por muitos, e que colocou o Grêmio na fase de grupos: Marcelo Grohe. A notícia triste ficou por conta da queda do alambrado,pela avalanche, após o gol do Elano, e que começaria a deixar claro que existem forças inexplicáveis no Rio Grande do Sul, interditando a área da geral na Arena, e liberando áreas em outros estádios em condições extremamente inferiores.

Agora, oficialmente, para a imprensa gaúcha, o Grêmio estava na Libertadores, entrando em um grupo dito por muitos fácil. Faria companhia ao campeão Brasileiro, Fluminense, aoHuachipato e ao Caracas.

Vieram mais reforços, Cris, André Santos, Adriano, Welliton, Barcos entre outros, graças ao esforço do diretor executivo Rui Costa, que assumiu no lugar de Paulo Pelaipe.

Logo no primeiro jogo, na Arena, contra o Huachipato, surpresa, Fernando, até então nosso melhor jogador, ficaria de fora do jogo para estreia do volante Adriano, vindo do Santos, por indicação de Wanderley Luxemburgo. E derrota por 1 x 2, jogando em casa contra o Huachipato.

Com a vitória do Fluminense contra o Caracas, jogando fora de casa, o Grêmio já entraria na fase de mais um jogo decisivo por semana. Agora, teria que ganhar do Fluminense, no Rio de Janeiro. E não apenas ganhou, como goleou, 0 x 3, na que talvez, tenha sido a melhor exibição do Grêmio, na Libertadores de 2013.

Jogo seguinte, passeio, 4 x 1 para o Grêmio, contra o Caracas, na Arena. Nesse momento poucos duvidavam que o Grêmio seria tri da América, mas uma semana depois, omodestíssimo Caracas devolvia a derrota, 2 x 1. Começava alias perguntas, qual era o verdadeiro Grêmio do Luxemburgo?

Demoraríamos um pouco mais para descobrir. Classificado, o Grêmio pegou o Santa Fé da Colômbia, vitória em casa 2 x1, e derrota por 1 x 0, sonho da libertadores adiado.

Luxemburgo cunhou, ou pelo menos difundiu o termo Pijama training.
Eu, modestamente, gostaria de cunhar outro, o: Pijama Coaching. Pois a resposta da pergunta anterior fica respondida agora, não tínhamos um técnico, alguém que fizesse evoluir os jogadores, que nos preparasse para os jogos decisivos.  Podemos colocar na conta também alguns jogadores que chegaram para decidir, para ser o diferencial, e mesmo um bom banco, não vingaram, Cris, André Santos, Welliton, Willian José, e a lista anda…

Não revelamos ninguém da base para jogar a LA 2013, o único da base que jogou, logo já foi vendido. Essa foi a escalação titular da derrota contra o Santa Fé: Dida,  Werley,Bressan, Pará, André Santos, Zé Roberto, Souza, Elano, Fernando, Vargas e Barcos.

Nesse ínterim tivemos o Gauchão.

De fato, que eu realmente destacaria de importante no Gauchão, foi o domingo do dia 17 de fevereiro de 2013, o último jogo oficial do casarão. A última vitória. O último suspiro de uma casa, um templo, um lugar sagrado, que nos abrigou, que nos viu transformar em adultos, em homens, que passou 59 anos junto, sem contestações,sem nada a não ser as portas abertas aos seus filhos.

No mais, juro que vou morrer sem entender como o presidente de uma federação de futebol é conselheiro de um time, e dono de outro (essa informação de dono não consegui verificar), se alguém souber qual é o time que o Novelletto Neto é dono, avise ai.

Adoro o futebol do interior, sou do interior, acostumado a ver jogos no Colosso da Lagoa, mas acho que essa fórmula de regionais está fora da realidade de grandes times, não é possível um time que vai se preparar para jogar Libertadores, Copa do Brasil e Brasileirão jogar mais 20 ou 30 partidas no início do ano por um campeonato que não vale nada. Até vale,só que negativamente para quem perde, do que positivamente para quem ganha, e sendo que essa regra só vale para a dupla Grenal.

Então você tem muito mais a perder do que ganhar, sendo que, falando em perder, já perdemos diversos jogadores devido a jogadas mais “ásperas” para não dizer outra palavra, sobre os olhos condizentes dos árbitros e da Federação. Vejo também um número excessivo de clássicos, quase uma banalização, podemos em 60 dias ter 6gre-nais.

Foi aquele que nunca deveria ter vindo, já dizia nosso grande Ilgo. O Pijama Coaching dormiu além do ponto.Com Luxa fora, abriu-se espaço para Koff refazer o elo com a torcida, e Renato Gaúcho chegou. Com um time em frangalhos, após perder o Gauchão, ser desclassificado da Libertadores e rapidamente indo para o buraco no Brasileirão.

Rápido, como é o jeito dele, arrumou o vestiário encontrou um esquema onde poderia extrair mais suco das laranjas que tinha e logo emplacou uma série de vitórias e parecia que o ano seria salvo. Seríamos campeões brasileiros, ou no mínimo da Copa do Brasil.

Ai, penso eu, aconteceu o grande problema desse ano. Temos um time, como o próprio Ilgo disse, nota 7 ou 7,5 , mas que no papel, se formos analisar nome por nome, especialmente do meio para o ataque, seria no mínimo nota 8 a 8,5. Mas como aquele cozinheiro que compra os melhores ingredientes e vai inventar uma receita e vê que não deu, não deu liga, não deu certo a fornada, fica frustrado. Talvez se tivesse misturado com mais promessas da base, com mais gente nova, ousado mais, mais ofensivo, mais isso ou mais aquilo.  A verdade é que não deu certo. São grandes jogadores, mas que não conseguiram coletivamente demonstrar um grande jogo. Kleber se amanhã sair do Grêmio, vai empilhar gols, o mesmo para o Barcos, que vai continuar com sua média, pré-Grêmio que fazia um gol a cada dois jogos. Vargas vai infernizar as defesas adversárias. Mas juntos não deram certo. Ou melhor, deram, para garantir uma vaga para o Grêmio na LA 2014. Talvez tenha faltado uma pitada de sal ou de tempero, e aqui credito na conta do treinado achar o que falta para dar liga essa massa.

Outro fato importante, que não foi previsto pela direção, no início do ano, é que não tínhamos meias dribladores, armadores de jogadas. Com o esquema defensivo do Renato, com três volantes, dependíamos muito de um lance, muitas vezes, além da capacidade técnica de um volante para criar a jogada, ou dependíamos das jogadas laterais, que logo vimo que gostavam de cruzar a bola de um lado para o outro, quando estavam no ataque, passando a bola por cima da grande área.

Vimos que Zé Roberto e Elano são jogadores diferenciados, craques da bola parada, mas incapazes de driblar, conseguem executar passes milimétricos, enfiadas de bola com uma visão privilegiada, mas que precisam de espaço para fazer isso, e nem sempre se tem. Quem mais criou espaços e deu esperanças em alguns jogos foi Maxi Rodriguez, mas quando entrou precisando mostrar serviço não correspondeu. Nossas duas grandes promessas no ataque, Lucas Coelho e Yuri Mamute entraram em uma fogueira, jogo decisivo contra o Atlético-PR, e logo entraram os dois ao juntos, para formarem a dupla de ataque e resolverem o jogo, mas sem meias de criação sucumbiram igual a qualquer outro atacante.E talvez ai seja o fator principal da falta de gols dos atacantes gremista, dois deles sempre tinham que sair da área para buscar o jogo, e em grande parte, criar as jogadas. Rapidamente precisavam voltar para a área para finalizar, e ai já sem folego, sem perna para finalizar.

Porto Alegre. 2010.Possivelmente uma manhã de terça feira cinzenta, Renato Gaúcho aparece de óculos escuros para dar entrevista. Perguntado sobre o craque do time, ele diz:

– Craque, comigo, não marca: joga. O craque precisa estar com pernas para ter forças para decidir. Não é que o craque só vai jogar com a bola no pé. Pelo menos, vai cercar. Mas não vou deixar o craque correr atrás do cabeça-de-área. Ele não tem o preparo físico de um lateral, não vai ter como decidir. Se é craque, se é diferenciado, tem que ter pernas para decidir. Seria burro eu deixar um craque meu correndo atrás do adversário. Tem que ser o contrário.

Gostaria também de falar um pouco de quem comentei no início do texto, nosso presidente. Ele veio para nos liderar, com a maior credencial que um presidente gremista pode ter. E se viu no meio de uma renegociação complicada de contrato com a OAS. Talvez ele resolva tudo esse ano, e em 2014 ele terá tempo para se dedicar ao futebol, sendo mais atuante no campo e vestiário. Ou talvez, seu grande legado desta sua gestão não seja um grande título para o Grêmio, mas refazer as bases de um contrato que poderia deixar o Grêmio em uma situação muito complicada no futuro.

Mas também não esqueci do “jogador do cofre”, que já estaria acertado do com o Grêmio, desde o final de 2012.

Enfim, para finalizar, esse ano de 2013 foi intenso, se pudesse resumir em uma frase seria:

Grêmio teve o “jogo do ano” praticamente toda semana.

Foi LDU, Huachipato, Fluminense, Santos, Corinthians, Atlético-PR, Vasco, Flamengo, Goiás, ufa e devo ter esquecido alguns.

Talvez, também por isso, a corda tenha sido esticada demais nesse final do ano e não conseguimos chegar a final da Copa do Brasil.

Mais uma lembrança que me vem na cabeça, na primeira passagem do Renato, como técnico, em 2010, ele disse que estava faltando cascudos no time e também disse que se tivesse assumido o Grêmio algumas rodadas antes teria levado o Grêmio ao título. Bom, esse ano ele pegou um time cascudo e assumiu pelo menos, um mês antes do que em 2010.

Porém, vejo na figura do Renato, o principal responsável por levar o Grêmio a LA 2014. Pegou o trem indo para o abismo, colocou nos trilhos e levou a classificação, ficando, hoje, atrás somente do líder Cruzeiro.

Agora, se eu fosse o Renato, em 2014 pegaria minhas malas e partiria para longe do RS, ele fez mais, nesse segundo semestre, do que outros fizeram (Tite, Mano, Dunga, Oswaldo de Oliveira e Luxemburgo por exemplo), com um time que muitos disseram que era inferior, e é alvo de eternas contestações.

Mas de tudo, vou ficar com saudades do Olímpico.