Acidente de percurso na abertura do Campeonato Brasileiro

A derrota em casa, na primeira rodada da maratona do Brasileirão, é sempre um mau resultado, um péssimo resultado, independente da qualidade do adversário.

Mas, no futebol, a gente encontra atenuantes até nas tragédias, o que está longe de ser o caso desses 2 a 1 aplicados pelo Santos, na Arena, neste domingo.

O time paulista mostrou credenciais para figurar na lista dos candidatos mais fortes ao título. Além da qualidade técnica, preparação física e o comando de um treinador que conhece e que respeita o adversário, contou com um goleiro inspirado e com o fator sorte.

Fora isso, pegou um Grêmio que começou sonolento, se espreguiçando, ainda digerindo o café da manhã. Custou a levar perigo ao goleiro Vanderlei, que mais tarde seria muito exigido, salvando seu time talvez de um empate ou até uma derrota. Eu diria que esse goleiro, que é muito bom, foi um sortudo nesse jogo.

Já o Santos, sem o tal camisa 9 que agrada a tantos – e não só aqui na aldeia -, entrou ligado, surpreendendo com uma marcação forte e saída rápida para o ataque.

Sobre o jogo em si, não lembro de ver o sistema defensivo como um tudo tão confuso e desarticulado, o que contribuiu para erros individuais pouco comuns e que por detalhe não resultaram em gol.

O primeiro gol foi num momento de vacilo, aos 5 minutos, quando o time parecia bocejar em campo. E logo do Sascha, o que ficou mais amargo ainda. Detalhe: os dois melhores zagueiros do país foram envolvidos no lance.

O segundo, foi uma falha de Alisson a poucos metros da área. Alisson deu uma cochilada e Falipe Jonatan aproveitou para fuzilar e fazer 2 a 0.

Como eu escrevi lá em cima, sempre há atenuantes e também aspectos positivos nas derrotas.

Primeiro, comemorando que Maicon, o maestro do time, resistiu os 90 minutos em nível altamente competitivo. Deu piques incríveis e terminou o jogo cobrindo o lado esquerdo, com a substituição de Bruno Cortez.

Aos críticos mais azedos do capitão lembro que o gol de Éverton, que jogou melhor pelo lado direito do ataque, saiu de um passe do Maicon, isso a um minuto do final.

Aliás, o Grêmio massacrou nos 15 ou 20 minutos finais, mostrando capacidade de indignação e sinalizando que o jogo até ali tinha sido um acidente de percurso.

Antes de seguir nos aspectos positivos, uma frase sobre o Vizeu: por enquanto está mais para perdedor do gol do que fazedor de gol. De novo ele teve tudo para fazer pelo um gol, principalmente no cabeceio a dois metros do goleiro que ele conseguiu colocar por cima.

Outro elogio: hoje só faltou o gol para André, que por detalhe não se consagrou com um gol de bicicleta, mas a bola beijou a trave. Ele está se aproximando daquele André que a gente espera rever.

Por ironia, ele fez um gol. Num lance raro: Cortez fez um cruzamento perfeito. André desviou para a rede. Mas aí o bandeirinha viu impedimento. Foi um lance em que se o bandeirinha não dá nada, está certo; se marca, está certo. O bandeirinha estava com muita vontade de erguer o braço. E o VAR foi na marcação do auxiliar.

Agora, o que mais me deixou entusiasmado para os próximos jogos: a atuação do Diego Tardelli. Dá para se dizer que ele finalmente estreou. Jogou bem demais, e com lucidez, inteligência. Um exemplo, no gol do Éverton, ele deixou a bola escorrer à sua frente. Outro jogador talvez pensasse que a bola era pra ele, mas Tardelli seguiu correndo e deixou Éverton concluir a jogada com a técnica que Deus lhe deu, e Renato aperfeiçoou (esta é pra fazer o pessoal antirenatista cuspir fogo).

SAMPAOLI

Por fim, um elogio ao Jorge Sampaoli. Primeiro, porque ele disse estar feliz por ter vencido ‘o melhor time do futebol brasileiro’, um reconhecimento que os técnicos nacionais não admitem por inveja e ciúme. Segundo, porque ele armou um esquema que se mostrou competente o suficiente para fazer dois gols e depois para resistir ao bombardeio, contando aí com a qualidade e a sorte do seu goleiro.