Uma tentativa de explicar por que gremistas secam Roger

Toca o telefone. “Precisamos de um antropólogo, um psiquiatra, sei lá, alguém que consiga explicar por que tem tanta gente da torcida gremista que odeia o Roger”.

O Ricardo Worthmann normalmente entra assim, sem essa frescura de bom dia ou boa tarde. É um Kannemann atropelando pra matar a jogada. Ele vai direto ao ponto – roubando o slogan do Correio do Povo.

Compartilho do espanto do cara que conseguiu provar que a imprensa gaúcha sempre foi generosa com o Inter, e isso desde o Rolo Compressor, conforme farta documentação apresentada pelo criador da IVI a partir de pesquisas em arquivos de jornais.

Aliás, nesta semana o cornetadorw publicou uma contracapa de jornal colocando a manchete do Grêmio campeão, em 1968, título atenuado por uma matéria com Pelé no alto da página (que poderia ficar muito nas páginas internas).

Rivalizando com a manchete principal, outro título em letras garrafais, como se dizia naqueles anos, definindo como ‘ESPETACULAR’ uma vitória do Inter num jogo por laranjas, ou bergamotas, tanto faz. Cômico, ridículo.

Coloradismo explícito. Quem seria o editor dessa página de jornal que é um atestado da existência da IVI desde sempre?

Confiram:

http://cornetadorw.blogspot.com/2018/07/a-incrivel-manchete-do-pos-hepta.html

NEM FREUD EXPLICA

Voltando ao Roger Machado e ao diálogo (normalmente uma conversa com RW ao telefone é um monólogo, de tanto que ele fala) com esse sobrevivente dos anos 70, assim como eu e meu velho amigo Ricardo, de Cruzeiro do Sul, velho companheiro de arquibancada do Olímpico, e tantos outros.

O RW se dizia impressionado com o número de gremistas que escrevem aqui no blog manifestando alegria com a queda do Roger Machado no Palmeiras.

Tento encontrar uma explicação por essa felicidade com o infortúnio do Roger, que, a meu ver, deveria ser reverenciado tanto por sua passagem como grande lateral dos anos 90, como pelos poucos meses em que comandou o time tricolor.

As pessoas esquecem – questão de memória seletiva – que o Roger assumiu o time do Grêmio numa situação caótica, com um início preocupante de Brasileirão sob o comando do supercampeão Felipão.

Em semanas, ele conseguiu dar ao time um outro padrão de jogo, implantou um conceito de futebol que levou o time a ser elogiado no centro do país – aqui nem tanto, pelas razões que todos conhecem – e a ter grandes atuações, como a dos 5 a 0 sobre o Inter, um resultado inesquecível que vale por um título de campeonato.

Só essa goleada sobre o grande rival já quase justificaria  uma estátua do Roger. Mas o principal, seu maior legado (olha o Pedro Ernesto aí), foi esse conceito de jogar futebol da escola guardiolona, uma herança que Renato recebeu e aprimorou, e muito, provando que é um treinador diferenciado, superior.

Bem, arrisco dizer que ao mudar a maneira de jogar do Grêmio, que teve seu ápice com Felipão nos vitoriosos anos 90, aquele time raçudo, de marcação forte e impositiva, que se impunha pela objetividade e pragmatismo, Roger comprou uma briga.

A geração de gremistas que viveram intensamente a década vitoriosa de 90 não aceita outro modelo de jogo. Quer o volante que suja o calção e muitos gols de cabeça, sem essa de ficar tocando a bola em busca de um espaço para enfiar a bola, de muita aproximação e movimentação na frente.

Roger ainda provocou esse pessoal, que tem suas razões e eu as respeito, ao afirmar que jamais armaria um esquema para ficar cruzando bola para um jogador. Os saudosos de Felipão devem ter pensado, na hora, em Arce cruzando e Jardel cabeceando. Como alguém se atreve a desafiar esse conceito?, devem ser pensado.

Hoje, o Grêmio tem um futebol mais acadêmico, mais bonito e não menos bem-sucedido. Muito graças ao Roger. Mas tem gremistas que querem a volta dos anos 90, por isso secam Roger.

De minha parte, sou grato ao Roger por ter contribuído para a quebra de jejum de 15 anos, por seus acertos e até pelos seus erros, muitos deles corrigidos por Renato.

Quem prestar atenção, sem preconceitos e com humildade, verá que o Grêmio hoje tem uma parte de Roger e também de Felipão – prova mais recente foi a virada sobre o SP -, mas tem principalmente muito do TREINADOR RENATO PORTALUPPI, que, acreditem!, também enfrenta resistência entre torcedores gremistas, e quando sair do Grêmio haverá gremistas comemorando algum eventual insucesso em outro clube.

Mas aí nem Freud explica.