A ‘gurizada medonha’ do Grêmio

Enquanto via, espantado, o time C do Grêmio dar um calor nos titulares do Atlético Mineiro, no estádio Independência completamente lotado, não pude deixar de lembrar do ‘gurizada medonha’.

Quem transitou pela Rua da Praia, nas imediações da rua Uruguai, ali pelos anos 90 e 2000, deve ter deparado com um vendedor de bilhetes com voz de tenor, rosto sofrido, ao lado de um menino com múltiplas dificuldades, numa precária cadeira de rodas.

“Gurizada Medonha”, gritava o vendedor – já falecido se não me engano – para chamar atenção e vender seu produto ou ganhar uma esmola.

Não encontro melhor expressão para definir esse bravo time de jovens do que esse bordão.

Foi uma gurizada medonha tricolor que deu um susto nas estrelas do time mineiro. Foi lindo de ver Robinho e Fred correndo como loucos e nos minutos finais se esgarçando para garantir a vitória por 4 a 3. Um resultado, injusto, festejado como título pelos experientes jogadores do Atlético e sua torcida, que foi ao jogo pensando que veria uma goleada tranquila e acabou sofrendo até o apito final.

Na verdade, o time gremista surpreendeu a todos, inclusive sua própria torcida. Quando vi a escalação do Atlético e a do Grêmio só pensei numa coisa: tomara que não seja por mais de 3 gols a derrota.

Bastaram alguns minutos para começar a mudar de ideia. A gurizada gremista mostrou que é medonha. Saiu três vezes na frente do placar, algo inimaginável, coisa de atordoar o técnico Osvaldo Oliveira, que antes do jogo lamentava que o Grêmio fosse obrigado a improvisar tanto em função de sua situação pré-mundial. Osvaldo, é claro, previa uma vitória fácil, serena, sem sobressaltos.

Bem, vamos ao que interessa: quem teria condições de dentro de alguns meses disputar posição no time titular?

Hoje, ainda sob efeitos da atuação impressionante da gurizada, um time inexperiente que mostrou entrosamento difícil de entender num time que fazia sua primeira apresentação no Brasileirão, eu devolveria a pergunta com outra: quem ficaria de fora?

Sem titubear, apenas o goleiro Bruno Grassi, justo o mais experiente. Ele começou muito bem, mas acabou levando dois gols de falta. O segundo foi de muito longe. Está certo, foi uma bola batida pelo Otero, cobra muito bem, e a bola fez uma curva a poucos metros do Bruno. Mesmo assim, inaceitável.

Logo depois, o Atlético teve um jogador expulso, as luzes do estádio se apagaram. Quando o jogo recomeçou, após uns 10 minutos, a gurizada tricolor foi pra cima e encurralou Fred e cia. Tentaram intimidar os jovens na base da porrada e dedo na cara. Sem efeito.

A lamentar que o craque do jogo, Jean Pyerre, 19 anos, tenha saído por lesão ou cãibra. Com ele em campo para articular as jogadas, o que acabou faltando, o Grêmio poderia ter vencido. Um Grêmio que mostrou em vários momentos no jogo um futebol tão envolvente quanto o dos titulares, evidenciando que aí tem a mão do mestre Renato Portaluppi.

DESTAQUES

Bem, Jean Pyerre abre a minha de lista de destaques, ele que ao lado de Patrick já vinha despontando. Penso que ele Renato deve levá-lo para o mundial.

Num nível logo abaixo colocaria Pepê, um atacante rápido e atrevido. Depois, o atacante  Dionathã, os volantes Balbino e Machado, a zaga Ruan e Emanuel (quase não deixaram o guru dos aipinistas jogar) e o lateral Conrado.

Claro, que o futebol nesta fase é um funil apertado. Poucos passam para o time principal e se destacam.

Mas o fato é que essa geração é muito boa, ao contrário do que parecia. Como dizia o narrador do jogo pela TV, é uma meninada que dá muita esperança e que neste domingo deixou orgulhosa a torcida gremista.