A ‘cura gay’ e os texanos do futebol

Começo a desconfiar que é mais fácil a ‘cura gay’ do que a conversão de um ‘texano’ adorador do futebol brigado, do calção embarrado, do volante sedento de sangue, das pernas lanhadas por travas criminosas e dos chutões que levam a bola, coitada!, a cruzar o campo de tudo que é jeito.

O ‘Texas’, no futebol, para quem não sabe, é o Rio Grande do Sul. Inspirada criação do blog cornetadoRW.

Aqui vicejam os texanos, defensores fanáticos do ‘centroavante aipim’, figura tosca, gigolô do talento alheio e que de vez em quando decide um jogo após 300 cruzamentos para a área. Está em extinção, mas os poucos que restam sempre conseguem bons empregos, ainda mais aqui Abaixo do Mampituba.

Ah, eles defendem que se jogue fora de casa buscando sempre o empate, no esquema ‘por uma bola’, para decidir em casa. Renato contrariou essa lógica e foi campeão da Copa do Brasil.

Os texanos acreditam que são detentores da fórmula para vencer a Libertadores. Animicamente os jogadores precisam entrar em campo com sangue nos olhos, faca na boca e o coração na ponta da chuteira. Nenhuma palavra sobre qualidade técnica.

O modelo do time campeão da Libertadores não pode prescindir, segundo eles, do volante cabeça de área, quebrador de bola e de canelas inimigas. Sim, inimigas.

O primeiro mandamento do estilo texano de jogar é que o time do outro lado não é adversário, mas um inimigo a ser exterminado. Ou quase isso. Então, vale tudo para matar uma jogada.

Entrar com as travas da chuteira erguidas numa dividida é o cartão de visitas e deve ser exibido logo nos primeiros minutos, porque na Libertadores – defendem os texanos – é raro o juiz dar cartão vermelho na primeira entrada desleal.

Até pouco tempo, quando o Grêmio jogava um futebol bonito e ao mesmo competitivo, os texanos andavam meio encolhidos, inibidos, embora alguns de vez em quando se traíam. Tanto pediram por um centroavante ortodoxo que o Grêmio contratou Bobô. Foi o início do fim do técnico Roger, que até então estava se dando bem com atacantes de movimentação.

É evidente que há lugar para atacante de área num grupo, até como alternativa de jogo. Até um volantão pode ser útil quando o jogo estiver encaroçado.

Mas o que torna um time campeão de uma Libertadores ou outra competição qualquer é a qualidade e o empenho de seus jogadores, a capacidade do seu treinador e a força de sua torcida.

Contra o Botafogo, adversário que seria batido já no jogo de ida se Luan e Geromel tivessem jogado, o Grêmio garantiu a vitória e a classificação à fase semifinal da Libertadores não apenas porque foi valente, guerreiro e raçudo – como apregoam os texanos -, mas principalmente porque teve, apesar da ausência de seu craque, Luan, qualidade suficiente tanto do time como do seu treinador para superar as adversidades que foram surgindo.

Que o técnico Renato Portaluppi mantenha o tipo de jogo que aplicou até agora – houve algumas exceções motivadas por desfalques -, sem cair na conversa dos texanos. Estes, sim, precisando de tratamento para entender que o futebol mudou.

Como ensinava o botafoguense Neném Prancha, “bola tem que ser rasteira, porque o couro vem da vaca e a vaca gosta de grama”.