Uma entrevista fake pra aliviar a tensão

Estou aqui roendo as unhas. Já não tenho unhas, estou roendo os dedos e uma caneta bic, imitando um velho colega de redação do CP.

Recebi ontem um texto do Gustavo Medeiros, gremistão, que está em Colonia, Alemanha.

É uma entrevista fake, que eu transcrevo pra aliviar a tensão. O rapaz é um ficcionista.

Confiram:

O encontro daqueles dois foi memorável. Apertaram as mãos e olharam no fundo dos olhos do outro, como bom descendentes de alemães que são,  esse aperto forte e firme de mãos e olhar dizem e significam mais do que se pode imaginar.

Estão ali para uma entrevista. De um lado Marcelo Grohe, goleiro reserva do Grêmio,  e do outro lado, um experiente jornalista gaúcho, que resolveu viajar até o Rio de Janeiro para acompanhar o time do Grêmio em mais um jogo chave da Libertadores 2013.

A conversa que vou relatar pode ser que tenha acontecido, ou não. Fica a seu critério.

IW – Quando e como foi que o Vanderlei chegou para você e disse que você teria que sentar no banco de reservas?

MG – Foi antes do jogo contra o Veranópolis (última rodada do primeiro turno do campeonato gaúcho), ele chegou para o Dida, disse que ele iria ser o titular e disse para mim que eu seria o reserva.

IW – Só isso, sem uma explicação? Como você se sentiu?

MG – Simples assim. Sem explicações. Sabe, de uma maneira ou outra, sou igual a você, gaúcho, gremista, do interior. Aprendemos desde cedo o significado das palavras honra, ética, confiança, merecimento e verdade. Aprendemos a trabalhar duro, e sermos corretos. E sendo assim, coisas boas acontecem com a gente. Você, como jornalista, sabe que deve confiar e defender sua fonte, não ter duplas palavras, ser verdadeiro, e assim as pessoas passam a confiar em você.  Mas de repente, parece que os valores se inverteram. Você não sabe porque uma decisão é tomada, quais são os critérios. O que levam um treinador a preterir um ou outro jogador. Para nós que viemos do clube, que somos pratas da casa, é como se fosse um desmerecimento por sermos gremistas tais escolhas. É duro.


IW – Mas você defendeu o pênalti que classificou o Grêmio para a fase de grupos da Libertadores, foi aplaudido por todos, quando o suposto goleiro titular, que deveria estar jogando, se machucou e você assumiu a bronca.

MG – Pois é. As vezes penso se teria sido melhor não ter defendido aquele pênalti.


IW – Por que?

MG – Porque ai a casa iria cair para o técnico. Mas por mais que quisesse, não conseguiria. Pô, sou gremista, vou defender essa camisa e esse clube com todas as minhas forças. E isso seria mais um argumento para o técnico, e sua teoria, que precisa de um goleiro mais experiente. Mas veja, mesmo eu tendo defendido o pênalti, o que me trouxe?  Reserva. Eu sei, que por mais que eu lute, e por mais que jogue, serei sempre o reserva.


IW – Como você vê as críticas feitas a você pelo Paulo Sant’Ana?

MG – Sant’Ana tem idade para ser meu avô. Desde pequeno, por ser gremista, escutava seus comentários na hora do almoço. Me divertia muito. Via ele levando um peixe espetado, certa vez que o Grêmio jogou contra o Santos. Vi através da internet, ele vestido de baiana, depois que o Bahia ganhou do Inter no final de um brasileirão.  Era uma diversão. Mas a idade pesa para todos. E as vezes, a idade afeta a visão. Como diria o grande heteronômio de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro: “Porque eu sou do tamanho do que vejo,  e não, do tamanho da minha altura. “


IW – Para encerrarmos. O que você espera do jogo dessa noite?

MG – Espero que o time do Vanderlei honre com a história do time do Grêmio.

IW – Como assim, time do Vanderlei?

MG – É. Esse é o time do Vanderlei, que por um acaso, está vestindo a camisa do Grêmio. Mas poderia ser verde, ou até vermelho e preto…