Aflitos: recordar é viver

A Batalha dos Aflitos foi um momento único na história do futebol mundial. Um feito destacado em todo o mundo.

Eu estava sozinho em casa na hora do jogo, ainda bem. Tenso. Muito tenso. O time jogava mal, pessimamente, e eu tentava me conformar em ficar mais um ano na segundona, culpava todo mundo, queria a cabeça de dirigentes, treinador, etc.

Aí, São Patrício arrumou aquele bendita confusão após a marcação de um pênalti inexistente. Se São Patrício não tivesse feito aquilo, criado aquele clima explosivo, talvez São Galatto não tivesse defendido, e a história seria outra.

Mano Menezes, por exemplo, não estaria na Seleção.

O jogo foi num sábado. Domingo à noite escrevi o texto abaixo para um caderno especial que o Correio do Povo publicou encartado na edição do dia seguinte.

Eu havia esquecido completamente disso, mas fui lembrado por um torcedor no twitter, ontem ou sexta-feira.

Ele me elogiou, disse que eu escrevi com o coração, e que havia chorado ao ler o texto. Bem, era essa a intenção.

Curioso, fui atrás do texto e o encontrei. Espero que provoque ao menos uma lagrimazinha.

Recordar é viver:

PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2005

Nada pode ser melhor

Ilgo Wink

Quando Lupicínio Rodrigues compôs o hino do Grêmio, não imaginava que a expressão ‘imortal tricolor’ acabaria por integrar-se à trajetória do clube. Nos anos que se sucederam, não foram poucas as vezes em que o Tricolor, aparentemente exaurido e batido, foi além de suas forças, superou limites e, por acreditar que não era impossível, venceu.

O que aconteceu sábado, dia 26 de novembro de 2005, em Recife, marca um desses momentos, se não o maior de todos, o mais dramático, o que mais contribui para reforçar a lenda da imortalidade. O Náutico tinha um pênalti a seu favor e enfrentava um grupo de sete jogadores acuados em um ambiente adverso e hostil. Nas arquibancadas lotadas, a torcida do time pernambucano lembrava os romanos no Coliseu. Só faltava sinalizar com o polegar para baixo para decretar o fim do sonho gremista de voltar à Primeira Divisão.

Foi a partir desse momento que o Grêmio começou a escrever dez minutos rutilantes, que entram para a história como um dos mais belos momentos do futebol. O jovem Galatto defendeu o pênalti. Era o segundo que os pernambucanos desperdiçavam. O estádio ficou em silêncio. Jogadores do Náutico desabaram no gramado.

De repente, o pequeno grupo cresceu, tornou-se um gigante no gramado. Outro garoto, Anderson, transformou-se em um veterano de espírito travesso e atrevido. Foi para cima do rival atordoado e, por não duvidar que era possível, fez o inimaginável àquela altura: o gol.

O Grêmio realizava um feito homérico, construído por sete ‘ulisses’, que não esmoreceram quando até os mais fanáticos gremistas já haviam desistido. O Grêmio sai das profundezas da Segunda Divisão iluminado pelos deuses do futebol. Volta ao seu lugar, porque nada pode ser melhor do que estar entre os grandes e seguir buscando o impossível.

Correio do Povo

Porto Alegre – RS – Brasil