O silêncio de Falcão e o vatapá

Confesso que me incomoda o silêncio de Falcão. Ficaria mais tranquilo se Falcão estivesse por aí dando entrevistas, participando de programas esportivos. Enfim, deitando falação, fazendo projeções e repetindo mil vezes que o Grêmio é favorito, que o Bahia tem uma missão impossível.

Mas Falcão está em silêncio. Não me assusta, mas me incomoda.

Falcão está focando seu time exclusivamente no jogo desta noite no Olímpico.

Não tenho dúvida que ele e seu fiel escudeiro, o Julinho, recolheram textos e gravações dos cronistas esportivos gaúchos em que o Grêmio já estaria classificado e que o jogo é mera formalidade.

Com certeza, a dupla, que conhece a aldeia como poucos, já gravou a chamada da rádio Gaúcha, que são normalmente bem-humoradas e criativas.

A chamada que ouvi hoje, porém, não tem graça. Tenta fazer um trocadilho com um prato típico baiano, o vatapá, e conclui com ‘… vatapá a cova do Bahia’.

Parece que estou ouvindo o Falcão, com cara de indignado, gritando na concentração:

– Olha aqui os que os gaúchos estão dizendo de nós. Estão dizendo que nós já estamos mortos, estamos na cova, e que só falta o Grêmio tapar a nossa cova.

Pode ser que Falcão não faça nada disso. Pode ser que ele nem tenha tomado conhecimento dessa chamada ou de outras manifestações que já colocam o Grêmio na semifinal contra o Palmeiras.

Pode ser que ele despreze o fato de há alguns dias se fala no confronto Luxemburgo x Felipão, ignorando que ainda há um Falcão a ser transposto. Pode ser, mas eu duvido que ele não vá usar esse material todo para incendiar o vestiário.

Se o Grêmio ainda tivesse um time mais confiável, sem carências importantes na lateral-esquerda, na meia e no ataque, eu ficaria mais tranquilo.

Todo confiante, provocaria: “Não adianta, o Bahia vai perder motivado”.

Mas não é assim.

Por isso, o silêncio de Falcão me incomoda.