Barça e Santiago de Compostela

O Barcelona é o sonho de consumo de todo o torcedor. Quem não gostaria de ver seu time jogando assim: bonito, elegante, impositivo, competitivo, objetivo e, como consequência, vencedor?

Já virou clichê dizer que o Barcelona quando joga dá aula de futebol.

Contra o Santos, que tem um time muito bom, o time catalão voltou a dar a tal aula de futebol.

Eu me lembro daqueles professores de cursinho pré-vestibular. Eles tinham no meu tempo, e acredito que isso ainda persista, facilidade para tornar os temas mais complexos é ásperos em algo agradável, de fácil compreensão. Era a aula-show.

É isso que o Barcelona faz: aula-show.

E é fácil aprender. É muito simples. Não há mistério, nem segredo.

A base de tudo é treinamento, muito treinamento. Muito trabalho. E é aí que a coisa complica, porque se um clube brasileiro quiser seguir os ensinamentos da equipe de Messi, Xavi e cia terá de exigir muito empenho de seus jogadores, muita dedicação, muito trabalho.

Não é fácil reunir um grupo que pegue parelho para trabalhar, trabalhar de verdade.

Depois, outro probleminha: inteligência. É preciso um grupo de jogadores, além de aplicados e determinados, inteligentes.

Há muito tempo venho dizendo que o jogador de futebol brasileiro não é muito inteligente, nem pra jogar bola. De modo geral, são habilidosos e criativos, e isso pode passar a impressão de que são inteligentes.

São raros os jogadores inteligentes, que, aliás, conseguem se destacar muitas vezes mesmo sem algum talento excepcional. Cito como exemplo Fernandão. Muito do sucesso do Inter campeão do mundo se deve a Fernandão, que tinha dois companheiros também muito inteligentes: Nilmar e Iarley. Um trio que aliava qualidade técnica com inteligência.

Douglas é um jogador muito inteligente. Muito. Também tem técnica elevada. Mas precisa sacudir a preguiça do corpo. Ele não entraria nesse time do Barcelona. Nilmar e Iarley, talvez.

Mas antes de começar a contratar jogadores com esse perfil: inteligentes, trabalhadores (profissionais) e com qualidade técnica, é preciso firmar um conceito de futebol.

O Barcelona fez isso há décadas e procura manter um determinado padrão. Nem sempre atinge a (quase) perfeição, como agora.

Na década de 90, com Felipão, o Grêmio manteve por três ou quatro anos um padrão de futebol competitivo, velocidade, força, imposição física e boa técnica. Tivesse planejamento e organização, poderia ter dado continuidade. Para isso, teria sempre de contratar jogadores com determinado perfil. (jogadores inteligentes do Grêmio naquela época vitoriosa e saudosa: Paulo Nunes, Dinho, Adilson, Mauro Galvão, Arce e Roger)

Tivesse usado esse time como modelo e passado isso para as categorias de base da década de 90, hoje o Grêmio teria um time semelhante, em termos de proposta de jogo, aquele organizado por Felipão.

Quer dizer, o Barcelona apontou o caminho, que não é o de Santiago de Compostela, mas que também é longo e com muitos trechos íngremes.

Para chegar ao fim da jornada, é preciso planejamento, organização, conhecimento e esforço.

Ah, claro, esqueci de um detalhe: craques como Messi e Xavi.

Não é simples?

NEYMAR

Neymar saiu frustrado de campo. Derrotado. O guri vitorioso caiu do cavalo pela primeira vez. Mas mostrou-se altivo, sereno. Triste, abatido, mas tranquilo. Nas entrevistas foi humilde e reconheceu a superioridade absurda do adversário.

Neymar é um craque, entraria fácil nesse time do Barça. É inteligente, habilidoso e trabalhador. Craque.

Gostei que ele referiu uma frase do Guardiola: para o Barcelona vencer como agora teve de perder muito antes.

Neymar aparentemente aprendeu uma lição: nem sempre se vence.

E que é também com as derrotas, com as quedas e as desilusões que a gente cresce e molda um caráter.