Planejamento estratégico e o chopp do Arthur

Paulo Moura, sempre um grande companheiro de cervejada no Arthur

A primeira vez que ouvi a expressão ‘planejamento estratégico’ foi eliminando copos de chopp (Brahma) no Bar Arthur, que ficava na avenida Alberto Bins, perto do túnel da Conceição. Lugar pequeno, chopp cremoso, gelado no ponto, salsicha bock com mostarda forte e pão preto.

Naquela noite, há uns oito anos, o Adalberto Preis abusou de repetir ‘planejamento estratégico’. Eu não conseguia entender o ‘estratégico’ sempre enrabichado no ‘planejamento’. A mim sempre foi muito claro que em tudo é preciso planejamento. E para ter planejamento, é fundamental definir aonde se quer chegar e como chegar.

O ‘estratégico’ me parecia um excesso, uma frescura mesmo. Mas saindo do Preis, um sujeito esclarecido, inteligente, tinha toda uma pompa, ainda mais depois de alguns chopps intercalados de steinhager. Fiquei realmente interessado.

Eu, Possas, Peruzzo e Campelo.

Grandes e longos debates foram ali travados, sempre com a presença de dirigentes e conselheiros do Grêmio e do Inter, principalmente do Grêmio. Invadia-se a madrugada naquele tempo sem lei seca e de fumo liberado, o que deixava o ambiente quase insuportável.

O Arthur, que remonta aos anos 50, fechou, mas quem o freqüentou, mesmo na fase final, não esquece. O Anonymos Gourmet coloca o bar entre os dez melhores de sua vida.

Mas vamos voltar a esse texto cometido sem ‘planejamento’, muito menos ‘estratégico’,  mais ou menos como o Grêmio. E aí começo a chegar ao ponto.

Entrei no site do Grêmio e confesso que fiquei surpreso, estupefato, perplexo e atônito, ao deparar com um tópico intitulado Planejamento Estratégico. Não ri porque ando desanimado até para rir. Li com atenção: o negócio existe desde 2003 no clube. Quer dizer, existe no papel, que aceita tudo, mas não de fato, na prática.

Fabrício Falkowski num flagrante raro, sem o copo na mão, ao lado do Possas

Prestem atenção no segundo parágrafo:

“Qual o nosso negócio? Para onde caminhamos, ou seja, no que vamos nos transformar se nada for modificado? O que gostaríamos de ser e alcançar? E o que é preciso fazer para que possamos alcançar as realizações pretendidas?”

Diante de tantos pontos de interrogação, fico com o segundo. Em que vamos nos transformar se nada for modificado?

Eu realmente não sei a resposta exata, mas posso imaginar e isso me preocupa, angustia, revolta.

Em oito anos do tal ‘planejamento estratégico’ eis aonde chegamos: quase no fundo do poço.

E segue o baile, digo, o texto:

“Atento às rápidas modificações do mercado do futebol mundial e à urgente necessidade de modernização de sua estrutura administrativa e gerencial, o Grêmio buscou responder estas e outras perguntas e passou, já a partir do ano de 2003, a trabalhar gradualmente na implementação de um modelo orientado por uma gestão estratégica que priorizasse tanto a profissionalização como o melhor aproveitamento das potencialidades e diferenciais do clube.”

É de rir, e de chorar.

Para finalizar, com fecho de ouro, essas preciosidades:

“NEGÓCIO:

Entretenimento sócio-esportivo focado no futebol.

MISSÃO:

Satisfazer o universo de torcedores e o público aficionado com vitórias e conquistas de títulos.

VISÃO:

Estar no primeiro nível do futebol mundial.”

Entra ano e passa ano, as direções do Grêmio se sucedem, oposição e situação se alternam no poder, e repetem tudo o que criticavam na gestão anterior, mostrando que, no Olímpico, ‘planejamento’ com ou sem o ‘estratégico’ atrelado não passa de uma expressão que se repete à exaustão à mesa de um bar entre um gole e outro de chopp tirado no capricho.