Julinho e Renato: comparações desnecessárias

O pior período para trabalhar na imprensa esportiva (leia-se futebolística) é quando não há jogos da dupla Gre-Nal no meio da semana. Ainda bem que pelo menos um deles joga amanhã, e ainda tem a seleçao hoje.

O pessoal nas redações vai à luta por matérias que preencham espaços na programação de rádio e Tv, nos jornais, na internet. Os colunistas, então, ficam quase desesperados. É um tal de estender assuntos, o que vulgarmente chamamos de encher linguiça.

Todo mundo fica mais criativo, e mais apelativo por vezes.

É o momento de ir atrás de notícias. Se não encontrar, que se esquente e ou se valorize algo que num período normal não mereceria mais que uma nota de rodapé.

É aí que pode aparecer um time do interior, um torneio de juniores ou juvenis, alguma rasgação de seda, uma puxação de saco. Qualquer coisa é válida para preencher aquela página em branco diante do editor.

– Ó, amanhã tem uma página e meia de Grêmio – diz o chefe.

– Bah, não pode ser meia página? Tamos mal de matéria, nem treino tem hoje… – retruca o setorista.

– E a criatividade, e a criatividade? – encerra o chefe.

Lá vão os repórteres. É aí que podem surgir notícias de contratações tiradas da cartola; investigação sobre questões administrativas e financeiras, como boatos sobre atraso salarial, folha de pagamento inchada. É hora de ouvir pessoas da oposição, ampliar a questão da Arena, da reforma do Beira-Rio.

Não fosse o jogo do Inter nesta quinta a situação seria ainda mais terrível. Pelo menos um da dupla joga durante a semana.

É um momento propício a todo tipo de onda. O leitor acha que o repórter está levantando determinado assunto mais cabeludo por ser gremista ou colorado; ou que está enchendo a bola de determinado profissional também por ser gremista ou colorado. Nada disso. É falta de assunto mesmo. Os espaços precisam ser preenchidos.

É nesses períodos que muitas vezes aparecem as melhores reportagens, com os repórteres sendo obrigados a sair do ciclo jogos domingo-quartas-domingos, que inclui comentários antes, durante e depois de cada jogo. Com isso, resta pouco tempo para ir atrás de novas informações.

Tudo isso para escrever sobre o que está acontecendo nesta semana. Prestem atenção. Tem cada matéria forçada!

De repente, por exemplo, a gente percebe que Julinho Camargo é o melhor técnico do planeta. Um gênio que muda o jogo no intervalo (curioso, já li isso sobre tantos técnicos que depois evaporaram). Sem ele, Falcão não é ninguém, é um enganador. E como o Grêmio sobreviveu sem Julinho? O cara é um estrategista, uma inteligência superior a serviço do futebol.

Como é que ninguém da crônica esportiva havia se dado conta disso antes de ele ter seu nome anunciado pelos doutos do futebol gremista como sucessor de Renato?

É um mistério. Será que somos tão incompetentes? Como é que a gente não percebeu tamanho talento aqui tão perto?

 Agora, o que me deixa indignado é que na ânsia de exaltar Julinho, alguns jornalistas estão denegrindo e diminuindo o trabalho de Renato.

Julinho pode ser destacado, mas por que atingir Renato? Por que a comparação?

Na coluna do Zini, na ZH, um tópico me deixou indignado. Nele, o colunista escreve que a direção gremista já notou que Julinho trabalha mais forte que Renato. E “ainda tem método de trabalho bem definido”.

Ora, que eu saiba ninguém trabalha mais forte que o Celso Roth, também um técnico com “método de trabalho bem definido”.

É engraçado que esse tipo de comentário não tenha surgido quando Renato tirou o Grêmio do grupo do rebaixamento e o levou ao topo no Brasileirão passado.

Será que ele trabalhava mais e tinha mais método de trabalho?

Julinho merece todo o apoio, é um sujeito que trabalhou muito para receber essa oportunidade, mas não é justo que queiram diminuir o trabalho de Renato como técnico do Grêmio só para enaltecer seu substituto. Renato não merece e Julinho não precisa disso.

SAIDEIRA

Recebo informação do botequeiro Felipe Neri sobre grave denúncia publicada pelo Wianey. confira:

http://wp.clicrbs.com.br/wianeycarlet/2011/07/11/odone-e-a-torcida-em-rota-de-colisao/?topo=13,1,1,,,2