De novo uma década vermelha

Toca a campainha às 8 e meia desta manhã. Ao longe, ainda detonam alguns foguetes. Moro longe da área de maior tumulto, mas tenho vizinhos que gostam de soltar foguetes, não importa o horário. Foi uma noite mal dormida.

Abro a porta. É um motoboy, de uns 20 anos, todo fardado de Grêmio. Só faltava a chuteira.

– Bah, cara, tu é corajoso, hein?

Ele responde, mais rápido que o Taison fugindo pela esquerda:

– A gente não pode se mixar pra ‘eles’. Só agora, 15 anos depois, ‘eles’ conquistaram um título que a gente já tinha. A gente não pode é se acomodar.

Peguei a encomenda, assinei o recibo e agradeci.

Ele montou na moto, enfiou a cabeça num capacete azul e arrancou.

Não há bem que sempre dura, nem mal que nunca acabe – já diziam os avós.

No futebol não é diferente. Esse motoboy, entristecido, mas altivo em seu gremismo, ainda terá muitas alegrias com o seu clube. O futebol é assim. É como a vida, ciclos que se alternam. Por vezes, bons; outras vezes, nem tanto; e alguns ruins. O problema é que os ruins marcam mais.

Eu sou um sobrevivente da década de 70. Sou curtido, forjado naqueles anos de muito sofrimento para os gremistas. Eu era jovem. A década de 60, de supremacia tricolor, eu acompanhei do Interior, pelo rádio, pelos jornais, recém brotava para a adolescência. Tudo ainda muito distante.

Quando o Inter inaugurou o Beira-Rio e começou sua reação, eu preparava as malas para vir para a cidade grande, deixando Lajeado para trás.

O Inter passou a empilhar títulos regionais justamente nessa fase. Quando desembarquei em Porto Alegre, em 71, o Inter já era bi gaúcho, se encaminhava para o tri. A única alegria nesse período foi ter o gremista Everaldo como titular da maior seleção brasileira de todos os tempos, a maior seleção de futebol de todos os tempos, a de 70. Quem tem, tem, quem não teve, nunca terá.

Apesar de tudo, me associei ao Grêmio, para torcer, curtir suas piscinas e suas gurias.

Depois, vieram os dois campeonatos brasileiros. O Grêmio, em 77, interrompeu a série de títulos gaúchos do rival. Foi muita emoção, a minha primeira grande emoção como torcedor adulto, de arquibancada no sol, na chuva ou no frio. Inesquecível.

Em 79, um balde de água vinda das geleiras da Antártica: o título brasileiro invicto do Inter, o tri. O Grêmio não tinha unzinho sequer.

Não há mal que nunca acabe…

Em 81, o Grêmio conquistou o brasileiro. De novo, muita emoção. No ano seguinte, o vice, numa final roubada para o Flamengo. Eu era repórter da TV Bandeirantes, repórter de campo nas transmissões para todo o país. Vi de perto a garfeada.

Depois, a Libertadores e o Mundial. Nada podia ser maior. O sofrimento dos anos 70 estava plenamente recompensado. A partir daí, foram os colorados que penaram.

Então, quem foi curtido nos anos 70 não se assusta. Hoje, continuo gremista, claro, mas um gremista amenizado pelo tempo e pelo longo trabalho na imprensa esportiva. Foi através desse trabalho que aprendi a admirar e até a gostar do Inter, que me acolheu muito bem como jovem setorista em 1976, como estagiário do extinto Diário de Notícias.

Nos anos que se sucederam consolidei uma convicção: não vale a pena canalizar nossas energias para o futebol.

Ganhou, ótimo, vamos festejar. Perdeu, pena, vamos seguir em frente. Amanhã, pode ser a nossa vez.

O Inter mereceu ser campeão. Sua direção fez a diferença. Errou ao escolher Fossati. Corrigiu o erro a tempo. Reforçou o time a toque de caixa. Resultado: o bicampeonato da Libertadores.

O futebol requer planejamento, mas também improvisação. Requer competência, conhecimento, agilidade. Tudo isso sobra no Inter.

O Inter fez por merecer, assim como o Grêmio no passado. Estão de parabéns os colorados. A cidade amanheceu vermelha. Um dia já foi azul. E se nada for feito no Olímpico, haverá de seguir cor de sangue por muito tempo.

Mas, como ensinou o motoboy fardado de azul, branco e preto que encontrei nesta manhã colorada, é preciso não se encolher, e reagir.

O Grêmio AINDA é muito grande.

SAIDEIRA I

Não tenho qualquer dúvida de que o Grêmio deixou escapar o tri da Libertadores no ano passado por absoluta incompetência de seus dirigentes, em especial dos dois que comandavam o futebol, mas também do presidente, que parece nada ter aprendido com lideranças que conheceu de muito perto, como Rudy Petry, Olmedo, Hélio Dourado, Fábio Koff, etc.

SAIDEIRA II

Dias desses, um botequeiro lembrou de uma previsão do astrólogo Bruno Vasconcelos, feita se não me engano em dezembro de 2003, no Correio do Povo. Bruno, de quem acabei ficando amigo depois de muito tempo fazendo previsões a cada final de ano sobre a dupla gre-nal, previu que o Inter passaria a viver um período semelhante ao da década de 70, acumulando conquistas.

Bruno morreu faz três anos. Depois de sua morte, em respeito à sua memória e chateado com o deboche de ouvia de colegas (uns poucos, mas irritantes) sobre esse meu trabalho, desisti de publicar previsões astrológicas nas páginas do CP.

Complô vermelho para evitar a festa antecipada

Enquanto aqui há um esforço concentrado para evitar o ‘já ganhou’, a imprensa do resto do País é transparente, não mocoseia a realidade, ou seja, o Inter já é bi da Libertadores, igualando-se ao Grêmio e, a continuar nesse ritmo, se preparando para superar o glorioso tricolor de tantas conquistas num passado cada vez mais distante.

O site do Estadão estampa: O Inter pronto para a festa do Bi.

Não poderia ser mais correto e honesto esse título. Afinal, o Chivas não tem a menor condição de impedir nova derrota.

Há um ufanismo contido em todos os setores colorados, começa pela direção, passa pela torcida e invade a imprensa, que se torna cúmplice, ou parceira, como queiram, dessa tentativa de mascarar os fatos. Um complô vermelho.

O site do Correio do Povo destaca uma frase do presidente Piffero: “Estamos prontos para sofrer”.

Esta é uma noite em que não haverá sofrimento, nem de colorados nem de gremistas, porque todos sabem o final.

Se bem que sempre haverá quem sofra. Por exemplo, quem não sofre com o foguetório?

Eu, que nunca soltei um foguete, no máximo brinquei com rojões quando guri nas ruas de Lajeado, quero distância. Mas sei que da barulheira não vou escapar.

Aliás, já comecei mal o dia. Acho que ali pelas sete da matina um vizinho desvairado inventou de soltar foguetes. Foram uns dois ou três minutos. Parecia uma eternidade. Era um colorado festejando o título por antecipação, já que claramente ele queria saudar o início do dia histórico.

Depois, peguei engarrafamento acima do normal para chegar ao meu trabalho. A impressão que tive é que os colorados já seguiam para o Beira-Rio às 9 da manhã.

Eu, que pensava em buscar a segunda via do título de eleitor (inventaram que é preciso apresentar o título, não apenas a carteira de identidade como tenho feito à décadas), desisti. A Junta Eleitoral fica na Padre Cacique, próximo ao Beira-Rio. Deve estar um inferno aquela área da cidade. Um inferno que deve se alastrar gradativamente ao longo do dia.

Acho que na hora do jogo vou tomar um negócio para dormir, algo forte como o que tomou meu amigo Chico Izidro, do CP, quando o Inter disputou o Mundial com o Barcelona. Ele se apagou.

Para o Chicão, que nunca frequenta este boteco (o que até é bom porque ele terminaria com o estoque etílico), o Inter continua sem ser campeão do mundo. Tudo não passa de um delírio colorado, de um longo pesadelo que promete ser interminável.

Tempos difíceis

É elogiável esse esforço da direção colorada para esquentar o jogo contra o Chivas, que na realidade não tem a menor condição de evitar uma derrota, que tudo indica será até por goleada.

Blindagem de jogadores, proibição de tecer qualquer comentário sobre o ‘poderoso’ time mexicano, trabalho para evitar o clima de euforia até entre os torcedores, o que é impossível. Nada de oba-oba.

Agora, nada acalma a mídia colorada, em êxtase neste momento de glória. O pessoal não se contém, soltou a franga geral. Não duvido que alguns deles sejam vistos na Goethe depois do jogo de amanhã. Bem, até aí nada demais, porque fosse o Grêmio na decisão da Libertadores e com uma papinha pela frente a euforia seria igual.

O título é tão inevitável quando a vitória da Dilma, do Tarso, da mãe do Badanha, etc.

Dias atrás previ, com base na minha traiçoeira bola de cristal, que o Inter será campeão da Libertadores, do Mundial e do Brasileirão.

Sábado, ao assistir, casualmente, a parte do jogo da Inter contra o Milan (Ronaldinho se arrastando e perdendo pênalti), afastei qualquer dúvida: o Inter gaúcho, se conseguir manter o time atual, vence a Inter italiana.

Enquanto isso, o Grêmio vai atrás de jogadores sem maior expressão, novas apostas do cassino tricolor.

Gabriel, o filho do Vladimir, pode ser uma solução para a direita, sem dúvida. Mas não sei como ele está.

Agora, esse Wilson, do Vitória é uma aposta. acho que seria mais sensato apostar no Saimon e outros da base.

Tem esse lateral, o Gilson, do Paraná. Parece que o Felipão o havia indicado para o Palmeiras. Se isso fosse verdade, não conversa de empresário, acho que ele teria ido para São Paulo. É outra aposta.

Agora, não dá nem pra condenar as indicações do Renato. O dinheiro todo e mais um pouco foi gasto com as indicações do Silas sob a batuta do sr. Meira, que deixou um legado difícil de ser administrado.

O fato é que Renato já constatou que as laterais estão desprovidas de talento, coisa que a maioria da torcida já havia percebido.

Bem, são tempos difíceis, muito difíceis.

A recuperação gremista e as injustiças no futebol

No tópico anterior escrevi que o melhor que poderia ter ocorrido para o Grêmio, neste momento, foi a eliminação da Sul-Americana. Assim como o Goiás, que vai cair logo adiante, o Grêmio também não iria longe e ainda comprometeria a trajetória no Brasileiro.

Com foco na luta para sair da zona de rebaixamento, o time armado por Renato Portaluppi não foi nenhuma maravilha, mas ao menos estava mais arrumado, mais brigador, mais concentrado. O resultado foi uma vitória por 2 a 0, sem maiores sobressaltos, tanto que Victor praticamente não trabalhou.

Willian Magrão, autor de gols, poderia ter feito ao menos mais um. O Goiás escapou de levar uns 3 ou 4 a 0, sem exagero.

E pensar que estavam colocando o Magrão de zagueiro, deixando de explorar o maior potencial desse jogador, que é a chegada forte ao ataque.

Os maiores problemas do time foram os laterais. Ambos são irregulares.

Ferdinando é um volante razoável, um bom reserva, nada mais do que isso.

Neuton foi o grande destaque do time. Gostei também do Douglas, mais comprometido com a partida, e do Jonas.

Não sei exatamente o que começa primeiro: as individualidades prejudicam o coletivo; ou se o coletivo mal ajustado é que prejudica as individualidades. As duas opções estão corretas, a meu ver.

É muito perigoso julgar jogadores em meio ao caos técnico e tático de um time, como estava ocorrendo com Silas. Neuton, por exemplo, começava a se transformar num perna de pau para muitos torcedores. E aí, num time mais organizado, ele ressurge com força, qualidade e ousadia.

Neuton pode jogar tanto de zagueiro pela esquerda como de lateral.

Ainda é cedo, mas já se vislumbra uma equipe de futebol no Olímpico.

Falam em contratações. Antes de buscar medalhão decadente e jogador mediano, melhor investir firme na base.

SAIDEIRA

É impressionante o clima de decisão que tentam armar para o jogo contra o Chivas. O time mexicano já está liquidado. O mesmo time que perdeu para o Fluminense por 3 a 0, com mais uns três reforços, ganha do Chivas no Beira-Rio lotado.

Aí vem o Guinazu dizer que só fica fora se cortarem a sua perna. Vai fazer média com a torcida assim…

O Tinga faz tratamento intensivo para não ficar de fora. Só se for para participar da festa, entrar na fotografia do time campeão da Libertadores, título, aliás, do qual ele não participou. Pelo contrário, quase comprometeu ao ser expulso no Morumbi.

Na verdade, o lugar na foto deve ser do Giuliano, não do Tinga.

O que dizer, então, do Renan? Muito mais direito tem o Abondanzieri de aparecer na foto de campeão. O argentino merece até por seu comportamento profissional, sofrendo calado a injustiça de ter sido descartado na hora do filé.

O castigo vem a galope, se diz na campanha.

Agora, concentração total no Brasileirão

No jogo de 180 minutos, o Goiás foi melhor. Não muito, mas foi superior. No primeiro tempo de ontem, então, foi muito melhor. No segundo tempo, o Grêmio reagiu e até mereceu o empate. Por isso, os 2 a0 no final tiveram o sabor amargo de castigo.

Agora, cruel mesmo foi anular o gol legítimo do André Lima. O juiz correu para o centro do campo, o bandeirinha também. De repente, surpresa!, gol anulado. André, supostamente, estaria em impedimento. Não é verdade. Por que o juiz não foi pelo seu auxiliar, que validou o lance? Por que demorou para voltar atrás? por que voltou atrás? Será que no caminho para o centro do campo ele lembrou que tinha algum tipo de compromisso com o Goiás? Não, claro que não, os juizes são honestos.

A gente viu na Copa do Mundo o quanto os juizes são honestos.

O erro do juiz não invalida, porém, a constatação de que o técnico Renato terá que trabalhar muito para acertar esse time. Ele até que surpreendeu ao transfigurar o time no intervalo. O Grêmio voltou muito melhor e realmente merecia um resultado melhor por esses 45 minutos, marcados principalmente pela vontade e pelo empenho dos jogadores, com raros fragmentos de lucidez.

Agora, Renato errou ao sacar Maylson e depois Souza. Souza estava bem no jogo naquele momento. O que poderia fazer Roberson, que o substituiu? Nada, como de fato aconteceu. Com a saída de Souza (se estava cansado, ainda assim jogava bem), o Grêmio que controlava o meio de campo, perdeu o domínio e passou a apelar para chutões, sem trabalhar a bola. Antes, Renato havia tirado Douglas, outro articulador.

Em síntese, Renato acertou o time no intervalo. Depois, mexeu mal.

A favor do novo treinador o fato de que recém começa a conhecer o time. Seria injusto exigir muito dele na estreia.

Se Renato não conhece bem o time, eu estou em outra situação. Por isso, afirmo que o melhor para o Grêmio, neste momento, foi ser eliminado da Sul-Americana.

O Grêmio mal e mal tem um time para fazer uma campanha mediana no Brasileirão. Se Renato fizer um milagre, até brigar por vaga na Libertadores de 2001.

Agora, com duas competições paralelas, aconteceria o seguinte: não seria campeão da Sul-Americana, porque não tem time para tanto; e aumentaria substancialmente as chances de rebaixamento.

Com a derrota, o Grêmio poderá concentrar suas energias no Brasileirão, para escapar do rebaixamento e quem sabe, com sorte, que anda faltando, ainda disputar vaga na Libertadores.

Sinceramente, foi melhor assim. Este Grêmio desta diretoria que desconhece o significado de palavras como planejamento e competência precisa se limitar ao feijão com arroz e ainda lamber os beiços.

O 'melhor presidente deste país do nunca antes' e a festa para Renato

Tempos atrás consultei minha bola de cristal – um pouco danificada depois que a joguei no chão pela trigésima vez por me induzir a fazer algumas previsões erradas – e ela revelou que o Inter será campeão da Libertadores, campeão do Mundial e, de quebra, do Brasileirão.

Então, já aluguei um filme para passar a noite: O exterminador do futuro. Este filme me lembra o governo a atual direção do Grêmio. Me faz lembrar, ainda mais, do governo Lulla, que, aliás, é cada vez mais merecedor dos dois ‘éles’, numa referência ao Collor (é sempre bom citar isso porque tem muita gente nova que não conhece bem alguns detalhes da nossa trágica história recente).

Estava aqui viajando na internet quando deparo com a seguinte notícia (vou dar só a manchete, porque não consigo parar de rir):

“Lulla é o melhor presidente que o Brasil já teve”.

Adivinhe de quem é a frase? Collor, claro.

Só não rio mais, porque na verdade tudo isso é muito triste.

Então, resolvo cantar para espantar a tristeza. Não dizem que quem canta os males espanta (o que eu tenho cantado ultimamente não é brincadeira!).

Tem uns versos, primorosos (nem o Valdick Soriano faria igual), que não me saem da cabeça:

“É Lula apoiando Collor, e Collor apoiando Dilma pelos mais carentes… e os três para o bem da gente”.

Lindo, não? Já escrevi aqui esses versos do jingle do Collor na campanha pra governador de Alagoas (pobre Estado), mas como eles não saem da minha cabeça, eu fico aqui repetindo, repetindo…

Agora, o pior de tudo: a Justiça Eleitoral (gente mais estraga prazeres) proibiu o jingle na campanha.

Pô, estava tão divertido. Sempre que eu canto essa musiquinha fico imaginando os três de mãos dadas, sorridentes no palanque.

É uma imagem belíssima, não?

Agora, imagem realmente bela, e aí sem ironia provocativa a certos indivíduos que insistem em frequentar este boteco, será a que veremos nesta quinta-feira no Olímpico.

Mais de 40 mil gremistas saudando a volta do seu ídolo maior.

Gostaria que esse retorno fosse num momento melhor, num início de temporada, por exemplo, mas o negócio agora é torcer para que Renato Portaluppi tenha como treinador do Grêmio o mesmo sucesso que teve como jogador.

O caminho para isso acontecer começou a ser aplainado com a retirada do vestiário de um jogador que estaria mais criando problema do que ajudando. Com a cabeça no lugar, Rodrigo é um ótimo zagueiro.

Vamos ver se a arejada no vestiário continua, porque tem mais gente precisando respirar outros ares.

Agora é com Renato

Texto publicado no site do Bahia agora à tarde:

Em encontro na tarde desta terça-feira, com o Presidente Marcelo Guimarães Filho e o Gestor de Futebol Paulo Angioni, o técnico Renato Gaúcho confirmou sua saída do Esporte Clube Bahia.
O treinador vai se transferir para o Grêmio e hoje à noite comandará o Bahia pela última vez, diante do Paraná.
Após a partida, o técnico Renato Gaúcho concederá entrevista coletiva sobre a partida e tratará da sua saída do clube.

Então, contrariando minha previsão, Renato Portaluppi aceitou a proposta do Grêmio e vai mesmo assumir o timão da nau desgovernada.

Não será por falta de energia positiva que ele dará certo.

É grande o entusiasmo da nação gremista. É o pensamento mágico.

Dicas para contratar o técnico certo desta vez

Antes de contratar um treinador, a direção deve ter muito claro o tipo de futebol que quer, o esquema de jogo, três zagueiros, dois zagueiros, meio-campo com dois volantes, dois meias, ou três volantes, e um meia. Quem sabe apenas um atacante de ofício? E por aí vai.

Para isso, precisa considerar também a tradição, a história do clube, sua torcida.

O presidente Duda afirmou depois do jogo contra o Flu que perfil de treinador é bobagem, é preciso ver o mercado e avaliar entre os disponíveis, e fazer a contratação. Tal afirmação explica em parte tudo o que acontece no Olímpico desde o ano passado.

Depois de escolher uns nomes, o dirigente deve conversar com cada um deles e dizer o que o clube espera dele, o técnico. Pode ser coisa rápida, tipo:

– Vc sabe a diferença entre o Avaí e o Grêmio?

Depois, se a resposta for convincente, expor que quer o seu time jogando no 4-4-2, com dois laterais que marquem e apoiem com qualidade e velocidade;
dois zagueiros de boa impulsão, autoridade, imposição física e velocidade;
no meio-campo, um volante mais posicionado, de boa técnica para não viver só de dar porrada, ágil, atento, obstinado e feroz como um pitbull esfomeado; mais dois volantes, que marquem de verdade, mas que saiam para o ataque rapida e decididamente, buscando o gol; mais à frente, um meia habilidoso, mas também aplicado taticamente, de preferência com bom chute, assim como os dois volantes.
Na frente, dois atacantes rápidos, ao menos um deles muito habilidoso, o outro deve ter um porte mais avantajado para o confronto com a sanguinária zaga inimiga.

E por aí vai, com alterações aqui e ali, mas sem perder o rumo de que é preciso antes de qualquer coisa um time com raça, determinação, incansável na busca da vitória, irresignado diante de eventuais adversidades, indignado.

Qualquer semelhança com o velho Grêmio não é mera coincidência.

É isso: o Grêmio precisa de um treinador que devolva sua identidade, perdida desde que Paulo Autuori assumiu.

Renato Portaluppi será esse nome? A direção gremista conversou com ele, ficou convencidade de que ele pode colocar o time de volta ao seu lugar.? Ou é apenas um pensamento mágico, um lance de marketing, um ato de desespero?

Se a direção realmente acreditasse em Renato, por que ele não foi contratado no ano passado no lugar do Silas. Ou, melhor ainda, quando Roth foi demitido em plena Libertadores?

E se Renato não vier, o que é provável? Eu, fosse ele, um ídolo, não viria neste momento pra não me queimar.

Só me chamam na hora difícil? Chego aí e tenho que trabalhar com os jogadores indicados e/ou aceitos pelo técnico anterior?

Eu, se fosse Renato, não viria. Renato não é bobo, não vai embarcar nessa nau desgovernada.

Mas se Renato vier, não duvido que dê conta do recado, porque é um bom treinador, já provou isso, apesar de opiniões em contrário, algumas sem qualquer fundamento.

A última chance de Duda

Escrevo quando torcedores gritam fora Duda, fora Meira, e atacam os ex-dirigentes Fábio Koff e Cacalo por terem influenciado decisivamente para a eleição da diretoria atual.

Os dois gostam muito de dar pitaco na gestão, mas na hora de trabalhar, arregaçar as mangas para ajudar o seu ungido são mais escorregadios que muçum ensaboado.

A derrota por 2 a 1 para o Fluminense está dentro da normalidade. Antes imbatível no Olímpico, o Grêmio virou saco de pancadas desde que perdeu para o poderoso Pelotas no Gauchão. Técnico? Silas.

Desde então, o Grêmio que não ganhava fora, passou a perder também em sua casa.

Desde maio estou convencido de que Silas não é treinador para o Grêmio. Defendi sua contratação, e fiquei ao seu lado nos momentos iniciais, quando já era criticado, por entender que ele estava começando e precisava de tempo.

A eliminação da Copa do Brasil deveria marcar a demissão de Silas. Na verdade, ele deveria ter saído antes. Com um treinador mais experiente, o Grêmio não teria levado três gols do Santos no Olímpico, o que acabou determinando sua eliminação logo em seguida, na Vila Belmiro.

A partir daí, a direção tricolor colocou em risco a campanha no Brasileiro ao manter Silas. Seria o momento, também, de trocar o comando do futebol. O tempo passou e a situação só ficou ainda mais grave.

Neste momento, 18h30, o presidente Duda dá entrevista coletiva. Anuncia que ‘libera’ Meira e Duda devido à situação atual.

Há boatos de que Renato Moreira assumirá o futebol. Duda, porém, diz que o assessor de Meira, Guerra, assume o posto interinamente. Sobre Renato, Duda diz que não existe nada de concreto.

Outro boato dá conta que Tite será o treinador. Sou a favor. Mas não acredito porque haveria uma questão mal resolvida entre Tite e Paulo Paixão.

Minha sugestão, se não puder ser Tite, é Dunga. É o tipo do profissional que assumiria rapidamente o controle do vestiário, que é talvez o maior problema hoje do clube.

Mas existem outros nomes: Paulo Bonamigo, por exemplo. Talvez fosse o caso de conversar com Geninho.

O importante é que seja um treinador que goste de armar um time que privilegie a marcação forte no meio de campo, fundamental no futebol de hoje. Nesse time, portanto, não pode jogar com dois meias que não marcam, porque não querem ou porque não sabem.

O melhor momento do Grêmio foi com Adilson, Willian Magrão e Maylson, com Douglas mais liberado. Silas abriu mão disso. Ele gosta de jogar com dois meias. A própria direção investiu em jogadores para a meia, sinalizando sua preferência, ou por falta de conhecimento mesmo.

Terminou o ciclo de Silas e a era Meira, um dirigente que deu contribuição ao clube, mas que chegou ao seu limite, conforme já havia escrito anteriormente.

SAIDEIRA

Silas disse que não foi contatado pelo São Paulo, desmentindo notícia nesse sentido. O problema é que usou como argumento a palavra ética. O SP tem ética, não entraria em contato com um técnico com contrato em vigor com outro clube, disse ele. Ora, logo o SP, que se atravessa em tudo que é negócio?

QUESTÃO DE ORDEM

Em seu último jogo, Silas deu uma oportunidade de verdade para o garoto Roberson. Mas foi preciso não ter ninguém mais para colocar, a exemplo do que ocorreu com Neuton. Roberson entrou e mostrou que tem condições de disputar um lugar no time, ou ao menos ser melhor aproveitado.

No mais, Silas já vai tarde. Assim como Meira.

Eles saem deixando uma terra arrasada. Havia um time ajustado até maio.Lembro que fui atacado aqui por sugerir a demissão de Silas e a saída do Meira três meses atrás.

A realidade é que no oitavo mês do ano ninguém mais sabe qual o esquema do time e qual a escalação ideal. Jogadores incontestáveis passaram a ser questionados. As individualidades mais luminosas se apagaram, consequencia do trabalho que agora chegou ao fim, ainda há tempo de evitar a queda para a segunda divisão.

Resta agora torcer para que o presidente Duda acerte na escolha dos nomes que irão assumir neste momento de tanta dificuldade.

Duda não pode errar.

O que Duda decidir agora vai determinar a maneira como ele entrará para a história do clube que ama.

É a última chance de Duda.

Grêmio precisa de um mestre, não de um aprendiz

Quando o Grêmio foi campeão gaúcho escrevi que seria seu único título na temporada. Foi no dia 2 de maio. Ali eu já havia concluído que Silas é um treinador que não sabe por que ganha, nem por que perde.

Talvez um dia aprenda, porque é novo na profissão, um noviço, um aprendiz. E não vai nisso nenhuma ofensa. Quem já não foi iniciante?

É com experiências, vivências, que se assimilam lições. Uns mais rapidamente que outros. Alguns talvez pouco aprendam ao longo da vida. Mas sempre vai se juntando alguma coisa.

‘Vivendo e aprendendo a jogar’, cantava Elis.

O problema é que o Grêmio não pode esperar que Silas aprenda. O Olímpico não pode servir de escolinha do professor Raimundo, aquela do Chico Anísio.

O Grêmio precisa de um mestre, não de um aprendiz. E precisa de uma direção mais firme, mais forte, com um discurso mais veemente, com ações mais incisivas.
Se eu, em maio, já antevia que o time sob o comando de Silas havia chegado ao seu limite, como é que gente experiente como o Meira e o Duda, que sabem tanto ou mais de futebol que eu, não se deram conta de que ali já era o momento de mudar?

Por que esperar a descida da ladeira, quando pode ser tarde demais. Aliás, só não é tarde para evitar o rebaixamento.

No Inter, Fossati foi demitido mesmo tendo colocado o Inter na semifinal da Libertadores, eliminando dois clubes argentinos. Fernando Carvalho teve sensibilidade para perceber que o time com Fossati havia chegado ao seu limite.

FC agiu. A dupla Duda/Meira se omite, olha pro lado, assobia, enquanto a nau tricolor avança em direção a um iceberg, ao abismo.

Nas arquibancadas, os colorados não suportavam mais o técnico uruguaio. O mesmo acontece com os gremistas em relação a Silas. E isso há muito tempo.

A grande questão, agora, véspera do jogo contra o Fluminense que pode marcar o fim do ciclo de Silas, é se adianta mudar só o treinador.

O ideal, a meu ver, seria mudar também o comando do futebol. Tem gente boa para ocupar o cargo nesse grupo que dá sustentação ao Duda. Meira já prestou relevantes serviços ao Grêmio, mas chegou ao seu limite.

Todos nós em algum momento chegamos ou chegaremos ao nosso limite.

Meira daria mais uma grande prova de amor autêntico e desinteressado ao Grêmio se renunciasse. Nada pessoal.